Eu não canso de falar neste blog que as montanhas da cidade de Castelo (ES) são o meu xodó. Talvez, porque quando vim morar aqui (ES), me encantei pelas montanhas numa trip muito massa que eu fiz por aqueles lados, mas o fato é que acho esse lugar um dos lugares mais belos que eu já conheci.
A foto de baixo, embora não esteja nos melhores dias, foi tirada de um dos “mirantes” mais belos do estado. Desse lugar dá para ver todas as montanhas do Complexo Granítico de Castelo. Essas “pequenas” muralhas de granito facilmente chegam à casa dos 500m de altura!
Um dos visuais mais incríveis do estado! O ponto mais alto é o Pico do Forno Grande, a segunda montanha mais alta do estado com 2039m.
Desde a primeira vez que eu botei os olhos nessas pedras, sempre sonhei em abrir uma via dentro do complexo. Mas abrir uma via ali é um mega empreendimento, uma vez que as muralhas batem tranquilamente 500m e em sua grande maioria são sem fendas e agarras, um verdadeiro granito polido!!!! Sem contar os outros detalhes como aproximação, sol, logística…
Um verdadeiro mar de pedras… A pedra branca que chama atenção na foto é a Pedra da Onça, considerada pelos base jumpers como umas das melhores pedras para saltar e também onde fica a via Bafo de Onça.
Porém na semana passada, dando um rolé pela net achei uma foto de uma montanha dentro desse complexo que me chamou a atenção. Então perguntei ao nativo e escalador DuNada qual era dessa pedra. Logo, descobrimos que era uma montanha virgem que estava embaixo do nosso nariz e que nunca tínhamos dado bola.
Vimos um belo potencial e assim montamos toda logística para atacar a pedra em dois dias de trampo.
Pedra do São Cristóvão com o Pico do Forno Grande ao fundo.
Organizar uma trip com base em uma foto e um mapa do Google Maps é muito arriscado. Já cansei de bater a cara fazendo isso, mas algo dizia que essa ia dar certo (otimismo sempre!). E assim partimos para a pedra.
Chegar na base da pedra não foi dos piores, uma informação aqui, uma caminhada ali, uma picada nova e finalmente estávamos vendo a pedra pela primeira vez.
É incrível como os ânimos se alternam. Até chegar na pedra, e ver ela pela primeira vez, estávamos confiantes e otimistas, mas quando vimos pedra pela primeira vez, por um momento achamos que fosse impossível subir aquela muralha vertical. Primeiro porque a pedra, para variar, era lisa e segundo, porque parecia muito vertical. Bateu um certo desânimo, mas assim que demos um rolê pela pedra, vimos uma luz no fim do túnel, ou um veio. Achamos um veio horizontal com muitas agarras que levava para o outro lado da pedra. Logo, pensamos que, quem sabe, pelo outro lado a pedra seria menos inclinada e mais amistosa. E assim mandamos bala na horizontal em busca de um corredor de agarras em direção ao cume.
DuNada começando a conquista pelo veio de agarras. O que tem de agarras nessa enfiada, falta nas outras….
Depois de uns 20m de escalada em travessia, o DuNada achou uma pequena janela por onde daria para seguir em direção ao cume e assim fechou a P1, com uma bela travessia em agarras ao melhor estilo muro de escalada.
No entanto, dali para a cima a coisa ficou preta, ou sem agarras. Se Deus nos abençoou com milhares de agarras na travessia, para cima ele economizou nas agarras a ponto de não ter agarras.
A 2a e a 3a enfiada foram conquistadas ao melhor estilo escalada de aderência. Eu acho que em 60m de escalada devo ter visto umas 10 “agarras”, o resto, só aderência!
Não conseguimos nem estimar bem a dificuldade das enfiadas. Como graduar uma via que não tijola os ante-braços? Se não faz força é um 4o grau? Tijolamento da batata (quente) da perna conta? Se sim, ai sim é um nono grau!! Divagações a parte, acreditamos que seja uma escalada de 6o grau constante com algumas passadas de 7o, mas à confirmar.
DuNada jumareando a 3a enfiada para dar continuidade aos trabalhos no segundo dia.
Ao final da 3a enfiada, a pedra ganhou inclinação e não tinha como subir por aquele salpicado de sal fino. