A temporada deste ano foi, mais uma vez, totalmente atípica com muita chuva no inverno. Não foi como a temporada de 2014 que foi uma tragédia em termos de escalada. Pelo menos esse ano deu para salvar alguma coisa.
Em “tempos normais”, “a temporada oficial” encerra em novembro com a chegada das chuvas de final de ano, mas pelo visto, este ano, as chuvas mais intensas chegaram com um mês de antecedência.
O final de semana retrasado já foi bem chuvoso. Nem sei como conseguimos fazer duas paredes naquelas condições, pois tivemos muita sorte.
Já no último final de semana, a coisa foi igualmente “dramática”.
Lídio Alvarenga
No sábado, Lu, Xerxes e eu repetimos a via “Lídio Alvarenga” no Laje das Pedras em Guarapari. Essa via foi conquistada por escaladores do Rio no final da década de noventa e logo ganhou fama de ser uma via mal-protegida. Grampos mal-batidos com bastante espaçamento eram a tônica da via. Mas um aspecto em particular chamava a atenção na via. Durante a conquista, o guia, quando chegava num bom lugar para bater o grampo, tipo um platô, em vez de fazer o furo ali, fazia um furo de cliff, ganhava mais meio metro e batia o grampo. Com isso, ele ganhava mais meio-metro de proteção. No entanto, para quem repete a via, esse meio metro a mais faz muita falta, pois é preciso entrar no lance para costurar sempre no veneno.
Em 2014, repeti essa via com o Afeto e sofremos com esses grampos. E para deixar a escalada mais emocionante, ainda fizemos a última enfiada sob uma fina garoa.
Em 2017, os conquistadores da via realizaram um trabalho de manutenção, intermediando alguns lances e substituindo os grampos mal batidos por chapeletas de aço inox.
Desde então tive muita curiosidade em voltar à via para ver o resultado do trabalho. E essa barca de última hora, num sábado de tempo nada amistoso veio a calhar para salvar o dia .
Chegamos perto do meio-dia para entrar na via. Começamos os trabalhos com a Lu guiando e enfrentado seus demônios na 1a e 2a enfiada. A partir dali, peguei a enfiada crux e toquei até a P3. Ficou claro que as novas proteções deixaram a via bem segura, mas ao mesmo tempo, notei que as chapas estavam com pontos marrom, sugerindo alguma reação do sal marinho com o aço inox. Vale lembrar que essa parede está a menos de 8km de distância do mar. E a UIAA recomenda não utilizar esse tipo de proteção a menos de 20km. Então, fica a dica para não confiar 100% nessas chapeletas mesmo estando com a “cara” perfeita.
Assim que cheguei na P3, o tempo que já estava feio, piorou e começou a garoar. Nesse momento cometi mais um erro fatal. Eu confiei na minha memória de 4 anos atrás e não estudei o croqui. Logo, achei que a próxima enfiada seria a última e pensei que daria tempo de terminar a via antes de a chuva apertar de verdade. Belo engano, na verdade ainda faltavam mais 2 enfiadas e não uma. Por sorte, o tempo deu outra virada, a chuva cessou e conseguimos terminar a via sem maiores problemas. Mas a lição ficou: sempre estudar o croqui, mesmo sendo uma repetição.
No dia seguinte, domingo, ainda rolou um Calogi básico sob condições muito adversas com garoa e chuva constante ao longo do dia. Por sorte, as paredes de Calogi não molham com a chuva. Então o jeito foi escalar quando a chuva dava uma trégua e descansar quando a chuva apertava.
Vídeo
Continuo testando a minha Gopro assim como mexendo nas edições. Ainda não consegui definir um fluxo de trabalho ideal, nem entender melhor quais configurações usar para filmar. Dessa vez, editei todo vídeo no meu próprio celular. Os testes e estudos continuam…