Se há duas semanas, Chuck e eu passamos o maior aperto para conseguir o acesso à Pedra Torta em Águia Branca, dessa vez, em Itarana, a história foi bem diferente!
Quando chegamos numa pedra nova, já está sendo praxe levantar o drone para fazer um reconhecimento da pedra, dos acessos e tirar umas fotos. E foi exatamente isso que fizemos no último sábado na base da Pedra Alegre em Itarana.
O som característico do drone logo chamou a atenção dos ouvidos aguçados da dona Claudineia que foi para rua conferir o que estava acontecendo e acabou nos encontrando. Curiosa, quis saber o que estávamos fazendo com o drone na área e prontamente explicamos as nossas intenções. Logo, ela se lembrou da história de uns meninos que estiveram na região uns anos atrás (2013) para tentar escalar a mesma pedra. Ela estava falando do Baldin, Sandro e Robinho que iniciaram uma conquista nesta mesma pedra pelo sistema de chaminé mais óbvio.
Aproveitando que ela já estava ali, solicitamos passagem e prontamente nos liberou e logo foi mostrando o melhor caminho para acessar a base da pedra.
Considerando a última experiência, aquilo foi música para os nossos ouvidos.
A Pedra Alegre de Itarana é quase um símbolo da região, ela só não é mais famosa do que Pedra da Onça que anualmente é palco de uma procissão e pela famosa história da água-marinha que foi encontrada na base da pedra. Mas de todas as pedras da região, a Pedra Alegre é, sem dúvida, a pedra mais imponente e intimidadora da cidade.
Tanto é que, desde a primeira vez que conheci a potencialidade de Itarana, em 2013, sempre olhei para pedra com muita admiração e respeito. Por duas vezes, uma vez com Gillan e outra com Eric, chegamos a estacionar o carro na base e refugamos diante da bronca.
Como a linha mais óbvio já tinha sido iniciada, sobrou apenas um gigantesco totem de uns 300m na face leste, ou teria que encarar a face lisa e vertical. Mas sempre que analisava a linha ficava na dúvida quanto a parte inicial, já que o totem está suspenso a uns 200m do chão. Assim, para acessar o totem seria preciso encarar uma grande “saia” com um final bem duvidoso quanto a possibilidade de passar em livre.
Confesso que não tive planos para entrar nessa parede em 2023. Era um daqueles sonhos distantes que guardamos num canto da mente e tomamos o cuidado de não ficar atiçando, mas a última conquista na Pedra Torto, estranhamente, reativou o projeto.
Na 5a feira, o Chuck perguntou o que estava pensando para o final de semana e falei que queria dar um pulo em Itarana para ver uma pedra. Ele nem perguntou onde, nem o que, apenas disse que iria! Falei para ele que poderia pensar bem se realmente gostaria de ir, pois seria uma grande empreitada. Tempos depois, ele voltou a tocar no assunto e disse que iria! Como ando mal de parceria para esse tipo de empreitada, nem insisti muito.
O inverno segue chuvoso por aqui. Mais uma vez, a chegada de uma frente fria coincidiu com o final de semana e ficamos envoltos naquela apreensão de: será que vai chover? Será que estará tudo molhado como na semana retrasada?
No sábado pela manhã, o cenário não estava muito promissor. De Vitória até Santa Teresa, tudo estava bem molhado da chuva da noite passada. Mas assim que descemos a Serra do Limoeiro, como um passe de mágica, estava tudo seco! Na verdade, não tinha nem chovido na região!
Sabíamos que não teria como vencer uma muralha de granito de 600m numa investida única de um dia. Assim estabelecemos uma meta intermediária: chegar na base do totem. A depender do ângulo que se vê a pedra e da coragem do caboclo, parecia que dava para subir solando de mochila até uns 50m antes do totem, onde fica a parte mais vertical. Então achei que chegar na base do totem fosse relativamente fácil e rápido.
Eu estava tão certo disso que na noite anterior, resolvi levar apenas 24 chapas para essa primeira empreitada, convicto de que ainda iria sobrar chapa e voltar para casa cedo.
