Pedra Paulista – Itaguaçu – ES.
No último domingo, eu e o DuNada levamos o estagiário Graveto para mais uma roubada para ver se ele “pede para sair”! O desafio do dia: 800m de escalada na maior via do estado!
A via, batizada de “Nada é o que parece ser” foi conquistada em 2010 pelos escaladores locais, Oswaldo Baldin, Hermes Pereira, Henrique Munhoz e Marcos Palhares e está localizada na aresta oeste da imponente Pedra Paulista em Itaguaçu (150km de Vitória).
A prova era simples. Acordar cedo, 5h, rodar 3h de carro, fazer a aproximação de meia-hora, uma escalada de 6h, uma descida de 1h30 e mais 3h de estrada novamente. Tudo isso sem dormir, nem piscar os olhos! Porque estagiário não pode dormir!
Pré-requisito para escalar conosco, camisa vermelha! DuNada, o estagiário e eu.
A via tem 13 enfiadas, em sua grande maioria com enfiadas bem cheias. Alias, uma boa dica é entrar com uma corda dupla de 70m para minimizar o arrasto; evitar ter que sair à Francesa na 11a enfiada; e pode descer pela via caso aconteça algum imprevisto. Leia-se chuva! Vale lembrar que a Pedra Paulista é uma formação rochosa que sobressai no relevo da região, por isso quando o tempo vira é comum “captar” muita chuva. Muitas cordadas tiveram problema com a chuva e tiveram que abortar a escalada. Por outro lado o sol também pode ser um problema, uma vez que a pedra toma sol a tarde toda!
A aproximação é um doce. O carro fica quase na base e só tem uma caminhada de uns 20min pelo pasto aberto mais uma escalaminhada de II grau até a base da via.
Aproximação tranquila de apenas 20 minutos.
A via é graduada em Ivo grau com crux de Vo grau e grau de exposição E4. Para mim, esse negócio de grau de exposição é muito pessoal e confuso. O conceito definido é vago e dá muita margem para interpretação. De qualquer forma, pessoalmente acho que a via seja um E3 com um lance de exposição respeitável no final da 3a enfiada, já chegando na parada, onde a última chapa está bem longe, agarras suspeitas, pedra mais vertical e uma rampinha fazendo mira em ti logo abaixo. De qualquer forma é uma via tradicional, então os riscos são sempre inerentes.
A escalada transcorre em sua grande totalidade em agarrência com alguns trechos de trepa/cata-gravatá (4a e 5a enfiada). No início da via, as agarras são bem quebradiças, principalmente na parte negra, onde toda atenção é importante. Já na parte superior, onde a pedra fica mais clara, as agarras são mais sólidas e a peso de humanos, ou de Gravetos. Sobre os trepa/cata-gravatás, esse sim é um estilo único e peculiar de escalada. Nesse trecho, a pedra ganha muita inclinação e o trecho é tomado de gravatás tamanho família. A escalada transcorre escalando de um gravatá ao outro, sempre procurando as chapas que insistem em se esconder. Isso sem contar as dominadas de gravatá que são um capítulo à parte. Se você é um balão, não entre na via, vai ficar todo furado.
Passado esse trecho, a partir da 6a enfiada, a pedra perde bastante inclinação, assim como a quantidade de chapeletas. Dali para cima, uma boa opção é entrar em francesa (simul-climbing) para ganhar tempo. Escalar em francesa é prático e rápido, mas há muitos riscos involvidos, por isso é legal dominar a técnica e saber avaliar os riscos antes de se meter em encrenca.
O nosso estagiário até que se saiu bem nessa empreitada. Tirando que quase morreu na 1a enfiada quando quebrou uma agarra de pé antes de costurar a 1a proteção a uns 30m do chão e quase rolar pedra à baixo. Mas imagino eu que depois desse susto, ele nunca mais vai colocar os pés em qualquer agarra sem antes dar uma estudada.
Estagiário na 1a enfiada da via, antes de tomar o maior susto da vida dele (e nosso também).
DuNada chegando na P2.
Esse dai ficou por ai mesmo…
Hora do lanche na P5. Pra variar, o DuNada filando o meu lanche…
DuNada na 6a enfiada e o tempo virando rapidamente.
A escalada é cansativa, 800m são 800m para qualquer um, seja para nós marmanjos, seja para o estagiário. Como diria o meu amigo Duca: se eu cansei, imaginem vocês!
Fechamos a escalada em aproximadamente 6h de escalada (D2/D3), escalando 5 das 13 enfiadas em francesa e o resto em cordada em “A”. E batemos no cume às 16h 20, faltando apenas 40 minutos para o sol se pôr. Maldito inverno…
Fizemos um lanche rápido, algumas fotos e partimos pedra à baixo pela trilha. Afinal de conta, o cume é só a metade do caminho. Considerando que tínhamos um desnível de quase 500m, já sabíamos que viria roubada pela frente. A descida normal é muito longa e extenuante, mas tínhamos um beta do Karapeba sobre um “atalho”. E atalho é assim, nunca é de graça, pois a distância mais curta entre dois pontos é uma subida íngreme (lei de Murphy). No nosso caso, uma descida… Nos embrenhamos mato abaixo, antes de escurecer totalmente e em 1h30 de caminhada chegamos no carro.
Depois disso, mais 3h de estrada, com muitas curvas e chuva, mas pelo menos, para a nossa alegria (e tristeza do estagiário), passamos 3h sacaneando o estagiário que insistia em querer dormir.
Chegando no cume após 6h de escalada!
No cume, com os Cinco Pontões ao fundo.
E o loooongo caminho de volta. Correndo para chegar antes de a noite cair…
Croqui da via. Considerar distorção na imagem a partir da P5. Todas as enfiadas têm aproximadamente 60m.
Gostaria de parabenizar os conquistadores pela, literalmente, grande conquista e pelo empenho, pois o bichinho ai é grande tá?!
Uma resposta em “Estagiário em roubada de 800m”
[…] junho de 2014, DuNada, Graveto e eu fizemos a repetição da via “Nada é o que parece ser” na Pedra Paulista em Itaguaçu. Naquela ocasião, durante a descida, vislumbrei algo que lembrava […]