Não sei por aê, mas aqui em Vitória, o calor está literalmente sufocante! E olha que o verão ainda nem chegou. Ok, Vitória já é quente por natureza, faz calor o ano todo, mas assim, quente e abafado é a primeira vez em 7 anos.
Escalar nessas condições então… Fazer via tradicional então…
Mas eis que surge uma teoria: para fugir do calor só há uma solução, subir! Ir para um lugar alto, onde é “mais frio” e venta mais. E nessas condições só há 2 lugares no estado, a região do Caparaó (onde fica o Pico da Bandeira) e a região do Forno Grande em Castelo.
Como a região do Caparaó fica muito longe (5h), a melhor opção é o Forno Grande que é a 2a região mais alta do estado. Assim, apostamos as fichas na Pedra Pontuda que fica ao lado do Forno Grande para tentar fugir do calor e conseguir escalar num clima mais agradável.
Já estive outras vezes na Pedra Pontuda, não é uma montanha difícil de escalar, 40 grau no máximo, mas para mim a Pontuda é a única escalada que tem clima de montanha no estado. É um lugar com um micro-clima de montanha, ambiente de montanha e uma via com estilo de montanha. A via normal da pontuda só tem 3 proteções fixas da conquista original, mais 3 grampos “penetras” batidos por repetições posteriores, sendo que todas proteções fixas são totalmente desnecessárias e substituíveis por móveis à prova de bomba. Inclusive para descer da montanha não precisa de nenhum grampo nos rapeis, pois os rapeis são em árvores e bico de pedra. Ou seja, é uma montanha totalmente cleam de se escalar.
Pessoalmente tenho um apreço especial por essa montanha, mesmo não sendo uma escalada muito limpa ou difícil, gosto demais de subir essa montanha para apreciar o visual do cume.
Nesse espírito, fomos eu, Zé e Sandro para a Pontuda com a intenção de abrir uma nova variante seguindo um outro sistema de fendas paralelas a original que tinha visto da outra vez que estive lá. A ideia original era abrir uma linha totalmente limpa (de proteções fixas) e independente.
Estudando a linha da via pela face norte.
De fato a nova linha se mostrou bastante promissora. Começamos a enfiada, de uns 40m, em móvel seguindo uma fenda contínua até um pequeno platô na base do grande diedro e depois mais uns 50m pelo diedro das bromélias até a P2, já bem próxima da P2 da via original. Vide croqui no final.
Zé na 1a enfiada da via.
Dali para cima a ideia era cortar a via original e seguir por um outro sistema de fendas até o cume. Nesse trecho o Sandro assumiu a ponta da corda, cruzou a linha original e foi tocando até o encontrar um grampo!!! Era um grampo não-original da conquista, mal batido, num pequeno platô.
Ficamos ali lucubrando sobre a origem do grampo misterioso e concluímos, ou suspeitamos, que algum escalador perdido, entrou errado no trecho final da via original, acabou batendo o grampo para proteger o lance e acabou abrindo uma variante, pois logo à direita, a uns 5m, fica um outro grampo não-original.
A nossa ideia era continuar para cima, por uma fenda que tínhamos visto da base, mas infelizmente a fenda não se mostrou muito promissora. Ela estava com muita vegetação e por vezes parecia cega. Sem contar que a pedra ganhava inclinação respeitosa. Poderíamos sair batendo chapa para chegar no cume, mas optamos por deixar a montanha cleam e acabamos terminando o último trecho pela via original.
Sandro batendo no cume. Aderência final!
Passatempo preferido no cume, identificar as montanhas ao longe!
Batemos no cume, fizemos um lanche, apreciamos a paisagem e descemos rapelando a montanha.
Sandro rapelando a pedra.
Corda abandonada no rapel. Acho que não dá mais para usar…
Grampo original da conquista de 1978.
Ah sim, sobre a teoria do calor! Conforme havíamos previsto, o clima na montanha estava muito mais amena, inclusive com bastante vento, o suficiente para cortar toda a nossa comunicação durante a escalada. No cume, tive que puxar meu corta-venta para diminuir um pouco o desconforto. Inclusive, no final da escalada, chegamos a conclusão de que subimos e descemos a montanha se deixar cair uma gota de suor!
Acho que vou voltar mais vezes nesse verão! Ainda mais agora que o carro está subindo até a base das vias!
Croqui da Pedra da Pontuda (face norte).
Uma resposta em “Fugindo do calor”
[…] nesta montanha duas vezes, uma para repetir a “Normal” e numa outra ocasião para abrir uma variante da “Normal”. E sempre que ia lá, ficava fascinado pela face norte e ficava imaginando a tal via dos cariocas […]