Pesquisar
Close this search box.

Caminho da Sabedoria

Na cidade de Ibiraçu, localizada a apenas 65km da capital Vitória, fica um famoso roteiro de peregrinação chamado “Circuito Caminhos da Sabedoria“. Trata-se de um caminho de 108km que começa na Matriz de São Marcos e termina no Santuário de Nossa Senhora da Saúde, contemplando diversos pontos turísticos e espirituais, tanto do Budismo quanto do Cristianismo. O projeto da peregrinação nasceu com o Monge Daiju em 1987 e teve como objetivo agradecer o Cristianismo por todos os ensinamentos recebidos na infância e adolescência do monge.

Para quem não sabe, em Ibiraçu está localizado o primeiro Mosteiro Zen da América Latina, fundado em 1974.

Os 15 Budas de Ibiraçu.

Em meio a este roteiro, cercado por vales, rios e montanhas, uma parede em particular chamou a minha atenção quando Afeto e eu fomos escalar na região de Santa Teresa no início do ano. E agora, no último domingo, dessa vez na companhia do Eric, resolvi voltar lá para olhar com mais calma uma possível “linha fendada” nesta parede.

Pulando toda aquela parte da aproximação, chegamos na parede por volta das 9h da manhã com um tempo bem abafado e estranho. Infelizmente, no dia anterior choveu bem e a pedra estava bastante úmida. Já de cara dava para ver algumas tiras de água na linha que estávamos namorando, mas depois que assistimos a Margo Hayes trabalhando da mística via “Biography” totalmente ensopada no filme Reel Rock 12, essa não poderia ser uma desculpa.

Arrumando os equipos.
Aproximação de 5 minutos pelo cafezal. Uma mamata!

A nossa ideia era conquistar uma linha curta de uns 70m “linkando” uma série de fendas até o final da parede. Iniciamos a conquista por um pequeno trecho de aderência para ganhar a primeira oposição e entrar no “filé mignon” da parede. Mas com a pedra um pouco úmida, qualquer aderência fútil parecia mais adrenante do que a média. Ops, sem desculpas. Enxuguei as lágrimas e iniciei a conquista tentando me acostumar com a sensação de escalar no úmido ou até mesmo no molhado. Bati duas chapas e finalmente cheguei na tão aguardada fenda, mas ela estava molhada, claro. Ok, a Margo escalou no molhado, então vai no molhado mesmo! Toquei uns 30m até ficar sem peça e achar um pequeno platô, onde bati a parada.

Eric na primeira enfiada da via.

Chamei o Eric e agora foi a vez dele de assumir o “sharp end”. A fenda seguia em arco, naturalmente úmida a molhada, até chegar num lance que nem a Margo passaria de tão molhado e embarrado que estava. Ou passaria? O Eric foi até o trecho com lodo, deu uma desculpa elegante que não lembro qual foi e trocamos a ponta. De fato, vertia água por baixo do teto e não tinha como passar em livre naquelas condições. O jeito foi passar em artificial o trecho molhado de uns 5m e depois seguir até o teto virar e seguir em oposição.

Depois de “perrengar” muito em algumas vias, aprendi que em móvel é preciso fazer enfiadas curtas e quando a linha segue em arco, o melhor que tem a fazer é sempre montar uma parada depois do arco para assim tocar o restante. Se tentar tocar direto é certo que a corda vai prender na fenda e gerar um arrasto monstro. Fica a dica!

P2 em móvel. Bomber!
Eric na travessia molhada da 2a enfiada.
Estado do haul bag…

Fiz uma parada móvel e chamei o Eric novamente. Dali ficamos analisando as possibilidades e no fim acabamos descartando a ideia de seguir pela oposição, pois a linha levava para um mar de bromélias. Optamos por virar o tetinho e seguir pela face até a pedra perder inclinação. Virei o teto, bati mais 3 chapas em diagonal e fui tocando até achar um platô onde achei que a via poderia acabar por ali. Chamei o Eric e ali finalizamos a conquista.

Tirando a parte molhada, a conquista fluiu sem perrengues. Na verdade, foi uma conquista bem agradável para os padrões locais.

Quanto à via, posso dizer que ficou um clássico para os amantes da escalada em móvel, pois a via transcorre por um belo sistema de fendas pouco visto por essas bandas numa parede relativamente vertical. Com certeza será uma via clássica! Agora é esperar a pedra secar e voltar lá para liberar a 2a enfiada.

Usando a nossa mega criatividade, batizamos a via de “Caminho da Sabedoria”, pegando emprestado o nome do famoso Caminho que passa em frente à parede.

Para ler mais sobre a via, clique aqui!

Comentários

3 respostas em “Caminho da Sabedoria”

Fenda limpa no ES? (tirando o trechinho do teto) Raridade!!!
Muito bom. Agora é esperar a chuva passar pra pedra secar, e voltar pra repetir!
Via “Caminho da Sabedoria”, também conhecida como “Leve todos os Camalots #2 que você tiver” kkkk

Verdade! Fenda limpa!
Sim, bem lembrando sobre o Camalot´s #2! Alias, fenda de #2 são consideradas as melhores que existem!

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.