Final do dia na rampa José Bridi, Itarana – ES. Como é bom chegar no cume antes do sol se pôr!
Toda vez que passávamos entre Praça Oito e Itarana, num pequeno trecho da estrada, víamos, lá longe, uma pedra que sempre chamava a nossa atenção. Como era uma janela pequena, sempre víamos de relance, mas era o suficiente para atiçar a curiosidade e pensar: um dia temos que ir lá.
E ontem, domingo, foi o dia de conferir mais de perto aquela pedra e matar a curiosidade.
Quando surgiu a ideia de ver mais de perto essa pedra, comecei a pesquisar na internet para ver se descobria mais coisas. Logo de cara, descobri que do cume dessa pedra, os voadores decolavam de parapente. Também entrei em contato com o fotógrafo da cidade, o Bae, e ele como um bom nativo, me passou outros betas importantes. Assim como entrou em contato com o dono das terras para pedir autorização para nós. No sábado, ele foi para a região e tirou mais algumas fotos da pedra para que pudéssemos estudar melhor a linha da via. Isso sem contar a carona que nos arrumou no domingo.
Rampa José Bridi visto da base.
Com uma pré-logística dessas, não tivemos maiores problemas no domingo para chegar na base, tirando o fato de ter que acordar às 5h da madrugada.
Assim saímos no domingo de madrugada, eu, DuNada e o estagiário, Pedro “Graveto” Pires que ainda não pediu para sair, rumo à base da Rampa José Bridi em Itarana (120km de Vitória).
Como o Bae já tinha adiantado a parte burocrática, já chegamos reto na pedra e partimos direito para a aproximação clássica: mato alto com carrapato! Pelo menos o estagiário carregou novamente o haulbag pesado e nós, os velhos, pudemos subir mais leve.
Caminhada matinal. Todo mundo alegre!
Estagiário carregando 3L d’ água, 40 chapeletas, 1 furadeira, 3 baterias e correndo dos carrapatos… Não está fácil para ninguém!
Começamos a via num costão tranquilo até a base de uma grande fissura frontal. Esses costões sempre enganam a gente. A gente sempre acha que é fácil e curto, mas nunca é assim, ainda mais com mochila nas costas.
Batemos na base da fissura e para nossa surpresa a ela se mostrou muito promissora. Aqui pelos lados do ES uma fenda assim é quase uma preciosidade: fenda frontal, boas colocações e contínua? Dá para contar nos dedos!
De baixo a fissura parecia tranquila e curta. Entrei com 2 jogos de friends e a medida que fui subindo, as peças foram sumindo do rack, a corda esticando e nada de chegar no fim. Daqui a pouco o DuNada grita lá de baixo: tá acabando a corda, 5m! Olhei para cima e ainda estava longe da árvore que marcava o final da fenda. Assim que a corda esticou, o DuNada subiu o que deu e ainda assim faltava mais uns 5m até a árvore. Emendamos uma segunda corda e finalmente consegui chegar na árvore, fechando um enfiada cheia de 65m totalmente em móvel por uma única fenda!
Subimos pela mata e ganhamos o máximo de altura subindo num pequeno totem para continuar a conquista pela parte mais inclinada da pedra. Para a nossa surpresa, o granito se mostrou muito promissora. Os granitos capixabas, em geral, são bem lisos, sem agarras e sem fenda, mas não nesse caso. O granito era bem cracolento com muitas agarras, cristais e lacas! E o melhor de tudo, sólido!
Naturalmente, a conquista flui muito bem e rapidamente esticamos 55m de corda, fechando a 4a enfiada num pequeno platô. Dali para cima o DuNada deu início a 5a enfiada que também fluiu muito bem fechando mais uma enfiada cheia de 60m.
Assim que batemos na P5, a pedra perdeu bastante inclinação e já conseguíamos vislumbrar o cume. Dai foi só esticar mais 60m para batermos no cume ainda com a luz do dia.
DuNada no início da 5a enfiada.
Enfim cume!
Como no cume fica a rampa de decolagem, o local conta com um bar!!!! Ai foi só chegar no balcão, pedir uma Coca gelada e comemorar a conquista com chave-de-ouro! E o melhor de tudo é que não precisávamos nem nos preocupar com a descida, pois já tínhamos até carona para descer até o carro que tinha ficado na base da pedra.
Quanto ao estagiário, não foi dessa vez que ele pediu para sair. Aguentou firme o peso do haulbag, mas perdeu pontos preciosos por ter esquecido o headlamp pela segunda vez! E para piorar, deixou cair o seu anorak da P4!!!! No saldo final, ficou no negativo conosco. Agora vai ter que repetir a via para resgatar o anorak!
Nas linhas finais, gostaria de agradecer a vibe boa do DuNada e do Graveto em mais uma empreitada pelas montanhas do ES. E ao Bae pelo precioso apoio logístico (autorização, fotos, carona).
Mais um dia de escalada chega ao fim. Ao fundo os Cinco Pontões.
Croqui
Croqui detalhado em PDF da via Ascendência Térmica.
1a enfiada – Costão em solo de aproximadamente 90m até a base da fenda. Parada em árvore. Se não estiver costumado, subir de sapatilha.
2a enfiada – Quase 70m de fissura frontal toda protegida em móvel. O crux está logo na saída. Parada natural. Se entrar com uma corda de 60m, é necessário fazer uma parada intermediária em móvel. Requer mais ou menos 2 jogos de friend (até Camalot #3 ou equivalente).
3a enfiada – Caminhada pela mata até encontrar a pedra. A parada da próxima enfiada está no topo de um pequeno totem de uns 10m.
4a enfiada – Enfiada de aproximadamente 55m toda protegida em chapas. Usar fitas longas para minimizar o arrasto. O crux está no único lugar onde há duas chapas na sequência.
5a enfiada – Enfiada de corda cheia, 60m, com um crux na parte final da enfiada. Parada em um pequeno platô. Cuidado com as pedras soltas na parte final.
6a enfiada – Última enfiada em direção ao topo. Começa subindo por uns blocos solto, contorna um platô com árvore seca para esquerda até a primeira chapeleta (30m), depois costura uma 2a chapa e cume. A parada está quase no costão final. Dali para cima mais uns 50m de costão de II em solo até o cume.
Descida – No cume fica a rampa de voo José Bridi. Lá funciona um pequeno bar que abre nos finais de semana e serve lanches e bebidas. Para descer é só seguir caminhando pela estrada. Se conseguir uma carona, melhor, pois são aproximadamente 40min de caminhada até a base.
As paradas não estão com argola, por isso caso seja necessário descer pela via é preciso abandonar fitas. Também não é possível rapelar com apenas uma corda de 60m ou 70m. É preciso ter pelo menos duas cordas.
Equipos necessários para repetição: 8 costuras, 1 corda de 60m (melhor uma de 70m), 2 jogos de Camalot até # 3, fitas longas e mosquetões avulsos.
Clima: A parede fica voltada para a face oeste e pega sol à tarde. É comum o dia começar sem nuvens e no final do dia ficar mais nublado. Também costuma ventar bem na parte mais alta da via.