Essa semana, o mundo da escalada esportiva está em frisson total com a visita do jovem prodígio Adam Ondra a Red River Gorge, EUA. O moleque mal chegou e já “flashou” a via Southern Smorke Direct, um 9a+ (FRA) realizando o flash mais alto da história (na verdade ele decotou depois a via para 9a…). Lembrando que o grau máximo “avistado” (e confirmado) é um 8c+ (FRA) e o red point mais duro um 9b+ (Change, Noruega) ambos pelo próprio Adam Ondra (!!!!). E pelo andar da carruagem, acho que logo logo (ainda essa semana) teremos a quebra da barreira do nono à vista (update:Adam Ondra manda Pure Imagination à vista!).
O famoso escalador alemão Alex Huber disse uma vez que há uma relação numérica entre a escalada à vista e a trabalhada (red point). Segundo ele, se o seu grau à vista é por exemplo, um 8a (BRA), o seu grau trabalhado giraria em torno de duas letras a mais, ou seja, 8c (BRA). O grau trabalhado, nesse caso, ele se refere a mandar uma via na 2a ou 3a tentativa. E o seu “grau máximo trabalhado” seria em torno de duas letras acima do seu “grau trabalhado”, ou seja, 9b. O “grau máximo trabalhado” seria aquele projeto à longo prazo que você leva um bom tempo para mandá-lo. Algo como vários dias de trabalho. Já o grau flash, ficaria em torno de uma letra acima do seu grau à vista.
Não me lembro muito bem onde li isso, mas desde que eu li essa matéria, uso essa teoria como guia para as minhas escaladas e notei, com o passar dos anos, que a teoria funciona muito bem. É claro que, às vezes, não funciona perfeitamente, mas em geral tem uma boa correlação. Vide o exemplo acima do Adam Ondra!
Outra coisa interessante é saber se os seus limites estão bem parametrizados, principalmente o grau à vista que é a base de tudo. Se você está mandando 8c trabalhado e não consegue mandar um 8a à vista, alguma coisa está indo errado na sua escalada. Se você manda um 9b trabalhado depois de 2 meses de luta e não é capaz de mandar um 8a à vista, você precisa rever seus conceitos. Lembrando sempre que o histórico só vale considerando o seu desempenho dos últimos 6 meses (ou no máximo um ano).
A realidade mostra que a maioria dos escaladores brasileiros não têm o grau máximo trabalhado ajustado com o grau à vista. Muita gente é capaz de mandar um 9b batalhado, mas não consegue mandar um 8a à vista!!! Em parte, isso se deve a falta de vias no Brasil. Como temos poucas vias nas áreas que frequentamos, acabamos tendo poucas opções para trabalhar a escalada à vista e trabalhamos muito mais o “grau máximo trabalhado”. E isso nos leva a um falso patamar. Você manda um 9b mega macetiado de tanto batalhar, mas quando vai para uma falésia nova não é capaz de mandar um 8a à vista.
É claro que você pode achar que o seu grau à vista pouco importa e que o “grau máximo trabalhado” é o mais importante, mas se for ver, a essência da escalada esportiva está na escalada à vista, que por sua vez é a essência do montanhismo; de explorar o desconhecido, superar o medo, de simplesmente olhar para um pedra e sair subindo. Por isso, eu valorizo demais a escalada à vista. Até porque só há uma chance à vista por via. Deixar essa única chance passar para “trabalhar” a via de costura em costura para tentar mandar na 2a entrada é, com certeza, perder uma grande oportunidade de aprender muito mais sobre si mesmo e a escalada em troca da satisfação do seu ego.
Então a dica é: vamos escalar mais à vista! E se a sua área de escalada não tem mais via para mandar à vista, abra novas áreas, abra novas vias e, acima de tudo, viaje mais para conhecer novas áreas de escalada! É só sair da sua zona conforto que a sua escalada irá alavancar! Seja um Adam Ondra! Ou pelo menos inspire-se nele!