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Alpes 2015 – Suíça (Parte 2 de 4)

Após 4 dias no vale de Chamonix deixamos a França para trás na 6a feira e rumamos para Suíça em busca de “calor”!

Rodamos uns 200km até o nosso segundo objetivo: Grimselpass.

Na Suíça não há pedágios, mas todo carro precisa ter um “vignette autoroutière” que é um pequeno adesivo que vai colado no vidro do carro. Esse adesivo equivale a taxa de pedágio e seu uso é obrigatório. Custa 40 Francos e é válido para o ano corrente. Você encontra esse adesivo com facilidade em qualquer posto de combustível.

Durante as nossas pesquisas pré-viagem descobrimos que ali ficava a via tradicional mais bonita de toda a Suíça, a via Motorhead (5o SUP, 500m).

Passamos por paisagens estonteantes típicas da Suíça. Cruzamos vales que você só vê em embalagens de chocolate e iniciamos a subida em séries de caracóis até o passo.

A medida que íamos subindo, o termômetro do carro que marcava 16 graus no fundo vale, foi caindo, caindo, caindo até chegar a 8 graus!!! E quando estávamos a uns 100m de altitude para cruzar o passo, neve!!!!! Não era possível!!!! Eram os resquícios da tempestade passada!!!

Confesso que ficamos desolados e desorientados com tudo aquilo. Pela primeira vez não achei bonito cruzar um passo e não gostei de ver neve…

Acho que ficamos como uma barata tonta por uma meia hora, andando de um lado ao outro. De repente, vimos 4 escaladores vindo em nossa direção. Ai o Murilo falou:

– Vamos falar com eles!

– Sobre?

– Qualquer coisa!

Trocamos uma ideia e logo ficamos sabendo que os caras eram de Iceland (Islândia)!!!!

Quando eles falaram isso pensei comigo mesmo: putz, o que estamos fazendo aqui nesse frio… Só os caras da Islândia estão aqui…

Logo em seguida um emenda:

– Está frio hoje né?

Putz, um cara da Islândia reclamar do frio? Tamo ralado!

Como não tínhamos lugar para ficar perguntamos para eles se conheciam algum camping na redondeza e eles confirmaram uma coisa que já tinha lido. Na Suíça, por lei, você pode bivacar em qualquer desde que seja por apenas uma noite. Primeiro problema resolvido.

Como a via Motorhead estava molhada por causa da neve ficamos sem projeto. Na hora lembrei-me de uma via que um site listava como uma das melhores vias da Europa: Sagittarius (6o SUP, 450m)! Então perguntamos para “os homens do gelo” e um deles falou:

– Sagittarius? É logo ali!

E apontou para uma pedra a nossa frente. Aparentemente ela estava seca e como ficava um pouco abaixo da linha dos 1500m, não estava com neve.

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Sagittarius! A via transcorre bem no meio da parede.

Perfeito! Agora temos lugar para dormir e uma via para escalar!

Agradecemos a ajuda dos novos amigos e tomamos o nosso rumo.

Para agilizar a escalada do dia seguinte optamos por bivacar na base da via. Assim, no dia seguinte poderíamos entrar na via bem cedo. Por sorte encontramos um belo boulder negativo na base da via e conseguimos nos abrigar para passar a noite ao relento.

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Bivaque! Tão vendo? O abrigo é no bloco da direita.

Sagittarius

No dia seguinte, acordamos cedo, mas só conseguimos nos mexer depois que a temperatura aumentou um pouco, pois o frio estava de matar. Arrumamos as coisas e fomos em direção à base da via. Como essa escalada não estava nos planos e ela não constava no guia de escalada que tínhamos comprado em Chamonix, entramos na via sem croqui e sem beta. Não Sabíamos nem o que levar para cima de equipo.

Achamos o início da via com certa facilidade, pois a primeira chapa estava a apenas 2m do chão. Abri a cordada e logo descobri que a via estava equipada com chapas a cada 2m, no máximo 3m. Mesmo assim, por precaução levamos um jogo de friend e nut que acabou se mostrando um peso morto. A via, com aproximadamente 450m de extensão e dividida em 14 cordadas, estava metodicamente protegida com chapas de inox de cabo a rabo. E as paradas eram triplas com estação de rapel especial para agilizar a descida. Uma via verdadeiramente “Padrão Suíça”.

Como a via era muito bem protegida (E1) a nossa preocupação foi apenas escalar e desfrutar a via.

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Provavelmente a enfiada mais bonita da via. Pena que colocaram chapas na fenda… 5a enfiada.

