Se você não quiser ler o texto, pule para o final que tem o vídeo! Agora, se você tiver tempo, pode ler o post e assistir o vídeo.
No post anterior, eu tinha comentado sobre uma “tradi” que tinha começado num “trepa raiz” no lado oposto do totem da “Cabra Macho” em Calogi, ES.
Durante a semana, convenci com algumas meia-verdades, mais duas pessoas para encarar essa roubada no último sábado: o Eric que sempre cai na minha ladainha! E pasmém! A Yasmin! Na verdade, não fui eu que a convenci, verdade seja dita! Depois que convenci o Eric, ele estendeu o convite e ela ficou no: vou, não vou, vou, não vou. Vou!
Fazer tradicional, ou pior, conquistar no verão é roubada na certa por causa do calor e das chuvas, mas como um bom conhecedor do Calogi sabia que no verão, o Sol demorava para bater nessa face e que as chuvas frequentes eram passageiras e mesmo assim a parede ficava protegida por causa do verticalidade. A única coisa que poderia deixar a escalada mais desconfortável seria o calor, mas como já tinha visto que iria ventar forte de nordeste estava tranquilo.
A investida
No sábado, às 8h30 da manhã já estávamos na base da via nos preparando para iniciar a conquista.
Da base, o Eric olhava para aquele mato sem fim e ficava pensando: o que seria pior, encarar a 1a enfiada ou a segunda? Qual seria o menos pior para puxar a ponta? E a Yasmin devia estar pensando: já estou arrependida! Posso ir embora?
No vou ou não vou, o Eric pegou a ponta para iniciar os trabalhos pelo trepa cipó para ganhar a oposição e dar continuidade à conquista. O grande problema dessas vias em móvel no Espírito Santo é que as proteções não “sentam” bem na rocha. Isso é um problema recorrente por causa da geologia do Estado. As fendas são sempre muito irregulares e as colocações estranhas. E o pior de tudo, ao mínimo movimento, as peças se desarmam ou desconfiguram. Por isso, sempre escalamos com um pé atrás.
É claro que aqui também não seria muito diferente e o Eric suou para puxar os primeiros 30m até estabelecer a P1 na virada da oposição. Isso sem contar a vegetação espinhenta que teimava prender até na sobrancelha!
Nesse meio tempo, para dar um ar mais dramático, choveu forte por duas vezes, mas nada que pudesse nos fazer desistir. Pensando agora, suspeito que essas chuvas foram coisas da Yasmin!
Assim que o Eric estabeleceu a P1, subimos de segundo para liberar a enfiada, que por sinal ficou bem legal, tirando o trepa raiz…
Segunda enfiada
Assumi a ponta da corda e comecei a 2a enfiada por uma bela oposição em fenda de mão, mas a alegria durou pouco e quando me dei por conta estava fazendo um desvio pela face para ganhar um platô que parecia promissor para uma parada. Assim que cheguei no platô descobri que o lugar estava ocupado e eu teria que buscar outro lugar. No melhor platô da pedra tinha um filhote de falcão que estava com vontade zero de dividir o espaço. Então segui tocando por um desvio até achar outro platô para nós.
A essa altura, a Yasmin já estava decidida que nunca mais iria fazer outra “tradi”. Já tinha sido atacada por abelha cachorra na P1 e tomado banho de terra que eu soltava para baixo enquanto ia progredindo. O Eric precisou usar excelentes argumentos para convence-la de que as coisas iriam melhorar para cima. E parece que funcionou, pois depois disso não choveu mais e o tempo deu uma firmada boa.
Assim que cheguei na P2, os dois subiram na tentativa de liberar a enfiada com a corda de cima, mas o lance que passei em A1 acabou ficando pendente. Vai ficar para próxima tentativa!
Segundo estudo prévio, a ideia era sempre seguir pela fenda, mas logo descobrimos que a chaminé acima estava bem obstruída pela vegetação e acabamos optando por sair pela face, em paralelo, para passar esse lance. Olhado de baixo parecia bem de boa. Muitas texturas e ondulações na rocha sugeriam muitas agarras, mas assim que comecei a passar a mão fui descobrindo que tudo não passava de “ondulações”.
A essa altura até eu estava questionando minha presença naquele pedaço de pedra. Sujo, cansado e sentando numa peça que metade das castanhas estavam abertas numa fenda irregular, a minha mente era pura desolação. E o pior é que quando eu olhava para cima, não via algo que pudesse trazer esperança, vontade de chegar lá para pegar uma fenda boa ou algo assim. Só via outra chaminé, maior e com mais vegetação dentro. Olhando para baixo, via os dois, sujos por causa da sujeira que eu jogava neles. Cabisbaixos, nem conversavam.
E assim, meio desolado e com o rabo entre as pernas, achamos por bem encerrar essa investida, pois ainda tínhamos a descida e a caminhada de volta nos aguardando. Segundo meus registros, por volta das 17h iniciamos a descida e às 19h30 eu já estava embaixo de um chuveiro tirando meio quilo de areia do ouvido.
Por ora, vamos dar um tempo nesse projeto para o falcão desocupar tranquilamente o ninho e mais a frente, voltar para concluir a via. Quem sabe até lá a Ya esquece de tudo. E eu também!
Para mim fica a dura lição de que não existe conquista fácil em Calogi. É sempre “um tapa na cara” e uma lição de humildade.
Uma resposta em “A fenda perdida”
Eu to rindo tanto! kkk 2021 começou bem, tem nem um mês de ano eu ja me meti em conquista de trad no calogi, valeu demais mestre, mas gosto mais dos treinos com chapeletas ou agarras artificiais, valeu a tentativa KKKKKKK