2a Copa Capixaba de Escalada de Dificuldade – Release

No último final de semana, dia 30 de julho, aconteceu no ginásio poliesportivo do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), em Venda Nova do Imigrante, a 2ª Copa Capixaba de Escalada de Dificuldade com a participação de 19 competidores (7 gurias e 12 guris) que tiveram pela frente 3 vias para testar toda sua técnica e tenacidade.

O muro de escalada do IFES

O muro de escalada do IFES nasceu em 2015 quando o escalador e educador físico Fabrício Amaral tomou posse na instituição e a partir de então começou a implementar o esporte na grade curricular que incluía ainda a construção de um muro de escalada indoor. Acompanhei em parte o processo de construção deste muro com o Amaral e lembro o quão difícil e burocrático foi este processo. Quem já tentou implementar algo novo dentro uma instituição pública, onde os egos são inflados, sabe os desafios que envolvem…

Luca Portilho na via da semifinal.

A partir deste projeto, a cidade de Venda Nova entrou para o mapa da escalada capixaba com o desenvolvimento de novas áreas de escalada, assim como o surgimento de uma nova safra de escaladores locais. E um dos frutos deste projeto foi o forte escalador Dante Lima que já despachou boa parte das vias difíceis do Estado.

A Copa Capixaba

A ideia de realizar um evento de escalada era um antigo projeto do Amaral e do Dante que sempre quiseram abrir o espaço para comunidade escaladora do Estado. Assim, quando souberam que a Associação Capixaba de Escalada estava preparando mais uma edição do Serra Master, sugeriram realizar o evento no muro do IFES.

Confesso que de início fui contrário a esta ideia devido a complexidade envolvida, assim como por questões logísticas. Uma coisa é fazer um festival de boulder, outra coisa é fazer um campeonato de escalada guiado, onde as questões de segurança são mais complexas. Também tive muita dúvida quanto à disponibilidade das pessoas se deslocarem 120km de Vitória até Venda Nova do Imigrante para “tomar pau”.

O fato é que em algum momento de fraqueza aceitei o desafio e iniciamos o longo processo para materializar este projeto. Eu já tenho alguns eventos no currículo, então já sabia de antemão a dimensão da encrenca e os desafios que estavam por vir. A única coisa que eu não contava era que o meu gás já não era mais o mesmo de quando tinha 20 anos, quando conseguia abrir as vias durante o dia, sair à noite para festa e no dia seguinte trabalhar o dia inteiro nas vias.

Renan finalizando a via da Classificatória.

O evento

O evento foi dividido em três etapas: classificatória, semifinal e final, sem corte entre as etapas na categoria feminina e com corte apenas para fase final da masculina.

Na classificatória feminina, as meninas passaram o rodo na 1a via com muitos tops. Ali já ficou claro que elas não estavam para brincadeira e mostraram que tinham muita gana.

Como route-setter, tentei montar uma via mais tranquila para tentar quebrar o gelo da escalada, pois sabia que muita gente não tinha experiência em muro guiado, assim como em uma competição de escalada. É claro que tranquilo não quer dizer fácil, pois a via foi ao melhor estilo toca-toca em agarrão.

Feliz em saber que os meus amigos vão passar trabalho…

A classificatória masculina foi uma variação da feminina com menos agarras. Tentei manter o mesmo espírito do feminino e o resultado foi que praticamente todos fizeram top. Bom para os participantes, ruim para o route-setter

Confesso que a ideia original não era fazer variações de uma via para cada categoria, pois não acho isso muito legal. É sempre preferível ter vias independentes para cada categoria, mas como já escrevi antes, eu já não sou mais um garotão com o mesmo pique. Como nós tínhamos apenas o sábado para fazer algumas bem-feitorias no muro, como colocar mais chapeletas para melhorar a segurança, abrir as 6 vias e ainda deixar tudo pronto para o sábado, tivemos que recorrer a esta solução.

Poul buscando a agarra final da Classificatória.

Na semifinal, o buraco já foi mais embaixo e a via mais apertada. Aquela moleza da classificatória ficou para trás e deu lugar a uma via mais exigente. Na categoria feminina a classificação ficou bem escalonada com apenas um top da Luciola que aparentemente não esboçou muita dificuldade para mandá-la.

Luciola na via da Semifinal.

Já no masculino quem mandasse iria garantir o passaporte para final. Mais uma vez, a via foi uma variação da feminina, mas muito mais dura e exigente. Ao final desta etapa 5 competidores fizeram top e garantiram uma vaga para final, juntamente com o Renan, que quase mandou a via.

