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Japão – De volta para o futuro – 15.000 anos de história

Sob a óptica da geologia, o Japão é um país relativamente novo, tem algo como uns 15 milhões de anos. Só para se ter uma ideia, a rocha mais antiga do Brasil tem aproximadamente 2,5 bilhões de anos!!! Por outro lado, a história do Japão é bastante antiga e muito rica. Os primeiros habitantes que se instalaram no país foram os Jomons, ancestrais dos Ainus a 13 mil a.C..

Por volta de 400 a.C., o povo Yayoi apareceu no sudeste do Japão, vindos provavelmente da Coreia, cultivando arroz irrigado e usando ferramentas de metal.

Nós ocidentais somos praticamente “analfabetos” sobre a história da civilização oriental. Eu pelo menos, tive uma aula muito rasteira sobre a civilização chinesa e quase nada sobre a história do Japão. Por essas e outras, nessa viagem, quis recuperar o tempo perdido estudando e conhecendo melhor a história do Japão. E o melhor lugar para começar isso na prática é visitando o Museu Nacional de Tokyo. Se você for a Tokyo e quiser visitar apenas um museu, que seja esse, pois é um excelente lugar para começar a entender a história do Japão. Além disso, o gift shop do museu é um dos melhores que eu já fui, tem muita coisa legal! Dá vontade de comprar tudo. E de quebra, ainda tem o restaurante do museu, que serve pratos típicos da culinária japonesa, com destaque para o kaiseki, onde provei o melhor sashimi de atum da minha vida. O peixe estava tão fresco que parecia que a carne ainda pulsava dentro da boca. Ah, os japoneses adoram descrever o sabor dos alimentos com bastante ênfase!

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Museu Nacional de Tokyo.

 

Exposição de cerâmica no Museu Nacional de Tokyo
Exposição de cerâmica no Museu Nacional de Tokyo.

Por volta do ano 701 d.C., a cidade de Nara se tornou a primeira capital japonesa. Nara é uma pequena cidade turística que fica a uns 30km ao sul da cidade de Kyoto e justamente por causa da sua importância histórica, atrai milhares de turistas todo o ano que visitam um dos oito locais considerados pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Uma das, senão a mais importante, atração de Nara é o templo budista Todai-ji,  considerado como a maior construção de madeira do mundo que abriga em seu interior a figura do Grande Buda. A estátua do grande Buda é uma das maiores do mundo com cerca de 15m de altura e é toda fundida em bronze. Segundo os historiadores, originalmente a figura era toda folhada a ouro!!! De fato, o tamanho do templo impressiona qualquer pessoa até nos dias de hoje pela grandiosidade da obra.

Todai-ji
Todai-ji, reparem no tamanho das pessoas…
Daibustu, o grande Buda.
Daibustu, o grande Buda.
Segundo os primórdios do budismo, os cervos eram considerados mensageiros dos deuses.
Segundo os primórdios do budismo, os cervos eram considerados mensageiros dos deuses, por isso são considerados animais sagrados. Ainda nos dias de hoje, os bichos ficam assim, soltos na área do templo.

Outra atração de Nara que também faz parte do Patrimônio da Humanidade é o Grande Templo Xintoísta de Kasuga que fica perto do Todai-ji. Esse templo é famoso pelas suas várias lanternas de bronze.

As lanternas de bronze de Kasuga-taisha.
As lanternas de bronze de Kasuga-taisha.
Kasuga-taisha.
Kasuga-taisha.

No ano 794 d.C., a capital japonesa se mudou para onde é atualmente Kyoto e lá permaneceu até o ano de 1868 quando a Restauração Meiji levou a capital para Edo, atual Tokyo. Por isso mesmo, a cidade de Kyoto é considerada uma das mais importantes do Japão e também do mundo pelo grande valor cultural.

Kyoto antigo, na região de Gion.
Kyoto antigo, na região de Gion ao entardecer.

Pelo menos 17 atrações históricas de Kyoto foram eleitas Patrimônios Mundiais pela Unesco. Dentre elas, o templo Kinkaku-ji, é o mais famoso  e que melhor representa Kyoto e Japão.

Templo de ouro de Kyoto.
Templo de ouro de Kyoto.

Por ser um centro cultural e religioso por tanto tempo, Kyoto tem mais de 1600 templos!!!! E quando se tem apenas 3 dias, difícil é escolher quais visitar. Confesso que depois de visitar uma meia dúzia de templos, tudo começa a parecer meio igual e facilmente a gente cai um pouco no cansaço e no marasmo. Por isso tivemos que fazer um estudo prévio para ver quais templos visitar durante a nossa estadia.

