Segundo o dicionário Aurélio, otimismo é “atitude daqueles para quem tudo no mundo é o melhor possível, ou para quem a soma dos bens supera a dos males. / Tendência a ver tudo bem; tendência daqueles que se sem consideram satisfeitos com o atual estado das coisas.”
6a feira: TODAS as previsões de tempo marcavam chuva para o final de semana! Passagem de uma grande frente fria pelo estado no sábado com possibilidade de chuva forte (20-40mm) e acompanhada de tempestade elétrica e vento!
Passei a semana inteira acompanhando as previsões na esperança de que uma borboleta na Austrália batesse a asa e a frente fria perdesse força, mas nada da borboleta… A previsão se mantinha firme e forte…
Sábado 12h: O dia amanheceu sem chuva, mas abafado e muito nublado. Estava na cara que ia chover. A minha previsão do tempo marcava para 15h o começo do dilúvio, mas ainda acreditava na borboleta.
Sábado 15h: A borboleta não bateu as asas e a tempestade chegou com tudo em Vitória! Mas para um otimista, ou melhor três, cair canivete na rua não quer dizer nada. Quem sabe em Praça Oito não esteja chovendo… Assim, enquanto caia o mundo na rua, eu, DuNada e Afeto estávamos no Face fechando os últimos detalhes para a trip. A ideia era sair no sábado para Praça Oito, dormir lá e no domingo voltar para Pedra Linda para finalizar a conquista. Vide post anterior!
E assim, sob uma chuva de canivete, saímos nós três de Vitória rumo a Itarana. Tinha umas horas que chovia tanto, mas tanto, que tivemos que andar a 40km/h. Por sorte, relampeava tanto que dava para ver a estrada como se fosse dia. A estrada estava mais para um rio do que asfalto, mas lá estávamos nos, falando: “é acho que vai parar de chover”; “lá em Praça Oito não deve tá chovendo…”
Chegando em Praça Oito, logo ficamos sabendo que ali só tinha chovido 20min!!!! Caiu o mundo, mas só durante vinte minutos! Foi a borboleta? Mas para dar um banho nos ânimos, a meio-noite chegou a segunda leva de chuva acompanhado de muito vento… E fomos dormir ouvindo a chuva e pensando na borboleta…
Domingo 6h: O dia amanheceu sem chuva, só nublado e com bastante vento. Perfeito! Sai da barraca e dei uma olhada nas pedras entorno, tudo molhado! É claro! Escorria muita água pela vegetação que deixava uma série de tiras de água na pedra. Já vi esse filme antes…
Nós três, olhando para tudo aquilo, sem perder o otimismo falamos algo assim:
– Pô, eu acho que a Pedra Linda não tá molhado!
– Também acho, eu acho que lá não molha. E se estiver, com esse vento deve secar rapidinho!
– Eu acho que nós deveríamos ir lá ver!
Manhã de domingo nublado no acampamento Estância Pedra da Onça com o nosso próximo target ao fundo.
E assim, as 8h partimos para a pedra.
Chegando lá: a pedra estava seca!!! Tudo ao redor molhado, mas a Pedra Linda, além de linda, estava sequinha da silva!!!!
Mas o tempo ainda estava estranho. Mesmo assim entramos na via sem pressa e pressão. Afinal de conta, o fato de nós estarmos ali já era mais do que sorte, lucro ou conquista. E diante de tudo que nós passamos até então, não tinha porque ser pretensioso.
O Dunada repetiu a 1a enfiada e o Afeto finalizou a 2a enfiada até o cume do totem.
DuNada repetindo a primeira enfiada do totem.
Afeto limpando a 1a enfiada com as bromélias gigantes ao fundo!
Afeto no começo da 2a enfiada. Crux na saída, tensão total!
Limpando a 2a enfiada. E o chão vai ficando para trás…
A partir dali sabíamos que a coisa ia ficar feia. A pedra era bem vertical e tudo indicava que teríamos que sair em artificial. Mas, mais uma vez, o otimismo estava no ar! A ideia era forçar em livre até não der mais para só no último momento entrar em artificial. E assim foi, 5m,10m, 15m, 20m em livre! Até o ponto em que não teve mais jeito que tivemos que artificializar 3 lances em parafuso para depois voltar a entrar em livre e fechar a enfiada.
Conquistando a 3a enfiada. Foto: Caio Afeto.
Quando fechamos a enfiada sabíamos que tínhamos passado pela pior parte, a parte mais inclinada, e que dali para cima seria mais “fácil”. Também sabíamos que ainda faltava a metade da pedra chegar no cume. Assim, sem pressa e compromisso, porque já estávamos no lucro, partimos para 4a enfiada, passando pelo temido teto que víamos de longe.
