1997
Em 1997, eu tinha acabado do entrar na faculdade e durante os finais de semana, às vezes, pegava um ônibus de Porto Alegre para Caxias do Sul e lá o Jimão me pegava na rodoviária para irmos à Gruta com o Thiago Balen. Naquela época, a Gruta tinha apenas 5 vias: Animal (8a), Diedro (8a), Lesão Cerebral (7a), O Herege (8c) e Utensílios da Igreja (7c). Só para ter uma ideia, hoje a Gruta têm mais de 40 vias. A minha meta era conseguir passar da 3a chapa da via “O Herege” e conseguir virar o teto, já para o Jimão, era fazer todas as vias da Gruta no mesmo dia. Na verdade, ele fazia aquilo com muita naturalidade… Desgraça…
2001
Serra do Cipó, Minas Gerais. Durante a uma viagem que fiz para lá, lembro de eu estar na Sala da Justiça esperando o meu braço “destijolar” e ver o escalador carioca Marcelinho Braga chegar e falar que estava tentando fazer todas as vias mais duras do Cipó em um único dia. Naturalmente naquela época tinha menos vias do que se tem hoje. Acho que ele estava tentando fazer a Linha (10a), Heróis (9c), Morfina (9a), O inquilino (9a) e a Sombra (9b).
Essas e outras histórias de “maratona” de escalada sempre foram bem famosas na escalada. Lá na gringa, lembro da história da Lynn Hill que fazia 8 vias por dia em Cimäi na França como treinamento para fazer a via The Nose no El Capitan em livre (1993). Ou mais recentemente, as maratonas de escalada do Alex Honnold na mesma região (tipo escalar o El Capitan e o Half Dome em 24h).
Calogi
Naturalmente, quando começamos a escalar em Calogi todas essas histórias vieram à tona, já que o local é perfeito para esse tipo de escalada, vias longas (30m), diluídas e acesso fácil. Às vezes, fazíamos, sem querer, algumas maratonas de escalada, mas nunca passávamos de 8 vias por dia, pois a pele não aguentava o granito abrasivo.
No último sábado, Afeto e eu fomos para o Calogi fazer um dia de escalada normal. O dia estava perfeito, com temperatura amena, vento forte e zero de crowd. Começamos a escalada por volta das 9h da manhã e por volta da uma da tarde já tínhamos escalado 5 vias. Fizemos uma pequena pausa para o almoço e comentamos a possibilidade de fazer 10 vias no Totem para fazer aquele volumão! O calculo era simples, se em 4h fizemos 5 vias, em mais 4h faríamos a outra metade.
“Teoria é tudo que dá certo e prática é tudo que dá errado”.
Aceitamos o desafio e às 14h começamos a segunda metade das vias. A ideia era fazer todas as 10 vias somente no Totem, sem repetir via para fechar 300m de escalada. A medida que a tarde foi passando, o peso do cansaço começou a cobrar seu preço. Primeiro, foi difícil dar segue cansado. Às vezes, rolava umas piscadas. Outras vezes, quando olhada para baixo e depois olhava para cima, o Afeto, num “piscar de olhos”, já tinha escalado uns 5m. O segundo “problema” é que não descansávamos bem entre as entradas, pois o tempo era um problema crucial, então escalávamos “meio-descansados”. Assim, os crux’s que antes eram banais se amplificavam e exigia uma dose extra de gana. Embora as vias de Calogi sejam bem seguras, há sempre trechos onde é proibitivo cair, principalmente nas em móvel. E quando estamos cansados todas essas coisas pesam.
No fim, antes do entardecer, fizemos a última via. Na verdade, ficou faltando o Afeto entrar na última via para fechar com chave de ouro, mas como já estava muito tarde, achamos por bem deixar assim, até porque estávamos ali para se divertir e não fazer número.
Além do desafio físico, esse tipo de escalada ajuda a fortalecer a mente e a criar um “conforto” psicológico para vias tradicionais duras. Saber que um dia já escalou 10 vias em Calogi traz um conforto quando se está diante de um desafio maior.
Que venha a temporada!
A nossa lista ficou assim:
- Último Trem (V SUP) – mista, 30m;
- Trem da Alegria (7b) – 30m
- Trem da morte (7c) – 30m
- Expresso da meia-noite (8a) – 30m
- Transiberiana (9a) – 30m
- Transmanchuriana (9a) – 33m
- Trem comprido (7c) – 32m
- Agulha (7c) – Decotada. – 32m
- Santa Genoveva (7c) – mista – 30m
- Expresso de Hagwardd (7c) – 33m
PS: Naturalmente, não consegui tirar nenhuma foto, por isso o post está assim, sem foto…