Kiyomizu-dera fica na porção leste da cidade de Kyoto, junto à montanha que cerca a cidade. Dali se tem uma visão privilegiada da região. O templo fica abarrotado de turistas buscando a melhor selfie

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Kiyomizu-dera com uma vista privilegiada da cidade de Kyoto ao fundo.

Outro templo que vale a visita é o Sanjusangen-do que significa literalmente “Salão com trinta e três espaços entre as colunas”, descrevendo a arquitetura do longo salão principal do templo.

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Sanjusangen-do e seus famosos espaços entre as colunas.

Infelizmente, ou felizmente, não é permitido fotografar a parte interna do templo, onde mil estátuas de tamanho real do Exército de Mil Kannons ficam, tanto do lado direito quanto do esquerdo, da estátua principal de Kannon de Mil Braços, juntamente com as 28 estátuas de divindades guardiãs. Também na varanda de trás acontece desde o Período Edo, um torneio popular de arquearia conhecido como Toshiya. Com um pouco de cuidado é possível de ver as marcas das flechadas dos ruins de pontaria nas paredes! E para os amantes do Musashi, parece que ele lutou contra Yoshioka Denshichire (seu arqui-inimigo) neste mesmo lugar em 1604.

Outro templo bastante procurado é o santuário xintoísta Fushimi Inari Taisha que fica ao sul de Kyoto. A principal atração do templo são os toriis que foram doados por um ramo dos negócios japoneses. E eles foram colocados um em frente ao outro por uma trilha de aproximadamente 4km que leva ao cume da montanha Inari a 233m de altitude.

Por ser um lugar fotogênico e de fácil acesso via trem, o local é, mais uma vez, cheio de turistas… Por isso, o segredo é pegar a trilha de quase 4km que leva ao cume da montanha para tentar ficar longe da muvuca e buscar um pouco de paz.

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Toriis vermelho de Inari.

Outra cidade de destaque deste período que é muito procurado pelos turistas é a cidade serrana de Takayama, distrito de Hida.

Takayama é uma cidade pacata e bem agradável, um bom lugar para fugir um pouco do agito de Tokyo ou Kyoto. Ou ainda, um bom lugar para descansar depois de subir o Monte Fuji

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Pacata cidade turística de Takayama.

Em termos de atrações históricas, Takayama é bem honesta, vale uma visita ao Takayama jinja, um edifício da prefeitura remanescente do shogunato de Tokugawa. Este edifício é datado de 1816 e foi usado até 1969 pelo governo japonês. Atualmente serve como um edifício histórico e museu.

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Pelos corredores do jynja.

Mas o bom mesmo de Takayama é ficar vagando pela cidade, visitando e provando as casas de sakê, ou indo à feira que acontece toda manhã junto ao rio que corta a cidade enquanto fica hospedado em um dos famosos ryokans da região e provando a tradicional comida kaiseki.

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Kaiseki.

Nesse mesmo estilo e também desse mesmo período, a cidade de Nikko, distante a apenas 2h de trem de Tokyo, é uma outra atração bastante famosa que atrai muitos (até demais) turistas.

Nikko surgiu em meados do século VIII quando um monge budista estabeleceu um templo no local. E assim ficou no esquecimento por muitos anos, até que o local foi escolhido para ser o mausoléu de Ieyasu Tokugawa que foi enterrado em 1617.

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Mausoléu de Ieyasu Tokugawa.

Visitamos Nikko no esquema bate-volta de Tokyo em pleno domingo. E para agravar mais ainda a situação, num dia bem chuvoso. A nossa esperança era de que por causa da chuva a cidade estivesse vazia, mas pelo visto os turistas não são de açúcar e não tem medo da chuva… Talvez por essas e outras, não tenha ficado com uma boa impressão. Quem sabe uma segunda visita para tirar a limpo…

Outro lugar bacana desta período é Miya-jima que fica a apenas 10 minuto de ferry de Hiroshima. É uma pequena cidade estilo Takayama, porém com menos turistas chineses. Por sorte, a ilha não entrou no roteiro dos turistas chineses e o local é basicamente visitado por japoneses e alguns europeus perdidos.

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Torri de Miya-jima.

Juntamente com o Templo de Ouro, o torri de Mija-jima é, mais uma vez, considerado Patrimônio da Humanidade, e é considerado um dos símbolos que melhor representa o Japão.

Pessoalmente, mais bonito que o torii foi visitar o templo Daisho-in que fica na encosta da montanha ao sul da cidade. É um pequeno templo que parece que saiu de um filme de tão perfeito que é. Para mim, é disparado o templo mais bonito que visitei em toda a viagem.

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Templo Daisho-in.

