Escalada em aderência – 10 dicas e truques

Aderência!

Só em ouvir, ou ler, essa palavra tem gente que chega se arrepiar todo!

Há quem odeie com todas as forças do mundo e há quem ame de coração. Embora, a unanimidade entre os escaladores seja não apreciar muito esse tipo de escalada. Eu me enquadro no grupo dos que não amam nem odeiam. Diria que faz parte da escalada. E se quiser ser um escalador completo tem que aceitar e, na medida do possível, saber se virar.

Quando se fala em aderência, a segunda palavra que vem a mente é: esticão! Incrivelmente são duas palavras que andam juntas. Onde tem aderência, pode se preparar que vem esticão pela frente.

Mas tem algum truque para escalar melhor aderência? Eu digo que sim. E sempre que preciso, aplico algumas técnicas básicas que ajudam a sair do sufoco, ou que pelo menos minimizam.

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Caio “Afeto” na enfiada crux da via Angá, Afonso Cláudio, ES.

1- Mente vazia. Você tem que pensar na escalada. Não pensar numa possível queda. A sua mente precisa estar com pensamento positivo e tentar afastar todos os pensamentos negativos como: se eu cair, onde está o próximo grampo, meu pé não vai ficar, se eu escorregar agora… O segredo é manter o foco, pensar positivamente e não deixar nenhum pensamento negativo tomar conta da cabeça. Yoga, sabe?

2- Relaxe. Aderência é puro trabalho de pé. Logo, os músculos que precisam estar tencionados estão da cintura para baixo (menos aquele) e não da cintura para cima. Braço, nuca, costas são músculos que tendem a ficar tencionados quando estressados. A dica é se manter relaxado e, de tempo em tempo, lembrar se de relaxar. E quando estiver num momento de tensão máxima, tente relaxar o ombro, vai descobrir que nem é tão crítico assim. E se bobear, vai descobrir que dá para ficar parado sem as mãos.

3- Queda. Quando escalo aderência, não gosto muito de cair (ninguém gosta) porque é difícil e por vezes até perigoso. Eu uso o seguinte o pensamento. Quando estou perto do grampo me arrisco, sem medo, pois sei que a queda será curta. Depois de uns 4m já começo a ficar mais precavido e tento escalar mais controlado para evitar um eventual voo intercontinental. Em outras palavras, perto do grampo não tem porque ficar com medo!

4- Sapatilha. Na escalada em aderência, uma boa sapatilha é tudo. É praticamente a tua vida. Não vai ser o magnésio que vai te salvar, vai ser a sapatilha que estiver calçando. Até porque na escalada em aderência são apenas dois pontos de contato, o pé esquerdo e o direito. As mãos, são só para ganhar o balanço. Por isso, eu gosto de escolher a dedo uma boa sapatilha para aderência. Mesmo se a via for longa, a depender da situação, prefiro sacrificar o conforto em troca de uma maior segurança nos pés. Também curto usar uma sapatilha um pouco mais folgada do que uso nas esportivas (1/2 número), mas também nem tão folgada a ponto de perder a confiança.

5- Confiar nos pés. Essa é a parte mais difícil! Saber acreditar até onde seus pés vão ficar é um aprendizado que vem com a prática e o tempo. Por isso, quanto mais praticar, mais vai saber até onde dá para ir sem cair. Via de regra, o tipo de pisada que melhor funciona é o que os gringos chamam de smear que é chapar o pé na pedra para ganhar máxima aderência. O dia que você descobrir o poder do smear, você será uma outra pessoa.

6- Esqueça as agarras de mão. Você tem que aprender, que na escalada em aderência, não são as suas mãos que te levarão para cima, são os pés. Não perca tempo procurando agarra de mão que não existe. Em vez disso, olhe para baixo e procure por pés.

7- Passos curtos. Quando ficamos agoniados em uma posição, o normal é tentar sair logo dali. E um dos erros mais comuns é subir o pé alto para sair logo daquela situação. Na escalada em aderência, passos curtos são mais eficientes do que sair subindo o pé na mão. Garanto que é mais difícil sair de uma posição de pé alto do que sair dando passos curtos para ganhar altura e sair do sufoco.

8- Calça para limpar a sola. Falou em aderência, falou em esticão = calça! Não é uma questão de moda, mas sim de segurança e praticidade. Uma calça ajuda na hora de limpar a sola do pé enquanto escala. É só passar a sola da sapatilha na panturrilha antes de colocar o pé naquela agarra chave, porque nada é mais desagradável do que colocar o pé numa agarra chave e sentir aquela areinho no sola.

9- Não olhar para baixo. Apreciar o tamanho do esticão é puro sadismo. Por isso, não é muito legal ficar o tempo todo vendo o tamanho do esticão. De sadismo, já basta olhar para cima e ver o grampo lá longe.

10- Apenas escale. Essa dica é da escaladora Hazel Findlay. Aderência não é lugar para ficar pensando na vida, embora o lugar seja propício para isso. Think less, climb more and fast!

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Pedro “Graveto” na 1a enfiada da via “Nada é o que parece ser”, Pedra Paulista.

Boas escaladas!

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