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Cipó, o retorno

A última vez que estive na Serra do Cipó (MG) foi em abril de 2013. Naquela ocasião, fomos Felipera (Felipe Alves), Afeto e eu num carro, mais o Dunada e o Chuck Nóia numa dupla à parte.

Desde então, nunca mais voltei ao Cipó. As razões foram as mais variadas: motivação, metas, foco… O fato é que nos últimos anos direcionei parte da minha motivação para escalada tradicional, com isso as minhas trips foram basicamente para fazer ou conquistar “parede”.

Esse ano, a meta é tentar conciliar as duas modalidades e tirar o máximo de proveito dessa integração; e parte do plano era voltar novamente ao Cipó. Depois de 2013, a galera que voltava de lá sempre falava do “novo Cipó”, se referindo aos novos setores e vias de escalada que estavam em pleno desenvolvimento na região. Esse “novo Cipó” sempre aguçou a minha curiosidade e esse ano botei como meta dar um pulinho lá para provar a “nova safra”.

Saímos de Vitória na 6a feira, feriado de Tiradentes, Felipera, Rebit e eu rumo ao Cipó. De Vitória até a Serra do Cipó são aproximadamente 570km, o que dá umas 10h de carro. Infelizmente a rodovia BR-262 é uma das piores rodovias do Brasil, deixando a viagem cansativa e demorada.

Chegamos no Cipó no final do dia de 6a feira e nos acomodamos confortavelmente na Pousada Flor de Cipó, bem no caminho para o G3.

Preparando os equipos para mais um dia de escalada.
Guia na mão e partiu escalada!

Vale Zen

No sábado, a meta foi conhecer um setor que a três anos atrás só passei com o Felipe “aguando” pela base das vias, porque a pedra também estava “aguando”… Assim, fomos direto ao Vale Zen para conhecer no “novo Cipó”.
Com o guia de escalada na mão e uma lista de vias que compilei do 8a.nu, iniciamos os trabalhos aquecendo nas vias “Avenida Brasil” (6c) e “Flash Black” (7a). Duas vias muito legais para relembrar um pouco a textura e as agarras características do Cipó. Em seguida, o Rebitera foi seduzido pelo belo arco que separa o setor Zen do Thundercat e foi literalmente peleado pela via “Arco Peleado”… Eu, menos pretensioso, entrei numa via chamada “Opinião Pública” um 8b “à bloc” que estava na minha lista. Como ainda estava desacostumado com a pedra entrei mal e a cadena ficou para o “2nd go”…

Rebit aquecendo na via “Avenida Brasil”.

O Felipera mirou um 8c do lado e entrou “a muerte”, mas como ainda estávamos no início da temporada, não havia nenhuma marca de magnésio que pudesse facilitar o à vista e a cadena dele ficou para o “terceiro giro”.

Como eu vi o Felipe fazendo força demais nessa via, espertamente fui procurar outro 8c na minha listinha e cai na “Nirvana”, via do Belisário e da Mama! A minha via também estava “desmagnesiada” e o à vista ficou aquém do esperado… E a cadena para o “segundo giro”. Não preciso nem falar que essa via é muito boa! Com certeza uma das melhores do setor, vale demais a entrada!

Felipe na cadena de um 8c no setor Vale Zen.
Mestre do Cipó!

No final do dia, o Rebit ainda encarou a via “Gigante pela própria natureza” um 7a com um final bem apimentado. Foi engraçado de ver.

Vila de Cipó.
Uma mistura de cachorro, ovelha e rodo.
Uma árvore tão grande que foi preciso juntar 3 fotos!

PCC

A noite, após quase 40 dias de seca, finalmente choveu um pouco na região! Bom para todo mundo, ruim para nós… Eu só sei que fui dormir ao som da chuva e acordei no dia seguinte com o tempo bem fechado.

Tomamos um delicioso café da manhã servido pela proprietária da pousada, a Fernanda e quando colocamos a mochila nas costas, mais chuva!

Esperamos mais um pouco e quando a chuva deu uma trégua fomos voando para o setor PCC, que também faz parte do “novo Cipó”.

Tirando a caminhada que foi um pouco tensa por causa das pedras molhadas, chegamos sequinhos no setor.
Para abrir os trabalhos entrei na via “Só Rino” (6c) uma das poucas vias mais fáceis do setor. Assim que desci e o Rebit entrou na via, a chuva voltou novamente. E depois disso, o tempo virou para melhor e o tempo deu uma boa limpada pelo resto do dia.

Meio-morno, Rebit e eu entramos na “Escadinha”, um 8a “ao nosso estilo”, por isso tiramos ela sem grandes dificuldades. Depois partimos para o “créme de la créme” do setor, a via Pablo Escobar, um 8b “desplomado” de pura continuidade com um pequeno “passo” mais blocado. Por sorte, encontramos a via toda equipada. Obrigado Rê! Ai ficou fácil, ou quase, pois tivemos que dar 2 entradas para manda-la.