A via da final feminina foi uma grande diagonal à esquerda, começando com uma seção “só para tijolar” um pouquinho, passando por um movimento que costuma ser o tendão de Aquiles das meninas, um lançamento explosivo na borda do teto seguindo por uma sequência técnica de agarras medianas até o topo.

Jana no início da via Final.

Confesso que nesta etapa fiquei muito contente em ver a gana das gurias, pois elas foram muito valentes e não largaram o osso facilmente. Infelizmente, cometi um erro na hora de montar a via e acabei posicionando um pé chave um palmo acima do ideal, o que acabou comprometendo o lance final. Assim, as três que chegaram neste ponto não conseguiram se encaixar para finalizar a via. Foi mal…

Thalita trabalhando os pés para se encaixar no movimento da via Final.

Na somatória das três etapas, a Luciola conseguiu fazer uma campanha mais regular e garantiu mais uma vitória. Em segundo lugar ficou a forte escaladora de boulder Talita Barbosa. Já o terceiro lugar ficou com a escaladora Fernanda Salomão que mesmo um pouco afastada das escaladas mostrou que não perdeu a gana.

Classificação feminina.

Na categoria masculina a final foi igualmente uma diagonal, porém, desta vez à direita, começando no negativo bombante, passando por pela borda do teto até o boulder final.

Normalmente, quando monto uma via, já tenho em mãos os nomes dos participantes. E como eu sei mais ou menos o que cada um escala, consigo medir bem a via. Só que dessa vez, tinha um tal de Luca Portilho. O Luca é um escalador capixaba que está passando uma temporada pelo exterior à trabalho, mas quando ficou sabendo do evento, resolveu dar uma passadinha por aqui para prestigiar o campeonato. Como eu não sabia o quanto ele estava escalando, ele acabou ficando uma incógnita para mim.

Luca no final da via Final.

De fato, na final o Luca mostrou que estava numa boa fase e foi o primeiro a mandar a via da final, levando a galera ao delírio! Sabia que a outra pessoa que poderia mandar essa via seria o forte escalador Felipe Alves. Na verdade eu tinha certeza de que ele teria todas as condições para mandar a via, pois ele vinha escalando muito bem até então. Neste caso, em caso de top, o critério de desempate seria o tempo de escalada. Quem escalasse mais rápido seria o vencedor. Assim, restou ao Felipe, além da obrigação de mandar a via, escalar mais rápido que o Luca se quisesse garantir o ponto mais alto do pódium. E foi o que ele fez! Com muito ritmo e sem muitas pausas, Felipe mandou a via 9 segundos mais rápido que o Luca e garantiu a primeira colocação. Em terceiro lugar, a grande surpresa foi o escalador Eric Penedo que garantiu o bronze por meio ponto de diferença em relação ao quarto lugar.

Classificação masculina.

Por fim, faz-se necessário agradecer a muita gente. Mesmo correndo o risco de esquecer alguém, irei me arriscar: Agradecimento ao mentor deste projeto que não pôde estar presente no dia, o Amaral; ao pupilo dele Dante por ter pilhado para fazer esse projeto acontecer; a Luciola que mesmo competindo ajudou muito na organização do evento mandando dezenas de zaps todos os dias; ao Cristiano Fim do IFES por ceder o espaço para comunidade escaladora; aos seguranças DuNada, Chuck, Sandro e Maurício PA que passaram o dia numa das funções que mais exige atenção e responsabilidade; aos juízes de mesa Zé Márcio e Renan pelo trabalho chato de ficar cronometrando e anotando as pontuações; a todos os participantes que subiram a serra para prestigiar este evento; aos nossos patrocinadores e apoiadores Bonier, 4 Climb e Casas Marlin; e por fim, mas não menos importante, a minha esposa Paula pela paciência e compreensão pelos últimos dias.

Quase todos os presentes do evento. Acho que faltou o Zé e o PA.

 

Comentários

2 respostas em “2a Copa Capixaba de Escalada de Dificuldade – Release”

Me pegou no flagra na planilha! Kkk
Parabéns novamente pelo evento, todos gostaram e ficaram com gosto de quero mais. Acho que o importante é isso, motivar a galera!
Agora nada de descanso, que o muro da ACE nos aguarda! Hahaha Abs!

Irado demais Japa!! Obrigado por ter aceitado o desafio e o trabalho. Já era hora de apresentar o muro de escalada para os escaladores do estado. E com certeza aprendi muito aqui com você sobre montar vias e recomendações de segurança. Quem sabe ano que vem serei o route setter hahahaha. Abraços

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