Realizamos a aproximação conforme a dica da Claudineia, seguimos pela estrada de chão e depois por uma picada que nos levou até encostar na pedra. Seguimos “costeando” a pedra e assim que vimos a primeiro oportunidade resolvemos subir por ali, rumo à base do totem.
Sensato, o Chuck achou que eu estava desnorteado e ficou um pouco relutante em sair subindo de tênis essa parte inicial, mas foi voto vencido “por um a um” e não teve muita escolha senão calçar a sapatilha e me seguir.
Subi 30m e logo descobri que os meus cálculos estavam errados. Não teria como sair solando esse costão. Teríamos que nos encordar e seguir a escalada conquistando. Parecia que se vencêssemos um curto trecho de uns 20m, logo a pedra voltaria a perder inclinação e poderíamos seguir em solo novamente.
Estabeleci uma parada livre (sem nada) num platô onde consegui chegar em solo e logo o Chuck assumiu a ponta da corda.
Ele tocou duas chapas e logo teve que fazer um desvio à esquerda porque a parede começou a complicar. Dali para cima, já não conseguia mais ver a escalada dele, mas comecei a notar que estava demorando mais do que o esperado. De repente, um barulho de furadeira, mais uma chapa. Mais alguns instantes e outro furo.
A medida que o tempo ia passando, a minha mente ia desconstruindo tudo que eu tinha imaginado sobre essa primeira parte e aos poucos fui entendendo que a parede era de fato bem inclinada.
Fui perceber isso quando cheguei na P2, olhei para baixo e vi o quanto tínhamos “subido para cima”! E quando peguei a ponta da corda para abrir a 3a enfiada comecei a entender também porque o Chuck tinha demorando tanto para passar os lances.
Estiquei quase 60m de corda até chegar num grande diedro sujo com bastante vegetação no entorno. Pela quantidade de vegetação, sabia que estávamos chegando perto do totem, mas quando olhei para cima, vi que estávamos muito à esquerda, talvez uns 60m ou mais. Ou seja, além de subir, tínhamos que rodar bem para direita para alinhar com o lado direito do totem.
Novamente o Chuck pegou a ponta da corda para abrir a 4a enfiada que dessa vez saiu mais fácil, graças a inclinação da pedra que estava menos nervosa e por algumas fendas e fissuras que permitiram usar material móvel.
Alinhamos a P4 num ponto que fosse ideal para o rapel, mas ela não ficou boa para seguir a próxima enfiada que seria uma grande travessia à direita para alinhar com o lado direito do totem.
Confesso que fiquei bem baratinado nessa parte. Em parte estava um pouco cansando e também não conseguia escolher um bom caminho, pois a pedra tem uma série de ondulações nessa parte que me deixaram com bastante dúvida quanto a qual sequência seguir. Acabei puxando uma grande horizontal de 60m para conseguir alinhar com a base do totem, mas ainda estava distante. Por alto, ainda precisaria subir mais uns 60m para finalmente chegar na base do totem.
A essa altura, o nosso estoque de chapeletas estava próximo de zero. Tínhamos que reservar pelo menos duas para colocar na P1 que na conquista ficou sem, mas que seria necessário para o rapel.
Assim, ao final da grande horizontal encerramos a nossa primeira investida sem ter atingido a meta estabelecida.
Durante a retirada, observei que se quebrássemos a enfiada da horizontal em dois num platô, daria para fazer uma linha mais atraente, desde que batêssemos uma chapa extra. Assim, pensando na próxima investida, resolvemos alterar a linha da 6a enfiada. Com isso conseguimos evitar uma horizontal exposta e de quebra alinhamos a linha de hauling.
Depois disso, na descida ainda batemos a P1 e por volta das 17h, ainda com luz, chegamos no carro sem grandes problemas.
Cronologia: 8h chegada em Itarana; 9h20, início da escalada; 11h40, início da conquista da terceira enfiada; 13h40, chegada na 4a enfiada; 14h40, 5a enfiada (6a enfiada). 17h, Chegada na base da via.
Uma resposta em “Alegre Pedra”
Aceitei ir de olhos fechados pq não imaginava q no início da temporada vc iria pegar uma bomba desse tamanho para conquistar.
Da próxima a gente faz uma auditoria. Oo