No post passado comentei que no domingo, Iury e eu fomos dar uma rolê pela região norte de Pancas em buscar de novas paredes. Na ocasião achamos uma parede fendada bem bacana, mas acabamos não investindo porque não encontramos os proprietários.
Pois bem, no último domingo voltamos novamente ao mesmo local na esperança de encontrar alguém.
Bingo! Dessa vez encontramos os donos em casa e conseguimos explicar nossas intenções. Conhecemos o José Marcos, dono da propriedade e sua mãe, que foram bem solícitos e nos autorizaram a acessar a pedra.
Iniciamos a aproximação por volta das 7h45. O dia prometia muito calor, mesmo estando em pleno inverno. A caminhada foi intensa, ganho de elevação significativo e trepa mato no final. Levamos aproximadamente 45 minutos de caminhada.
A linha da via estava bem clara. Comecei puxando a ponta num misto de trepa-mato em arranha-gato e pedra. O início parecia uma provação para entrar no paraíso. Passado o trecho inicial, uma fenda dupla me aguardava. Como é de praxe no granito de Pancas, a fenda não assentava bem as proteções móveis, então tive que escalar com um pé atrás.
Estabeleci a P1 num pequeno platô, ao lado de uma grande chaminé que só de olhar assustava. Nessa hora, dei graças a Deus por não estar entocado lá dentro.
Chamei o Iury que, mais uma vez, subiu leve. Jogamos tudo numa mochila de ataque de 20L: 2L de água para nós dois, 20 chapeletas, algumas géis, lanterna e anorak.
A próxima enfiada prometia ser a cereja do bolo da via. Uma travessia delicada, protegida com duas chapeletas, me levou à base da grande fenda frontal a perder de vista. A fenda se mostrou um pouco mais trabalhosa do que o espera. A verticalidade aliada a largura da fenda, fenda de Camalot #4, deram uma boa sugada.
Estabeleci a P2 num platozinho e chamei o Iury que subiu xingando alguém.
À cima, a enfiada parecia seguir no mesmo estilo, mas logo acima dava a impressão de que perderia um pouco de inclinação.
Estiquei 60m de corda pela fenda e estabeleci uma parada móvel no platô que marca o topo do grande totem. Atingimos a primeira meta do dia. Olhamos para cima e um enorme rampão de granito nos aguardava. O Iury olhou para o rampão e quis pegar a ponta da corda. Fiquei bem feliz porque a essa altura do dia, o sol estava nos castigando com força e a sombra da parada estava bem agradável.
O Iury pegou a ponta e começou esticando a corda até chegar num platô onde pretendia bater a primeira chapa. Só que quando chegou no platô descobriu que a borda era abaulada e a dominada seria estranha. De alguma forma, ele fez a virada e bateu a primeira chapa. Dali para cima, um granito chapiscado o aguardava até chegar no platô superior. Ele tentou uma vez, tentou mais uma e resolveu baixar.
Trocamos a ponta e achei um caminho pelo lado e ganhei o platô. Estiquei toda corda subindo em diagonal pelo platô.
Enquanto ia subindo fui notando que o platô se formou exatamente num grande veio de rocha. Como ali a rugosidade era bem maior, o solo conseguiu se fixar e as plantas cresceram.
Estabeleci a P4 em chapas e chamei o Iury que subiu inconformado por não ter visto a passagem pelo lado. Essa coisa de ler a pedra durante a conquista realmente requer rodagem. Coisa que só adquirimos estando na ponta da corda.
A próxima enfiada seguiu pelo veio de pegmatito lotado de agarras em diagonal. De repente, o veio sumiu. Ali, bati uma chapa e fui em direção a uma árvore que parecia ser um bom candidato para parada na sombra. A corda nem chegou a esticar, mas entre ter uma parada na árvore e uma parada no meio da pedra, fiquei pela primeira opção.
Dali para cima o cume parecia logo ali. O terreno já estava mais fácil e o Iury assumiu a ponta. Eu praticamente me deitei no chão e só fui dando corda enquanto ficava ouvindo um funk de gosto duvidoso que vinha de alguma casa do fundo do vale.
A uma e trinta da tarde, chegamos no cume, ou melhor, em mais uma árvore sombreada, onde bebemos o resto d’água que havia sobrado para essa ocasião. Subir leve e rápido é bom, mas tem seu preço.
Antes mesmo de iniciar a conquista, o Iury já tinha cantando o nome da via: Medalha de Ouro. Para entrar no espírito olímpico, mas ao final da conquista, achamos que a via estava mais para Medalha de Bronze. Mas no dia seguinte, o Iury achou que seria melhor “Medalha de Honra, para motivar futuras repetições.