Censo comunidade de escaladores do ES (resultados)

Em outubro deste ano, a escaladora local Yasmin Dilkin encabeçou um censo sobre a comunidade de escaladores do Espírito Santo, realizado uma pesquisa online com perguntas de múltiplas escolhas. Após um período de um mês para responder as perguntas e processar os dados, finalmente saíram os resultados!

Comparando com o trabalho realizado pela Beatriz, que fez o primeiro censo sobre os escaladores locais em 2015, e que serviu de base para o trabalho da Yasmin, vemos que de lá para cá, não tivemos nenhuma “virada de mesa” significativa. Os resultados mostram um leve aumento nos percentuais, inferior a 10% na maioria das respostas, e sem mudanças significativas em termos proporcionais.

Castelo – ES

Analisando os resultados, alguns aspectos chamaram a minha atenção:

Os points mais frequentados do Estado são o Morro do Moreno em Vila Velha e o Calogi na Serra. Naturalmente esse resultado era esperado, uma vez que 3/4 dos escaladores moram, ou em Vitória ou Vila Velha. Por outro lado, me chamou a atenção que pouca gente viaja para escalar (65% das pessoas nunca viajaram ou não viajam com periodicidade) Ou seja, a maioria fica nos mesmos picos de sempre. Segundo levantamento deste site, somente 1/3 vias do Estado ficam na região metropolitana e o restante no interior. E quando cruzamos essas duas informações vemos que os escaladores capixabas ainda conhecem muito pouco as escaladas do Estado.

Se formos ver as possíveis causas, quando perguntando sobre as possíveis limitações para prática da escalada, vemos que quase a metade reclama da falta de tempo (45%), que é um dos grandes problemas da sociedade moderna atual. Viajar para escalar dentro do Estado realmente requer tempo. Qualquer “puxada” de 150km são 3h de carro. Somando ida e volta são 6h de carro. E para quem está sem tempo, 6h são muitas horas. Em segundo lugar, as pessoas responderam que a falta de companhia é uma limitação. Considerando que quase 90 pessoas responderam a essa pesquisa e que elas representam quase a totalidade dos escaladores do ES, vemos que ainda somos uma comunidade muito pequena quando comparado com outros Estados. E isso é quase um paradoxo, porque se formos comparar, por exemplo com o Rio Grande do Sul, temos mais história e mais vias, no entanto menos escaladores.

Pancas.

Outra questão que foi comentado no campo dos comentários por uma pessoa, mas que reflete a realidade é a questão das “panelinhas”. Inclusive, o trabalho da Beatriz em 2015 foi exatamente com foco no que ela chamou de “tribos”. Eu acho que as “panelas”, são organizações naturais do ser humano e não está restrito entre os escaladores. É claro que aqui no Espírito Santo tem uma forte questão cultural que ajuda amplificar um pouco esse efeito. A Associação Capixaba de Escalada tem organizado anualmente eventos de integração para aproximar todos os escaladores e tem funcionado muito bem, mas no dia-a-dia, ainda vemos que se escala em grupos fechados. E esse ano em particular, vemos o efeito se amplificar mais ainda por causa da pandemia. Eu mesmo tento escalar sempre com as mesmas pessoas para minimizar os riscos.

Outra coisa que achei interessante é que apenas 18% dos escaladores tem mais de 12 anos de escalada (o escalador mais velho, “os” tem 25 anos de experiência). O restante dos 82%, quase a metade (45%) dos respondentes escalam a menos de 2 anos. Ou seja, em relação a pesquisa de 2015, temos uma nova safra de escaladores (as) a caminho, o que é muito bem vindo para oxigenar a comunidade e dar continuidade ao esporte. Por outro lado, vemos muita gente parando de escalar também. Para quem, como eu que me mantive na ativa nos últimos anos, é notável a chegada de uma nova geração, principalmente quando vou para rocha, assim como perceber a ausência de outros escaladores (as) que sumiram das montanhas. Mas esse é o processo natural da vida, estranho sou eu que nunca saio dessa vida.

Eric Penedo na via “Expresso da Meia-Noite” (8a), Calogi, ES.

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