No mês passado, “Chuck” e eu iniciamos uma nova conquista na região de Itarana (ES), mais especificamente na região de Alto Santa Maria. O relato dessa investida está aqui!
Assim que descemos da montanha já reservamos uma data para o retorno. Essa coisa de deixar para voltar depois sem compromisso não funciona. “Se começou tem que terminar”! E quanto antes para não cair na procrastinação! Sempre teremos alguma desculpa para não voltar…
Marcamos o retorno para o último sábado, dia 3 de setembro. Foi a única data que conseguimos conciliar antes do fim da temporada das paredes. A partir de outubro começa o calor e o período mais chuvoso por aqui.
Neste mesmo final de semana aconteceu um encontro de escalada em Prosperidade, a vontade de ir era grande, mas sabíamos que se não fosse nessa data só iríamos voltar no próximo inverno devido às nossas agendas. Então acabamos abrindo mão em detrimento à finalização da conquista.
A previsão não estava prime, a meteorologia previa tempo seco e calor, nada ideal para aquela parede, mas sabíamos que a tarde ficaríamos na sombra. Então o jeito foi aguentar o Sol da manhã que a tarde seríamos recompensados.
Como o Chuck teria que entrar no plantão às 20h, tivemos que otimizar a conquista para dar tempo de concluir a conquista a tempo.
Às 8h da manhã o Chuck abriu os trabalhos. A missão dele: repetir as 3 primeiras enfiadas até o platô. Enquanto ele ia abrindo as cordadas, eu seguia “jumareando” com o pesado haulbag nas costas levando “uma tonelada” de material de conquista.
Pela manhã, o Sol castigou, mas uma brisa ajudava a enganar. O céu estava com algumas nuvens que por vezes tampavam o Sol e trazia um pouco mais de conforto, mas logo o Sol aparecia novamente e nos castigava mais um pouco.
Por volta das 9h30 estávamos na P3, um grande platô de uns 30m de comprimento por uns 2m de largura. Um verdadeiro luxo considerando as outras paradas da via. A partir dali peguei a ponta da corda para tocar mais 3 enfiadas até a P6, onde tínhamos encerrado a primeira investida. Foquei em liberar as 3 enfiadas. Embora as enfiadas sejam relativamente curtas, uns 30m, deu certo trabalho encadena-las.
Ao meio-dia chegamos na P6, o ponto mais alto da primeira investida. Segundo os nossos cálculos, ainda faltavam uns 60m até a parte mais fácil, mas esse também seria o trecho mais vertical. Além disso, a nossa leitura não era uma linha reta para cima. Provavelmente teríamos que puxar à direita para depois voltar novamente à esquerda para vencer o trecho mais vertical sem precisar passar em artificial.
Inclusive, o nome “Caranguejo Rock n Roll” surgiu por causa dessas travessias e horizontais que tivemos que fazer para achar a linha das agarras. Aliás, todas as horizontais são crux e vão aumentando de dificuldade progressivamente. Já o “Rock n Roll” é porque enquanto conquistávamos, de alguma casa lá de baixo, alguém estava tocando uma playlist de rock no volume máximo. Assim, ficávamos ouvindo música e fazendo travessias de um lado ao outro.
A 7a enfiada se mostrou a mais dura de todas. A enfiada é uma mescla de todos os tipos e estilos de escalada que culmina num passo muito duro em agarrência. Confesso que não passei esse último lance em livro, por isso deixei “A0” no croqui. Acho que é possível passar em livre. Se escalado em livre deve chegar na casa do oitavo, pois mesmo passando em artificial, a enfiada deve ser um VII com direito a uma “travessia wasabi”. Ali o caranguejo espuma!
Quando batemos na P7 sabíamos que o jogo estava ganho. Restava apenas um grande arco com uma travessia horizontal à esquerda no final e um trecho de trepa mato para chegar no topo.
O grande arco foi conquistado totalmente em móvel, o que permitiu conquistar mais rápido do que a enfiada anterior. Tentei fazer o que uns chamam de “FA conquistando”. Algo como fazer a primeira ascensão e a conquista junto, mas acabei sucumbindo na travessia devido ao cansaço.
A essa altura, tanto eu quanto o Chuck estávamos bem cansados. Tivemos que dar muita raça e “botar para jogo” para garantir o cume. Fazia muito tempo que não me esforçava tanto para bater no cume.
Bati a P8 num lugar estratégico que facilitasse a descida. Ofereci a última enfiada para o Chuck, mas ele gentilmente cedeu a vez e fui à luta novamente.
Por volta das 16h iniciei a conquista da última enfiada. Olhando de longe parecia fácil porque dava para ver bastante vegetação, mas, no fundo, sabia que seria difícil porque a pedra não perdia inclinação.
Bati uma chapa no boulder da saída e me “entoquei” no mato. A ideia era subir por um diedro sujo, mas logo o mesmo se mostrou muito fechado, então resolvi sair à esquerda, pela face da pedra. Era mais limpa, mas mais vertical. É difícil precisar a dificuldade devido ao cansaço, mas ali, na hora parecia bem difícil. E a pedra não arredava o pé. Até o último instante a pedra se mostrou relutante em nos querer no cume. Lembrou um pouco a chegada clássica da via “Infinita Highway”(Calogi) que tem um boulder de virada no final.
Batemos no cume às 16h40, após quase 9h de escalada. Por todo esforço e dificuldade que a via ofereceu, esse cume teve um sabor especial. Sabíamos que o cume poderia ser acessado por uma trilha lateral, mas para nós teve um gosto de conquista e superação pessoal.
Leia mais sobre a via aqui!
Agradecimentos ao Chuck que entrou nessa conquista, por ter divido “a ponta” e o pesado haulbag nessas duas investidas.