XIII Encontro Capixaba de Escalada

Sabe quando temos a sensação de que estivemos presente num evento que vai fazer história? Acho que o XIII Encontro Capixaba de Escalada foi exatamente isso!

O evento, organizado pela Associação Capixaba de Escalada, aconteceu na cidade de Pancas, mais especificamente nas dependências do Camping Cantinho do Céu e contou com a participação de mais de 60 inscritos, entre escaladores locais e de fora do estado.

A última vez que um Encontro de Escalada aconteceu em Pancas foi em 2012. Na época, Pancas tinha apenas 12 vias conquistadas. E agora, 12 anos depois, já são 100 vias, entre esportivas e tradicionais.

Fiz parte do Grupo de Trabalho da ACE que organizou o evento e ainda lembro do dia que conversei com o Fabinho, dono do camping, quando começamos a falar sobre a possibilidade de trazer o evento para Pancas novamente. Vimos que Pancas é conhecida por escaladores do fora do estado, mas para nova safra de escaladores locais segue sendo desconhecida. Além disso, notei que Pancas passou por um boom de novas conquistas que poucas pessoas conheciam. Se em 2012 tínhamos 12 vias, em 2018, quando foi lançado o livro Escalada Capixaba de Oswaldo Baldin, já tínhamos 48 vias e desde então, o quantitativo de vias mais do que dobrou. Colocando tudo isso na mesa, me pareceu muito óbvio que estava na hora de reunir a turma novamente nesse paraíso ímpar do Espírito Santo.

O oficialmente, o evento começou no sábado, mas muita gente já se adiantou na 6a feira e chegou no dia anterior para aproveitar o final de semana, que por sinal, prometia céu de brigadeiro e temperaturas elevadas, mesmo estando em pleno inverno.

Chegando em Pancas!

Já na 6a a noite tivemos o primeiro evento (não-oficial), onde os escaladores José Márcio, Sandro Souza e eu ministramos uma pequena oficina de Escalada Tradicional. Semanas atrás, ministramos essa mesma oficina na sede da associação, já pensando no evento. E agora, repetimos para os que não puderam participar da primeira vez.

Oficina de escalada tradicional

No sábado, o movimento no camping começou cedo, com muita gente se mobilizando ainda de madrugada. Uma das regras da escalada tradicional em Pancas é acordar cedo para aproveitar o frescor da manhã.

Movimento pela manhã.

Um dos objetivos do evento foi apresentar a escalada tradicional para os novos escaladores, então durante a organização do evento foram oferecidas cordadas mescladas entre os mais experientes e os novos para compartilhar um pouco essa vivência.

Com isso, a minha cordada foi composta pelos escaladores Wesley e Duda, ambos cria do Iury pelo projeto Colaboulder de Colatina.

Escolhi a via “Lua de Mel” na Pedra do Jacaré para fazer a escalada com os dois. Essa via foi conquistada em 2012, pelos escaladores cariocas Cris e Alex Ribeiro, durante o encontro de escalada daquele ano. Pelo croqui parecia uma via tranquila, mas desprovida um pouco de proteções, mas tinha a vantagem de estar ao lado do camping e ficar na sombra até o meio da manhã.

Saímos conforme o combinado às 6h da manhã e logo nos dirigimos à base da via. Durante a caminhada o Wesley me perguntou:

– Japa, já fez quantas vezes essa via?

E respondi:

– Vai ser a primeira vez, nunca escalei essa via!

Foi engraçado ver a cara da Duda ao saber disso. Ela não falou nada e seguiu caminhando pasto à cima.

No dia anterior, o DuNada, Brunoro e o Zudivan haviam repetido essa via, então consegui alguns betas importantes, como a localização exata da base da via e as peças necessárias para o lance da 3a enfiada.

Com os olhos de águia do Wesley, não foi difícil achar o primeiro grampo na cor da pedra. Nos encordamos, alinhamos a estratégia de comunicação e iniciamos a escalada por volta das 6h30. Com o croqui em mãos e as marcas de magnésio deixadas pelo trio no dia anterior, a navegação foi bem tranquila, mesmo com os grampos mais espaçados. O croqui fala 3o com crux de IV, mas eu daria 4o com V, seguindo o padrão local. Como essa via foi conquistada por escaladores cariocas, sabia que poderia estar um pouco sub-graduada.

Começando a escalada na sombra.
Na segunda enfiada da via.
Chegando na P3.

A escalada transcorreu sem percalços. Conseguimos tocar até a 4a enfiada na sombra e por volta das 9h15 estávamos no final da via. Aproveitamos para fazer um pequeno lanche no cume e logo iniciamos a descida. Como havia escalado a via Plano Avesso no início da temporada, resolvemos descer por essa via, pois o rapel pela via não parecia a melhor opção. Aliás, a via Plano Avesso permite rapelar com uma corda de 60m.

Foto no cume.

Em menos de uma descemos da montanha e antes do meio-dia já estávamos de volta no camping.