Na verdade, a via era tão bem protegida, inclusive as seções fendadas, que às vezes perdia um pouco a graça. Principalmente porque nós curtimos um pouco de roubada. Era tanta chapa que não havia espaço para “aventura”. Bom e ruim ao mesmo tempo…

Escalamos a via em 4h e uma hora depois já estávamos na base da via, graças às paradas “Padrão Suíça”.

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Parada com “esqueminha” para rapelar mais rápido pela via.

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Cume! Um pouco de neve para matar a sede!

Como a previsão para o dia seguinte seria boa, resolvemos provar outra via que, desta vez,  constava no nosso guia de escalada. Escolhemos a via Fair Hand Line, uma via 5 estrelas, segundo o guia.

Mais uma vez resolvemos bivacar perto da via e deslocamos o nosso acampamento para perto de um lago numa área protegida.

Como a via do dia seguinte seria mais curta e com estávamos com o “estilo Sagittarius” em mente, fomos dormir bem tranquilos e acordamos sem pressa no dia seguinte.

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Bivaque da 2a noite.

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Bivaque.

Sagittarius (45om, 6o grau, 13 enfiadas). A via requer aproximadamente 15 costuras e 2 cordas de 50m para o rapel. O rapel é pela própria linha da via. A via possui parada a cada 30m-35m, mas é possível juntar várias enfiadas para ganhar tempo. O crux da via fica na 7a enfiada, numa pequena travessia que pode ser facilmente vencida em “french free”. A aproximação é de uns 30 minutos deste o estacionamento. Face oeste com sol à tarde. A via é muito famosa e na alta temporada é comum encontrar várias cordadas na via.

Fair Hand Line

Na manhã seguinte desmontamos o bivaque e fomos calmamente para a via.

O guia, traduzido para o italiano, fala que a via foi recentemente re-equipada com chapas novas. E lá no final ainda dizia que poderia complementar o rack com um jogo de nut (opcional).

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Fair Hand Line. A linha começa no totem que fica no meio e segue reto para cima.

Entramos na via esperando chapas a cada 2m, mas assim que chegamos na base, a primeira chapa não estava a 2m, mas sim a 5m. Tudo bem, a saída parecia fácil e a próxima deveria estar escondida logo acima. Por sorte (minha), nesse dia, o Murilo iria abrir a via e fez a frente. Costurou a primeira, demorou a achar a 2a e sumiu pedra acima. De vez em quando ouvia ele reclamando de alguma coisa. Outras vezes, ele pedia para eu ficar “ligado”. Hmmmm, alguma coisa não ia bem…

Quando entrei na via, logo de cara vi que essa via não era igual a Sagittarius. Se lá tinha chapa demais, aqui tinha de menos… E aqueles nuts opcionais não eram bem opcionais! Sorte nossa que levamos os nuts que ajudaram a diminuir um pouco a exposição! Melhor ainda se tivéssemos levado uns friends…

Passado o choque inicial, começamos a acostumar o cérebro para o modo “escalada aventura” e assim conseguimos desfrutar mais a escalada.

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Murilo em modo “estou congelando”. 2a enfiada, mas oficialmente a 5a.

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Parada Suíça. Um pouco diferente em relação à via de ontem. Eu ví vários desses no focinho das vacas…

Fechamos a escalada sob um frio bem intenso e concluímos a escalada em umas 3h. Com certeza, por causa do frio acabamos escalando mais rápido, porque ninguém queria ficar parado naquela friaca.

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“Trilha” de descida. Só de rever a foto, os meus joelhos reclamam…

Fair Hand Line (300m, 6o grau, 10 enfiadas) – Handegg. A via requer uma corda de 60m, aproximadamente 15 costuras (para emendar algumas enfiadas) e friends (.4 / .5 / .75 / #1 / #2  BD Camalot). A descida é pelo trilho do Funicular que passa ao lado da via. Face oeste com sol à tarde. Aproximação: uns 20 minutos de caminhada do estacionamento do Funicular do hotel Handeck.

Depois de duas escaladas épicas em um frio de congelar concluímos que estávamos na hora de partir para um lugar mais quente.

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Selfe, para mostrar que estava frio.

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E para provar que não estou mentindo…

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Mais uma prova. Descida do passo Grimsel. Nós estávamos escalando dentro dessa nuvem…

Confesso que sai de lá com gostinho que quero mais. Talvez se o tempo estivesse mais agradável pudéssemos aproveitar mais a nossa estadia, mas sai de lá com uma excelente impressão. Gostei muito da escalada e da rocha. Com certeza, um lugar para voltar no futuro!

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Matrix? Não, só algumas plantas na lagoa.

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Já falei que estava frio?

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Comestível?

Comentários

Uma resposta em “Alpes 2015 – Suíça (Parte 2 de 4)”

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