Três chapas na saída e eis que surge uma fenda para agilizar o processo. Mais um lance em aderência e P4. Nessa hora vimos que além de toda a sorte que estava conosco, iríamos chegar no cume da pedra!!!! Quando cheguei na P4 não estava acreditando no que estávamos vendo. Parecia que o cume estava logo ali. Peguei os equipos o mais rápido que pude e sai para o esticão final, pois já estava escurecendo, começando a garoar e não estava afim de curtir o visual do cume no escuro. Lance mais complicado na saída e depois o terreno perdeu inclinação. Ai foi só ligar o turbo e correr para o cume!!!!
Passando o maior frio na P3. Muito vento!
Batemos no cume por volta das 17h sem acreditar no que tínhamos feito. Fiquei pensando como algo que era para dar tudo errado deu tão certo. Otimismo? A borboleta da Austrália? Ou os amigos?
Cume!!!!!
Agradecimento especial ao DuNada e ao Afeto pelo grande conquista! E a borboleta Australiana por ter nos ajudado.
Croqui e betas da via
Como chegar
A via “Parafuso a menos” está localizada na face sul da Pedra Linda no distrito de Praça Oito em Itarana.
Saindo de Vitória, a melhor opção é pegar a BR-101 em direção norte do estado até Fundão. Em Fundão, pegar a estadual (ES-261) que leva a Santa Teresa, Itarana e Itaguaçu. O distrito de Praça Oito fica 6km antes de Itarana.
Assim que chegar no distrito, logo após passar pela ponte principal que fica depois de uma curva fechada, sair na primeira à esquerda que fica logo adiante (1km). Siga sempre pela estrada de chão até o entroncamento. Nesse trecho, à esquerda há é possível de ver a Pedra Linda. No entrocamento tome à esquerda e no próxima bifurcação à direita. Depois da bifurcação, entre à esquerda na próxima estrada (500m). Siga pela estrada, passe pela porteira de ferro e estacione o carro na próxima casa. Essa casa é uma casa de campo de uma família que mora em Itarana. É necessário ligar para o proprietário para pedir passagem. Para obter o número, entre em contato comigo.
De Vitória até a casa de campo são aproximadamente 100km e o tempo médio do percurso, na ordem de 2h.
Acesso à via
Da casa até à base da via base, tome a estrada que leva em direção à pedra. A melhor opção é subir até o final da estrada para só então entrar na mata por uma trilha bem marcada. Depois, siga em direção ao colo da montanha por uma trilha não demarcada. A base da via fica no colo da montanha junto ao totem. A caminhada, da casa até a base da via é na ordem de 30 minutos de trilha morro acima.
Equipos
- Duas cordas de 60m;
- Dez costuras, sendo algumas longas;
- Um jogo de friends (até Camalot #4 ou equivalente);
- Material para artificial em parafuso, cabo de aço, estribos…
- Fita para abandono (4).
Para baixar o croqui em PDF, clique aqui!
A escalada
1a enfiada – Enfiada toda em móvel com uma única proteção fixa no final da fenda, antes de entrar na face. Levar móvel grande a médio. A escalada transcorre por um sistema de fendas frontais, passando de uma fenda para a outra até entrar na face da pedra contornando a bromélia até chegar na P1.
2a enfiada – Enfiada curta de uns 20m pela aresta do totem. O crux a enfiada está logo na saída da via, antes da primeira proteção. Muita atenção ao escalar e dar a segue. Potencial de fator de queda 2. A parada da P2 está no topo do totem.
3a enfiada – Enfiada em travessia à esquerda até ganhar uma parede menos inclinada, porém sem agarras, onde começa o trecho em artificial. São apenas 3 lances em parafusos até as agarras voltarem e sair em livre. Antes de chegar na P3 há um outro lance em parafuso para ganhar o platô de mato.
4a enfiada – Enfiada de uns 25m com proteção mista. Na saída há 3 chapas até a virada do teto e logo em seguida, segue por uma fenda média até a travessia em aderência. A primeira proteção está um pouco fora da linha, por isso use uma fita longa para minimizar o atrito.
5a enfiada – Enfiada tranquila em direção ao cume. Duas proteções fixas logo na saída e depois cabe alguns móveis até o cume.
Rapel
A descida da via é feita pela própria via usando 2 cordas de 60m. É altamente recomendável levar umas fitas de abandono para reforçar o rapel, pois as paradas estão com apenas uma argola em uma das chapas.
A ordem do rapel é: P5-P4, P4-P3, P3-P2 (em diagonal) e P2 – base!
Outros betas
- Uma excelente opção para quem deseja acampar na região é a Estância Pedra da Onça que fica a apenas alguns minutos de carro da via. O camping custa R$ 20,00 com café da manhã e o chalé, R$ 120,00 com café da manhã. Para maiores informações, entre em contato pelo site.
- Não há livro de cume! alguém esqueceu de levar…