Diria que essa via é uma boa opção para quem já está acostumado com o estilo de Pancas. Sem dúvida, o guia irá se divertir com as passadas longas. Já para os participantes, a escalada segue bem tranquila, sem grandes emoções.

Croqui atualizado.
Osvaldo Baldin escalando a via Super Canaleta, no Morro do Camelo.
Zudivan escalando a via Canaleta Joinvile, Morro do Camelo.

Como eu já sabia que essa via iria ocupar apenas um turmo, combinei com o Lissando e a Yasmin uma cordada para tarde. Para escalada da tarde, a via escolhida foi a Fissura das Deusas na Pedra do Tubarão.

Essa via, ao contrário da Lua de Mel, já tinha escalado umas 2 vezes. Conquistei essa via em 2022, com a Maisa e a Riva e depois repeti com o Sequinho meses depois para melhorar um lance de E4 da 4a enfiada. Para mim, essa é umas melhores vias em móvel do entorno, principalmente pela fissura frontal da 2a enfiada e o lance vertiginoso da 4a.

Saímos ao meio-dia do camping e assim que começamos a subida pelo costão ficou claro que a escalada não seria de graça, pois o calor estava castigante. Para piorar, ainda tivemos que bater facão num matagal de bambu que foi um verdadeiro teste de resiliência.

Chegamos na base da via por volta das 14h e sem perder muito tempo iniciamos a escalada. Lá pela metade da 1a enfiada os meus pés estavam fritando no granito preto. Tentei escalar o mais rápido que pude para sair daquela chapa quente, pois sabia que na P1 teríamos uma pequena sombra. A Yasmin chegou na P1 e deu P.T. Achou melhor ficar por ali enquanto terminávamos a escalada.

A segunda enfiada foi um deleite de 50m. Foi bom para relembrar como essa enfiada é incrível.

Trocando de fissura.
Fissura da 3a enfiada.

Rapidamente chegamos no grande platô da P3 onde descansamos um pouco na sombra dos arbustos.

Dali, fomos até a ponta esquerda para pegar a fissura da 4a enfiada. Por sorte, essa enfiada já estava na sombra e pudemos aproveitar melhor a escalada que, por sinal, também é muito boa!

A 5a enfiada foi um protocolo e o Lissandro assumiu a ponta para sentir um pouco o espírito da escalada de Pancas e dali seguimos em simultâneo até o cume.

Por sorte encontramos o cume na sombra, o que foi um grande alívio depois de tanto sol durante o dia.

Assinando o livro.
Foto no cume!

Como já estava ficando tarde, não perdemos muito tempo e logo iniciamos a descida recolhendo a Yasmin na P1.

Entardecer com vista para a Pedra do Camelo.

Como de praxe, depois da escalada fomos até o postinho tomar sorvete com refrigerante.

Voltamos ao camping e já encontramos a janta preparada pela dona Joana e a Nair, um verdadeiro manjar depois de um longo dia de escalada!

Após a janta, fiz a palestra da noite contando um pouco mais sobre a repetição da via Lurking Fear no El Capitan. Depois, tivemos o tradicional sorteio dos brindes e a clássica confraternização.

Palestra da noite. Foto: Yasmin.
Sempre tem história. Foto: Yasmin.
Foto: Yasmin.
Kit do evento! Camiseta e bornal. Foto: Yasmin.
Brinde dos nossos apoiadores.
Fabinho e Lu. Foto: Yasmin.

Já no domingo, após o café da manhã, tivemos a foto oficial do evento e depois, duas palestras técnicas. Primeiro foi a apresentação de mestrado da Fabiola que falou um pouco sobre as plantas endêmicas de Pancas. Quem escala na região sabe que somos muito privilegiados em poder acessar os cumes desses inselberges e estar ao lado de uma flora extremamente rica e exuberante. Então essa palestra foi muito legal para saber um pouco mais sobre essas plantas incríveis e sua importância para esse bioma em extinção.

Amanhecer em Pancas.
Amanhecer no camping.
Resenha da manhã.
Área do evento.
Café da manhã.
Foto oficial.
Palestra da Fabiola.

Logo em seguida tivemos a palestra sobre equipamento móvel, ministrado pelo escalador Sandro Souza que tentou desmistificar um pouco a arte das proteções móveis, mostrando os vários equipamentos que utilizamos nesse estilo de escalada.

Palestra do Sandro.

Olhando sob a ótica de quem esteve desde a concepção do evento até o fim, posso dizer que o evento foi um grande sucesso sem intercorrências. Talvez o São Pedro pudesse ter sido um pouco mais generoso, mas não podemos reclamar. Antes calor do que chuva!

Eric e Xerxes escalando na Pedra da Boca.
Zudivan, Sílvia e Patrícia na via Presente da Águia.

No mais, gostaria de deixar registrado os meus agradecimentos ao Fabinho e família por receber a turma de braços abertos; ao GT que trabalhou meses a fio para que tudo acontecesse tranquilamente e a todos os participantes que estiveram no evento prestigiando o encontro.

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