Escandinávia

Uma introdução bem básica sobre modelo de exploração de petróleo no mundo: basicamente há três tipos de modelo: o privado, teoricamente sem a participação do Estado, como nos Estados Unidos; o modelo estatal onde o Estado detém o controle total, como na Venezuela e alguns países do Oriente Médio; e o modelo misto, com participação do Estado e da iniciativa privada, como no Brasil e na Noruega.

Outro resumo sobre a economia da Noruega dos últimos anos: até a década de 60, a economia da Noruega girava principalmente em torno da indústria da pesca, uma vez que apenas 3% das terras são cultiváveis. Foi a partir da descoberta do campo de Ekofisk, no offshore da plataforma continental e sucessivas novas descobertas, que o país se tornou um dos principais produtores de petróleo do mundo e o principal exportador de gás natural para Europa, ganhando mais força recentemente com a guerra na Ucrânia.

Tanto a Noruega, quanto o Brasil possuem algumas semelhanças geopolíticas na forma de gerir esse recurso, mas é sabido que o país nórdico goza de um dos melhores índices de qualidade de vida do mundo, enquanto o Brasil está numa posição bem mediana.

Nesse sentido, sempre me perguntei o que eles têm que nós não temos? O que precisamos para chegar lá? Não é preciso ir até lá para entender as diferenças, mas sempre tive muita curiosidade de conhecer um pouco mais sobre esse país, suas belezas naturais e compreender melhor o estilo norueguês.

Assim, no início de junho, Paula e eu embarcamos para Noruega para passar 10 dias entre cidades e fiordes noruegueses para tentar buscar algumas respostas.

Uma das coisas que os noruegueses apreciam muito é o contato com a natureza, principalmente durante o verão, quando há luz solar durante quase 20h por dia. Ali, tive a primeira lição norueguesa: assim que chegamos em sua capital, Oslo, entendi o quanto eles curtem a vida em sua máxima plenitude, principalmente após um rigoroso inverso e sabendo que em breve, aquele Sol da meia-noite irá dar lugar a escuridão do inverno. Nós brasileiros não temos esse problema e vivemos um verão de 365 dias e às vezes não damos o devido valor à finitude.

Sol da meia-noite.

Uma das formas que os noruegueses têm para aproveitar o curto verão é viajando pelo país em seus trailers. Inclusive, por lei você pode encostar o carro em qualquer lugar e pernoitar, respeitando claro, algumas regras básicas. A questão da segurança nem entra em cogitação num dos países mais seguros do mundo, então não há preocupação em encostar o carro num lugar ermo e pernoitar.

Para uma experiência mais autêntica, nós também alugamos um trailer para aproveitar melhor tudo que a Noruega tem a oferecer.

Caso alguém tenha caído nesse post em busca de informações sobre viajar pela Noruega de trailer, deixarei aqui um link de um blog bem completo, em português, com todas as informações sobre o assunto.

Viajar de trailer está longe de ser uma experiência econômica. Sai mais caro do que alugar um carro normal e ficar de barraca em camping. Mas tem algumas vantagens como o fato de poder dormir em qualquer lugar, poder se deslocar com rapidez e por não precisar ficar montando e desmontando barraca diariamente. Outra vantagem do trailer é a cozinha integrada que permite cozinhar em qualquer lugar a qualquer momento. Sem contar a experiência de dormir ao ar livre.

Falando em custos, a Noruega é um país caro, até para os europeus. Para nós brasileiros, com o Real se desvalorizando a cada ano, ter uma cozinha móvel foi uma economia significativa.

Dirigir pela Noruega é uma experiência que chega a ser tedioso! Estou acostumado a pegar estrada todo final de semana para escalar pelo interior do Espírito Santo e tenho a plena consciência de que passo mais perigo dirigindo do que escalando. O meu coração bate mais forte dirigindo do que num esticão!

Imaginem um lugar onde TODAS as regras de trânsito são respeitadas a risca, incluindo o limite de velocidade que não passa de 80 km/h! Imaginem a cena: você num Volvo de última geração, numa estrada perfeita, com asfalto impecável e todo mundo andando religiosamente a 80 km/h. A vida chega a ser chata… Conto nos dedos as vezes que vi alguém me ultrapassar e lembro apenas de uma vez alguém fazer uma ultrapassagem mal feita em 10 dias.

