Calogi – sob o sol de inverno

^ Calogi.

A Pedra de Itapocuçu que erroneamente chamamos de Calogi é a principal área de escalada esportiva do Espírito Santo com mais de 50 vias. Embora a pedra seja enorme, a grande maioria das vias ficam num “pequeno totem” de uns 60m de altura que represente menos de a metade da pedra. O resto do Calogi é praticamente sem via, salvo algumas vias tradicionais. Além do totem principal, há ainda um totem secundário, que na verdade é o totem mais proeminente que fica bem no meio da pedra.

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Calogi! À esquerda o totem principal e à direita o totem secundário, o primo feio… Mas nem tanto!

Pela qualidade da rocha, nesse totem há apenas uma via, aberta pelo Zé, Sandro e Afeto que transcorre pela chaminé da esquerda e leva até o cume do mesmo. No mais, não tem mais nada. Em parte, isso se deve, talvez a verticalidade deste totem que impõe um pouco de medo e também, provavelmente, a grande popularidade do totem principal.

Mas aquele totem sempre chamou a minha atenção, principalmente pela verticalidade. Isso sem contar o “headwall” negativo. Sempre imaginava uma linha que pudesse passar por aquele granito laranja a 90m do chão. Mas mesmo assim, o totem ficou adormecido em meio a infinidade de outras “pedras na manga”, até o último domingo!

Após planos, missões abortadas e desculpas esfarrapadas, Gillan e eu decidimos abrir uma via bem no meio do totem secundário de Calogi. E como o Gillan, após 2 meses off por causa da faculdade queria fazer uma volta triunfal, nada como encarar a verticalidade de Calogi.

Na minha santa ingenuidade, a via seria fácil e tranquila. Achei que iríamos abrir a via num dia e no mesmo dia ainda iríamos libera-la. Sabe de nada inocente… Só porque a pedra tem uns 120m não quer dizer que vai ser fácil. Calogi é Calogi, independente de esportiva ou tradicional.

Fomos bem belos da vida a Calogi cedo da manhã. Às 7h da manhã já estávamos na trilha, pois sabíamos que iríamos fritar ao sol, então tentamos aproveitar ao máximo o frescor da manhã.

Achar a base da via foi fácil, pois além de já estar familiarizado com o local, já tinha namorada essa linha várias vezes. Comecei os trabalhos assumindo o “sharp end”. A primeira enfiada até que saiu rápido, graças à boas opções em móvel. Deu um certo trabalho vencer a escalada tropical, mas nada que comprometa a qualidade da escalada.

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O dia promete, promete sol, que promete calor…

Toquei a 2a enfiada por um trecho já bem vertical desviando as bromélias e procurando a melhor linha de agarras quase que num balé para achar  a passagem. Após uns 15m cheguei num platô totalmente exausto. A dificuldade da escalada aliada ao calor que a essa altura estava sufocante me obrigou a fazer uma parada estratégica. Aproveitei uma fenda perfeita num platô descaído para fazer uma parada móvel e chamar o Gillan. Assim descansava um pouco e ainda por cima passaria a ponta para ele!

O Gillan assumiu a ponta quente e logo bateu a 1a chapa no início de um trecho vertical. Procurou, procurou mas não achou uma saída e se entregou ao calor e a dificuldade. Como estávamos em uma parada móvel, não tinha como descer dali para abandonar a conquista. Juro que se fosse uma parada fixa, teríamos descido da P2 por causa do calor.

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Gillan na 2a ou 3a enfiada da via, perto do lance do “leg press”!

 

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Parada móvel. Um luxo!

Bebi todo o resto da minha água (tinha levado 2L) e fiz um “all in”. Era subir ou subir. Passei pelo lance do Gillan abrindo um belo trecho de escalada técnica em agarra e fui tocando até encontrar um outro platô razoavelmente decente. Olhei para cima e vi que pedra não dava arrego, pior, só piorava. Era a deixa que estava precisando para abandonar a conquista prematuramente. Bati a parada e saímos vazados do sol até o carro onde uma garrafa geladíssima de água nos aguardava numa bolsa térmica!

Croqui

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Totem de Calogi, onde estão a maioria das vias, visto de outro ângulo. Levemente negativo!

Tirando o calor, posso garantir que a via está ficando incrível. Ainda não sabemos se a via é uma escalada tradicional com toque de esportiva ou uma via esportiva com um toque de tradicional! Agora é esperar esquecer o trauma, aguardar um dia nublado e voltar para atacar o headwall!

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Montanhas do Espírito Santo.

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