Com a restauração Meiji, em 1868, a capital japonesa foi transferida de Kyoto para Edo e renomeada Tokyo. A partir de então, o Japão entrou numa nova fase de ocidentalização e expansão, saindo do período de fechamento com o mundo externo. Nessa fase de expansão incluiu invadir países vizinhos como a China (Guerra Sino-japonesa, em 1894), a Rússia (Guerra Russo-japonesa em 1904) e a Coreia. Até que em 1941 ingressou na Segunda Guerra Mundial ao bombardear a base naval americana de Pearl Harbor no Hawaii.

Em 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram a 1a bomba atômica do mundo sob a cidade de Hiroshima e três dias depois sob Nagasaki, levando o Japão à rendição incondicional e o fim da 2a guerra mundial.

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“Cúpula da Bomba Atómica” em Hiroshima.

Visitar Hiroshima faz parte da obrigação de qualquer turista que visita o Japão, não como uma atração turística, mas sim como uma importante lembrança de quão a guerra faz mal e que numa guerra todo mundo sai perdendo. Foi muito emocionante ver crianças de 10 anos fazendo juramento junto à “Estátua das Crianças da Bomba Atómica”, prometendo amizade e paz entre os colegas sob qualquer condição. Talvez seja clichê falar que as crianças são o futuro de uma nação, mas pelo menos no Japão, parece que os professores estão fazendo a parte deles, ensinando os descaminhos da guerra. Afinal de contas, uma nação que não conhece a própria história está fadada repetir os mesmos erros do passado no futuro.

O fato é que a recuperação econômica do Japão pós-guerra é quase uma lenda, ou milagre. E nada como visitar a capital Tokyo para entender um pouco isso.

Tokyo é uma cidade de quase 13 milhões de habitantes, o que o torna uma das áreas mais densamente povoada do mundo. Também é o principal centro político, financeiro, comercial, educacional e cultural do Japão com um PIB de 1.480 bilhões de dólares (maior PID do mundo por cidade).

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Tokyo vista à noite do alto da Tokyo Skytree.

Se eu tivesse que definir Tokyo em poucas palavras diria que a cidade é de outro mundo! Limpo, organizado e incrivelmente silenciosa para uma cidade com mais de 13 milhões de habitantes. Na verdade, já tinha lido muito sobre Tokyo e suas virtudes, mas é muito chocante ver ao vivo e à cores. A limpeza da cidade é absolutamente impecável, praticamente não se vê lixo no chão. É tão limpo que não existe lixeira nas ruas. Se você tiver um lixo na mão, pode procurar a cidade inteira que não vai achar um lugar para ele. A consciência é cada um cuidar do seu lixo e dar um destino correto a ele. Falando em limpeza, os banheiros públicos são tão limpos quanto os de um hotel cinco estrelas. Outro aspecto interessante é o silêncio! Duas coisas que praticamente não se ouvem na cidade: buzina de carro e som de celular. É muito raro alguém usar buzina, tudo flui na maior normalidade num caos controlado. Outra coisa que não se ouve é o som do toque dos celulares. Acho que durante toda viagem ouvi não mais que 5 vezes. Todo mundo usa o celular no silencioso e ninguém fala ao celular em público. E olha que todo mundo tem um celular e passa praticamente o tempo todo manuseando ele.

Para não falar que Tokyo é só alegria, com muito custo achei um defeito em meio a toda aquela perfeição. Se tem uma coisa que os motoristas precisam aprender ainda é respeitar a faixa de segurança. É claro que nem se compara ao Brasil, mas já vi que eles não ligam muito para a tal faixa…

Em poucas palavras (ou nem tão poucas assim), Japão é isso em 3 semanas! O Japão é melhor do que o Brasil? Sem sombra de dúvida. Se eu moraria lá? Acho que não. Apesar de todos os problemas, gosto do jeito informal (até demais) e despojado do Brasil. As formalidades, os protocolos e a polidez extrema do país, para mim, é um pouco sufocante. Além disso, o Brasil é um país gigante, ao contrário do Japão, onde espaço é um luxo. Só em lembrar dos apartamentos que nós ficamos nas férias me dá claustrofobia. Ainda mais eu que fui criado na roça, num lugar em que a densidade populacional era na ordem 1 habitante por quilômetro quadrado. Com certeza temos muito a aprender com o Japão, mas também vi que, o Japão de hoje não nasceu da noite para o dia, por isso vejo que o Brasil ainda tem um longo e tortuoso caminho pela frente para ser uma nação dignamente melhor.

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Sobre as fotos: fotografadas com Fujifilm X100s, com exceção da última que foi com uma Gopro.

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