Uruguai para mim era:
O Rio Grande do Sul faz fronteira com o Uruguai ao sul!
Era isso que eu precisava saber sobre o país para garantir 0,25 na prova de geografia quando caía a clássica pergunta sobre os limites com Rio Grande do Sul.
Mesmo tendo nascido e me criado no Rio Grande do Sul, logo ali no lado, pouco se fala sobre o país vizinho, e lembramos mais dos arque-rivais argentinos. Às vezes, até esquecemos desse pequeno país, menor do que o estado do Paraná em extensão e com somente 3,4 milhões de habitantes.
Visitar o Uruguai nunca entrou na lista dos meus desejos, mas confesso que nos últimos anos tenho lido bastante sobre o país: sistema político, governo, PIB e IDH… E isso acabou ascendendo um interesse maior em conhecer esse pequeno país com índices de qualidade de vida padrão europeu encravado entre o Brasil e a Argentina.
Assim, no feriado de Carnaval, Paula e eu resolvemos fazer um tour pelo Uruguai, conhecendo as principais cidades, para saber por que a grama do vizinho é mais verde.
Como moramos em Vitória (ES), optamos (por falta de opção) voar até a capital Montevidéu, alugar um carro e percorrer as principais cidades. Para quem mora no Rio Grande do Sul, visitar o Uruguai de carro é, sem dúvida, uma boa opção. Aliás, vimos muitos brasileiros por lá e pelo sotaque notamos que eram em sua grande maioria sulistas.
Montevidéu

A capital Montevidéu tem a cara de Porto Alegre! Até a geografia é muito parecida, com seus morros urbanos, baixadas e planícies. A diferença é que Porto Alegre é banhada pelo Rio Guaíba, enquanto Montevidéu, pelo Oceano Atlântico.


Passamos pouco tempo na capital para falar com autoridade sobre ela, mas podemos dizer que foi uma experiência positiva. Cidade organizada, ruas limpas e uma boa sensação de segurança ao andar. O centro da cidade, embora um pouco caído, é bem charmoso, melhor do que Porto Alegre. E o Mercado del Puerto, uma das principais atrações da capital, estava apinhado de turistas, mas nesse quesito o Mercado Público de Porto é mais tri. A grata surpresa foi conhecer, meio que sem querer, o museu do artista uruguaio Torres Garcia. Lembram daquele famoso quadro da América do Sul invertido? Pois então… É um museu bem simples, com somente quatro andares, mas muito bacana.


Cabo Polonio
De Montevidéu, rumamos em direção ao Chuí, para o norte, até o Parque Nacional de Cabo Polonio. Cabo Polonio é (ou já foi) um reduto hippie, num cabo com um pequeno farol chumbado sob o granito. O local não possui água encanada, nem energia elétrica (mas tem sinal telefônico, quanta ironia…). Para chegar ao povoado, é preciso deixar o carro num estacionamento e pegar (pagar) um caminhão 4×4 caindo aos pedaços para percorrer as dunas e praias para chegar lá, já que não é permitido chegar de carro no cabo.

Esse contexto de isolamento, aliado ao fato de não ter energia elétrica, faz desse lugar um local único. As próprias acomodações são bem rústicas. Não sou um bom parâmetro para acomodações, pois o meu sarrafo de acomodação é muito baixo, mas confesso que fiquei surpreso considerando a fortuna que pagamos. A nossa casinha, naturalmente, não tinha energia elétrica, nem água encanada. O banheiro funcionava no sistema de baldinho e o banho era no lado de fora, num chuveiro frio, claro.

Definiria Cabo Polonio como um destino root chic. Tudo simples, mas tudo salgado. É preciso estar disposto a desembolsar para ter uma experiência primitiva.
Particularmente, gosto desse tipo de vivência. Perrengue é a minha praia, mas não sei se me mudaria para lá. O vento e a maresia parecem corroer tudo, até a alma. Fiquei imaginando como seria passar o inverno por lá…

Para nós, a grande atração de Cabo Polonio ficou por conta dos leões marinhos que descansam nos rochedos em volta do farol. É daquelas atrações em que ficamos horas apreciando os bichos. Numa das manhãs, fomos até o centrinho, compramos o café da manhã e fomos ao rochedo ver os leões marinhos não fazendo nada, só observando, enquanto tomávamos o nosso café.


Punta del Este
Sim, saímos de Cabo Polonio e fomos para Punta! Quem conhece consegue imaginar (ou não) o contraste. Punta é a praia mais badalada do Uruguai. Praia dos ricos e famosos, uma antítese em relação à Cabo Polonio. Para amplificar ainda mais o impacto, chegamos à cidade no meio do feriado de Carnaval! A cidade estava um fervo. Se de um lado estávamos aliviados em poder tomar um banho quente, com luz, ficamos um pouco incomodados com tanta gente em volta.


Passamos pouco tempo em Punta, o cronograma estava apertado e acabamos não aproveitando todo potencial da região. Talvez tenha sido a deixa para voltar outra hora, com mais calma e de preferência sem ser durante o Carnaval.

Colonia del Sacramento
De Punta, demos outro salto e fomos parar em Colonia del Sacramento, no outro lado do país. Se em Punta estávamos nos sentindo velhos, em Colonia éramos os jovens!
A perna de Punta até Colonia foi longa, 300 km, a maior da viagem, mas foi muito bacana porque sempre tive muita curiosidade em saber como eram as estradas e paisagens do interior. Mais uma vez, a paisagem lembrou as estradas do sul do Rio Grande do Sul. A diferença ficou por conta da qualidade. Se no Rio Grande do Sul, as estradas do interior são mal conservadas, aqui, elas são como um tapete. É claro que pagamos um alto preço por esse conforto. As rodovias são pedagiadas, e cada brincadeira dessas não sai por menos de R$ 20,00 (U$ 3,00). Falando nisso, outro aspecto que saltou aos olhos foi o preço do combustível: R$ 10,00 o litro. Algo como U$ 2,00 o litro, o dobro do Brasil. Lembrando que o Uruguai não produz petróleo e precisa importar 100% do que consome.
Colonia del Sacramento é uma cidade histórica que lembra ora um pouco Patary no Rio de Janeiro, ora Cacapava do Sul no Rio Grande do Sul.

A cidade foi fundada pelo português Manuel Lobo a mando de Dom Pedro em 1680 como uma forma da coroa portuguesa marcar terreno mais ao sul. Mas os espanhóis, que já tinham a cidade de Buenos Aires no outro lado do Rio de La Plata, não gostaram da ideia e tomaram Colonia, expulsando os portugueses. Essas idas e vindas duraram mais alguns anos até resolverem o impasse no canetaço, criando a República do Uruguai em 1825.

O bacana de Colonia é ficar caminhando sem compromisso entre as ruelas históricas do centro histórico. Para nós que gostamos de fotografia, é sem dúvida, um prato cheio.







Diríamos que Uruguai foi uma grata surpresa, fomos sem muitas expectativas, mas saímos de lá com planos para voltar.

