Nas últimas semanas rolaram algumas coisas bem interessantes e variadas por aqui:
Festival de Boulder da Toca
No mês passado, o ginásio de escalada Toca, completou um ano de vida e para comemorar a data realizou um Festival de Boulder. O time de route setters da Toca prepararam 50 boulders inéditos e o evento aconteceu no formato Festival durante 3 dias. Ao final de três dias, entre mortos e feridos, foi feita a soma, pontos corridos, para ver quem foram os melhores em cada categoria.
Segue a classificação final:
- 1- Felipe Alves – 226,3
- Jordan Libaldi – 190,6
- Naoki Arima – 170,1
- Pedro Teixeira – 165,7
- Daniel Caixeta – 148,6
- Lucas Vieira – 122,0
- Luca Temponi – 104,0
- Gustavo Krohling – 93,2
- Janaina Depianti – 92,6
- Felipe Branquinho – 88,0
Da minha parte fui um pouco enferrujado dos boulders, mas me esforcei para não fazer feio. Estava longe de fazer como o Felipe Alves que fechou todos os 50 boulders em três dias.
Achei os boulders bem montados e bem adequados para o público que esteve presente. Acho que foram uns 90 inscritos no evento.
Artigo
Na semana passada recebi a notícia de que um artigo sobre o potencial geoturístico do Espírito Santo foi finalmente publicado. Ajudei muito pouco no artigo organizado pelo Adilson da CPRM de Belo Horizonte. É um artigo bem técnico de geologia, mas tem uma parte bem importante que fala sobre a potencialidade das montanhas do Estado para o turismo, que também inclui a prática de esporte como a escalada.
Como geólogo e escalador espero que esse pequeno passo seja o estopim para o desenvolvimento deste tipo de turismo no Estado. Mas vendo o que ando vendo, ainda acho que temos um longo caminho pela frente.
Caso alguém tenha interesse em ler o artigo, segue o link.
Araponga – Calogi
Já no último domingo, aproveitando uma janela atípica de primavera, Chuck e eu conquistamos uma nova trad na face sul de Calogi.
A face sul de Calogi é uma face pouco conhecida e frequentada. Noventa e nove porcento da galera vai até o Calogi escala no Totem e só. Em 2012, Dunada e eu conquistamos a primeira e única via dessa face, a Arapuca que desde então, até onde sei, teve apenas duas repetições.
A ideia de voltar aquela face e abrir uma nova via surgiu a partir de um sobrevoo de drone que fiz por aqueles lados no ano passado. Na ocasião vi que poderia sair uma via mista à esquerda da via Arapuca, passando por uma série de feições que pareciam fendas.
Fomos sem pressa. Sem compromisso para fazer cume ou terminar a via. Levamos uns 30 minutos para fazer a aproximação. A caminhada aos pés da montanha sempre é mais chata devido às pedras soltas.
Encontramos a base da via Arapuca e optamos por repetir a 1a enfiada para ganhar o platô e dali divergir para esquerda. Poderíamos ter saído um pouco mais pela esquerda, mas teríamos que bater algumas chapas. Assim, preferimos a saída da Arapuca que é em móvel com apenas uma proteção fixa.
Do platô da P1, abri os trabalhos saindo bem a esquerda para contornar uma espécia de gruta que parecia intransponível pelo meio.
Passei à esquerda da gruta, mas logo descobri que quanto mais à esquerda, mais vertical ficava a parede. Achei uma linha boa um pouco antes e fui subindo. Depois de duas chapas queria tocar à esquerda, mas uma bela banda de rocha me hipnotizou para direita, levando de volta para Arapuca.
A travessia à direita me levou praticamente de volta a via Arapuca. Nesse ponto bati uma parada após esticar quase 35m de corda. Chamei o Chuck que subiu provando a enfiada e logo parti para conquistar a 2a enfiada.
Dessa vez estava determinado a tocar para esquerda. Recuperei o terreno perdido com outra travessia à esquerda até achar uma belíssima linha de agarras com algumas feições que lembravam fendas. Essa enfiada ficou algo incrível! Parede vertical, um mar de agarras e uma sensação de exposição fora do comum. Acho que nunca vi um pedaço de rocha com tantas agarras legais em nenhum setor de Calogi.
Graças às agarras esculpidas pela ação do tempo, a conquista fluiu bem. A medida que ia subindo fui achando boas colocações móveis. Com isso, a enfiada de 50m ficou com apenas 3 proteções fixas.
Estabeleci a P2 num divisor de pedra. Poderíamos fazer outra travessia à esquerda e pegar um belíssimo diedro, tocar reto para cima por um headwall ou cair para direita novamente e encontrar a P3 da via Arapuca e seguir para o cume por ela.
Devido ao tempo e a quantidade de chapa que tínhamos, optamos em sair pela direita e emendar a via na Arapuca. Para essa conquista havíamos levado apenas 20 chapas.
A terceira enfiada ficou curta, mas bem intensa e interessante, uma mescla de exposição, movimentos atléticos com uma pitada de aventura.
Chegamos na P3 da Arapuca e resolvemos fazer cume para descer pela trilha. Passei a ponta da corda para o Chuck, mas ele falou que a sapatilha estava muito folgada e me passou a ponta quente de volta.
Toquei a última enfiada sem antes penar para fazer o crux. Lance maldito de VI em abaulado com chapa no pé.
Chegamos no cume por volta das 16h30. A ideia era descer caminhando, mas não encontramos a trilha e tivemos que descer pela via. Acho que o mato cresceu muito nos últimos anos e está bem difícil caminhar pelo cume.
No meu relato falo que é impossível descer pela via, mas agora com a P2 da Araponga em chapa é possível descer tranquilamente com duas cordas de 60m.
Pessoalmente gostei muito da via. A estética, a exposição e as agarras dessa linha são, sem dúvida, um aspecto diferenciado. Espero voltar em breve para livrar as enfiadas e quem sabe buscar uma linha para chegar no diedro da esquerda. Só falta a coragem.
Valeu Chuck por topar mais uma!