Falando em estrada, outra lição norueguesa foram os túneis! Nunca vi tantos túneis na vida quanto lá.

Quando comecei a estudar as estradas norueguesas me intrigou as longas retas em regiões montanhosas, mas não havia entendido que eram túneis, pois o tempo de deslocamento era padrão Espírito Santo: algo como 60 km por hora. Ou seja, por todos respeitarem os limites de velocidade, as viagens acabam ficando mais demoradas, mesmo com longas retas. Aliás, já tinha lido em algum lugar para não menosprezar as distâncias na Noruega.

Com isso em mente, posso dizer que a Noruega é um país enorme. Em 10 dias de férias, conseguimos pincelar rapidamente uma pequena parte do país.

O nosso roteiro começou pela capital Oslo, onde alugamos o nosso trailer que, na verdade, não foi bem um trailer, mas sim campervan. Seria algo como pegar uma van de carga e colocar uma cama com uma cozinha. Sem banheiro e sem chuveiro. Caso esteja buscando recomendações, alugamos pela Cabin Camper. Gostamos muito do serviço e da van deles. Sei que eles têm outras opções de campers, mais caras e mais simples também.

Nossa casa.

De Oslo rumos pela costa sul até a cidade de Stavanger que é uma espécie de Macaé na versão Noruega. Para quem não sabe, Macaé é uma cidade do litoral norte fluminense famosa por ser o principal hub do petróleo. Inclusive em Stavanger tem um museu do petróleo que conta um pouco a história desse recurso que foi uma espécie de bilhete premiado deles.

Tentei achar uma relação entre as infindáveis redes de túneis do país com o petróleo para saber se foi financiado por esse boom, mas não achei uma matéria sobre o assunto. No entanto, presumo que há alguma relação, até porque não é barato sair abrindo até 30 km de túnel no granito!

Em Stavanger fizemos a famosa caminhada de 8 km, ida e volta, até o mirante Preikestolen, de onde se tem uma vista privilegiada dos fiordes do sul.

Preikestolen.

Os fiordes da Noruega sempre alimentaram o meu imaginário. Os fiordes são grandes vales que se formaram pela passagem e recuo de uma geleira e que atualmente estão parcialmente inundados pelo mar.

Cachoeira Langfoss,
Sognefiord, o maior fiorde do mundo.

Estudei muito sobre os fiordes durante a graduação em geologia, sem nunca ter visto um de verdade até então! É como se um médico estudasse o coração somente nos livros, sem ter visto ou tocado um de verdade. Em outras viagens já tínhamos visitados alguns fiordes, mas sem dúvida, os fiordes da Noruega são os mais estudados e famosos.

A parte sul da Noruega foi OK. Não achamos nada lindo de morrer quando comparado com os fiordes do norte. Talvez por termos pego mais o final da primavera com dias frios e chuvosos. Nessa primeira parte, o anorak fez a festa e parecíamos que estávamos em pleno inverno.

De Stavanger fomos em direção à cidade de Flam, famoso ponto de parada dos navios cruzeiros com aposentados em busca de um pouco de aventura no passeio de trem pelas montanhas. Para nós, viajantes perdidos no meio de tantos aposentados, o objetivo era o passeio de barco para ver de dentro o fiorde mais estreito do mundo. Foi uma experiência congelante, mas valeu à pena ficar durante 2h no deck do navio quase virando pinguins!

Fiorde Naeroy, em Flam.
Casas típicas em Flam.
Mirante de Stegastein.

De Flam, seguimos para oeste, até a antiga capital, Bergen, a segunda maior cidade da Noruega.

Após passar alguns dias em meio a paz dos fiordes, chegar numa cidade grande foi bem impactante. A gente se desacostuma a ver gente.

Bergen é uma cidade bem simpática. Tivemos muita sorte, pois lá chove, em média, 285 dias por ano e chegamos num dos 80 dias ensolarados.

Bergem.

De Bergen seguimos para o norte em busca dos fiordes do norte.

Lá tive uma grata surpresa ao percorrer longos trechos de estrada nas partes altas ainda com neve do inverno passado.

