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Arenales – As escaladas (Parte 2 de 3)

^ As montanhas de granito de Arenales.

No primeiro dia de escalada, além do cansaço acumulado da semana, senti um pouco os efeitos da altitude. Se eu me levantasse rápido, rolava uma tonteira… Por isso, achamos que a melhor estratégia seria fazer uma aclimatação. Assim, decidimos escalar a Agulha Carlos Daniel, remendando uma série de vias até o cume. Essa pedra é uma das poucas agulhas que ficam no lado oeste do canyon com a face voltada para leste, ou seja, sombra à tarde.

Acordamos tarde e sem pressa, por volta das 9h, arrumamos os equipos e fizemos a aproximação até a base da via. Outro aspecto interessante é que essa aproximação tem pouco ganho de elevação, por isso é uma boa pedida para fazer uma aclimatação. Mesmo assim, cheguei bem cansado na base da via. Acho que fizemos essa aproximação em uma hora de caminhada, entre paradas e perdidas de trilha. Malditos totens…

Hora de traçar a estratégia e separar os equipos.
Aproximação para Agulha Carlos Daniel.

Como a parede ainda estava com sol, o calor era significativo, então entrei na via no modo “capixaba trad climbing”. Ou seja, calça, camisa de malha e um corta vendo no bolso, mas foi chegar na P1 para descobrir que na sombra o frio era pior do que no cume do Pico da Bandeira (lugar mais frio do Espírito Santo). E a medida que íamos subindo a via, o sol ia ficando para trás da montanha e o frio imperava na montanha. Para piorar, em alguns locais, a via ficava exposta ao vento gelado que entrava por qualquer buraco e ia direto na alma. E assim, entre tremedeira e calafrios finalizamos a primeira escalada em Arenales.

Croqui da via Carlos Daniel baseado a minha experiência. Pode haver divergências e imprecisões.

No dia seguinte, seguimos com o processo de aclimatação! Mas dessa vez, em vez de subir, resolvemos descer de cota para escalar uma outra via clássica de Arenales, a via Patrícia (6o SUP), na Muralla del Refugio Portinari. A caminhada do refúgio até a base da via deve ter levado uma hora (2km) e como a caminhada era para baixo, “saímos chutando pedra”… Como essa parede fica voltada para face norte, sol, entrei novamente em modo “capixaba trad climbing”, mas foi chegar novamente na P1 (P2 pelo croqui oficial) para descobrir que na sombra o frio era de matar! E assim, mais uma vez, cometendo o mesmo erro do dia anterior, escalamos toda via batendo queixo… O frio era tão insuportável nas paradas que cheguei a quebrar um dente de tanto ficar forçando o maxilar…

Amigo porteño na 1a enfiada da via Patrícia.
Croqui da via Patricia.

Segundo a nossa programação, a ideia era escalar dois dias e descansar um, mas a meteorologia estava prevendo uma virada de tempo para 5ª feira, nosso 4o dia de escalada. E como com a natureza a gente não manda em nada, tivemos que escolher entre descansar 2 dias (descanso + dia de chuva) ou escalar pelo terceiro dia consecutivo e descansar no dia de chuva. Consultamos o guru das montanhas, o brasileiro Paulo (SP) que estava passando a segunda temporada na região e, como um bom conhecedor da região, nos disse: Aproveite!

Então no terceiro dia encaramos a famosa via “Alquimista” (7a BRA) na Agulha El Fraile. Como de costume acordamos sem pressa e partimos para aproximação. Essa via, ao contrário das outras duas, já tem uma aproximação mais puxada. Com direito a um trepa pedra/cascalho infinito por dentro uma grota mega instável. Foi durante essa aproximação que lembrei porque tinha deixado Arenales de lado por tanto tempo. Entre pedras soltas, me lembrei que o Rodrigo tinha comentado que as aproximações eram bem puxadas e cansativas, onde você dava dois passos e escorregava um…

Dessa vez, nós tínhamos aprendido a lição e entramos bem agasalhados na via. E incrivelmente não passamos frio. Mentira, na P6, mesmo com toda roupa, quase morri de frio!

A via em si é incrível, com certeza é uma via obrigatória para quem visita Arenales! A 5ª, 6ª e a 7ª enfiadas estão entre as mais incríveis que escalei na trip!

Sandro na enfiada crux da via “Alquimista”.
Trio de argentinos na cola. Via “Alquimista”.
Croqui da via Alquimista.

Na 5ª feira, conforme a previsão, choveu, ou melhor, nevou!!! E, estranhamente, quanto mais chovia, mais gente chegava no refúgio, parecia que os escaladores estavam brotando com a chuva… Dias mais tarde, descobrimos que dia 8 de dezembro é dia de Imaculada Conceição, um famoso feriado prolongado em TODA Argentina!!! Por isso que tinha tanta gente em Arenales, mesmo com o mundo caindo lá fora.

Refúgio lotado!!!! Estava mais para um pub! Só que sem cerveja…
Chapa e Panqueques, controle de praga… Os camundongos que se cuidem!
Cajón de Los Arenales pós-nevasca.
Dois brasileiros passando as férias dentro do freezer…
As montanhas de granito….

Na 6ª feira, o tempo melhorou bastante, sem chuva ou neve. Para nós particularmente foi muito bonito ver tudo coberto de branco. Mas como as aproximações estavam cobertas de neve (50cm nas partes altas) resolvemos tirar mais um dia de descanso. Já os pobres argentinos que estavam passando o feriado, não tiveram muita escolha senão encarar o frio e a neve para tentar achar uma pedra seca, mas pelo que andamos ouvindo, quase ninguém conseguiu escalar neste dia devido ao derretimento da neve que deixava as fendas molhadas.

Um 10a seco! Perfeito para quem pode….
Camundongo à vista!
Detalhe do refúgio.
Hora do almoço!
Sem condições de escalada!

Continua…

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