Felipe no começo da via “Pablo Escobar” (8b).
Rebit trabalhando a mesma via.
Vai um lanche?
Eu no crux da “Escadinha”. Foto: Felipe Alves.

Por volta das 15h, já bem cansados após 2 dias de escalada, resolvemos testar a nossa tenacidade numa via mais dura, a mais dura da trip: PCC (9a), a via que dá nome ao setor. Mais uma vez, encontramos a via bem limpa sem muita marca de magnésio. Somente na parte do crux havia bastante magnésio e pela quantidade estava claro que a peleia seria boa. O Felipera entrou na via, tirou as passadas e na 2a volta despachou a via, fechando a trip com chave-de-ouro. Eu entrei na via e tive que “macetear” muito bem o crux, pois pelo método “Felipe” não teria a menor chance.

Assim que o Felipe mandou a via, aquele cenário clássico estava montado. Final de trip, todo mundo cansado, “porteira aberta”, o dia escurecendo… Tipo, só estava faltando eu escalar para ir embora… Mas escalada é assim mesmo, pressão constante! Escala melhor quem administra bem isso. Tentei eliminar a pressão e entrei bem tranquilo na via. No movimento crux faltou um detalhe que não tinha dado conta antes e não consegui dominar uma agarra-chave e queda! Desci tranquilamente e assimilei aquilo como um reaquecimento para tentar novamente. Sem me desencordar, entrei novamente e dessa vez acertei o pé e passei o crux. Assim que costurei a chapa depois do crux, olhei para cima e pensei comigo mesmo: escala! E não pára! Pois os próximos passos eram de pura remada até um descanso com a perna entalada. Escalei rápido, mas sem afobar e sem muito “lero-lero”! Naturalmente cheguei no descanso bem cansado. Esses descansos são sempre iguais. A gente pode dividir os descansos em três atos: no primeiro ato, a gente chega desesperado (às vezes) com a respiração e o batimento cardíaco acelerados. Nos primeiros segundos parece que o descanso está mais para “canso”, mas aos poucos a gente vai restabelecendo a calma. No segundo ato, a gente tenta se concentrar na respiração e melhorar a percepção do corpo. Depois, gosto de dar uma curtida na paisagem do entorno para dispersar um pouco. E só então, volto para via e faço a leitura do trecho final. O terceiro ato é a saída. É aquela hora que você decide sair do descanso e voltar à luta. Para mim, tão importante quanto o descanso é a saída, pois uma saída mal sucedida pode comprometer todo o descanso. Como eu sabia que o trecho final era relativamente fácil, apenas foquei em fazer tudo certo sem cometer nenhum erro. Mas ainda assim, a via tinha um porém! No trecho final, antes de juntar com a via “Escadinha”, há uma travessia estranha que o Felipe resolveu com uma cruzada de mão mais agressiva, que para mim estava fora de cogitação. Eu não estava certo de que teria essa força no final para dar o cruzadão, então ensaiei uma movimentação alternativa usando umas agarras que ninguém usa e isso me deixou um pouco apreensivo. Assim que cheguei na travessia me dei conta de que era uma escalada “a la Calogi”, umas blocadas curtas em agarras meia-boca. Nessa hora minha apreensão foi embora e deu lugar a confiança, pois sabia que eu estava em casa. Dito e feito, a travessia fluiu naturalmente e bingo! Cadena. Pronto, agora podemos ir embora!

Felipe na via PCC (9a).
Encerrando o 2o dia!

G3

No dia seguinte, 2a feira, feriado em Vitória, o Rebit quis ir até o G3 tentar a via Especialidade da Casa (8b) antes de pegar a estrada. A via Especialidade da Casa é uma via que parece fácil, mas não é. Parece que a gente vai mandar, mas na hora H ela expulsa a gente. Talvez “a especialidade da casa” seja tirar biscoito da criança. E não deu outra! Após três entradas ao melhor estilo “Rebit”, a criança ficou sem o doce e fomos embora de mãos abanando…

Rebit trabalhando a via “Especialidade da Casa” (8b), G3.
Escalador na via “Dilúvio” (?).
Preserve!

Cipó sempre será o Cipó, nunca irá perder a sua majestade e a incrível capacidade de colocar o escalador no seu devido lugar, mas mesmo assim, chegamos felizes e saímos mais felizes de lá. Valeu demais galera!

As cores do Cipó!
Foto para posteridade!

Comentários

3 respostas em “Cipó, o retorno”

[…] Duas semanas atrás fui para o Cipó com os comparsas mais fanáticos da esportiva capixaba (Rebit e Felipe). Trip irada, muita escalada e muitas cadenas. Na semana passada fui para Pedra Riscada com a galera da escalada tradicional capixaba (Zé, Amaral e Eric) e fizemos a via Moonwalker (1010m) em 16h entre escalada e descida! Um aproveitamento acima do esperado. […]

iuuuuu….irado demais Japa, sempre bom escalar com a motivação em pessoa. Valeu pela vibe de sempre!!

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