Em toda Noruega há diversas estradas cênicas com uma vista mais linda que a outra, mas para isso é preciso sair das vias principais e rodar pelas estradas secundárias. Por sorte, durante uma estadia num camping conhecemos um casal de aposentados holandeses que nos apresentou o mapa das rotas cênicas da Noruega. Com isso pudemos sempre viajar pelas estradas mais bonitas da região. Esse mapa faz parte de um catálogo anual com a lista de todos os campings do país e pode ser encontrado gratuitamente na recepção dos principais campings.

Lago congelado.
Boayoyra.
Geleira de Boyabreen
Pista de ski cross country.

Nosso ponto mais setentrional da viagem foi a cidade de Geiranger, outro ponto de chegada de cruzeiros que sobem até ali pelo maior fiorde do mundo.

Geiranger também tem, o que é para mim, o mirante mais bonito da Noruega. Quando criança lembro de ter visto uma foto da Noruega desse mirante e aquilo ficou gravado na minha memória. Foi muito legal estar naquele mirante e conseguir reconhecer os elementos da foto. E para coroar, ainda pudemos ver a chegada de um enorme cruzeiro no fiorde, igual o da foto que havia visto na infância.

Mirante de Geiranger.

Entre fiordes e montanhas nevadas, não tem como não passar desapercebido pelas belíssimas igrejas nórdicas da Era Viking. Não sou cinéfilo nem entusiasta da mitologia nórdica, mas as igrejas são uma atração a parte que merecem uma atenção especial. Visitamos duas em especial, consideradas as mais importantes e originais da Noruega. A Lom stavkyrkje que fica em Lom. Essa funciona até hoje. E a de Borgund stavkyrkje em Borgund, onde tem um belo centro de visitante completo. Sem dúvida recomendo conhecer as duas, por serem únicas no mundo nessa arquitetura.

Igreja de Lom.
Detalhe do telhado em madeira.
Igreja de Borgund

A partir dali iniciamos a longa jornada de volta a Oslo. Foi uma longa viagem de 300 km a 80 km/h, perfeita para refletir toda experiência dos últimos dias e pensar um pouco mais sobre o que o Brasil precisa para ser uma Noruega.

Entardecer em Slovika

Sobre Oslo, posso dizer que tive uma boa impressão. Uma cidade limpa, organizada e muito agradável. O ponto alto foi visitar o famoso quadro “O grito” do pintor norueguês Munch. Quando o conjunto da obra foi exposto pela primeira vez no século passado, foi recomendado pela crítica que as grávidas evitassem a exposição por ser muito perturbadora. De fato, o quadro tem um quê perturbador, intrigante.

Sobre o povo local, no início tive um pouco de receio, sabia que era povo de país frio que, em geral, é mais frio no sentido figurado, mas no fim posso dizer que foi uma grata surpresa. Achamos o povo extremamente educado, prestativo e relativamente comunicativo. Embora a língua oficial seja o norueguês, lembra uma mistura de alemão com inglês, todos falam inglês.

Durante o nosso planejamento das férias, estudamos vários roteiros e no nosso plano original havíamos incluído outros países escandinavos, mas acabamos desistindo devido ao tempo. No entanto, a cidade de Copenhague, capital da Dinamarca, acabou ficando e visitamos na chegada e na volta. Vimos duas Copenhague: na chegada a cidade pareceu tranquila e calma, cheia de aposentados. Já na volta, encontramos uma Copenhague, cheia de vida e energia. As ruas estavam mais cheias e explodiam de vida. O céu já não estava mais carregado, muito pelo contrário, estava azul com algumas nuvens que indicavam a chegada do verão na Europa.

Copenhage

Nessas andanças tive a oportunidade de conhecer muitos países, cada qual com suas belezas e particularidades, mas duas viagens sempre me marcaram: o Japão e a Islândia. A primeira pela mistura de uma cultura milenar com a modernidade e a segunda pelas belezas naturais. E agora posso dizer que a Noruega entrou para lista, não só pelas belezas naturais, mas também como um exemplo de país a ser almejado.

Acampando em Espeland, perto de Bergem.

Comentários

3 respostas em “Escandinávia”

Quem vê a Paula alegre assim nas fotos, nem imagina o que ela passa em casa com vc polindo resina para fazer agarras.

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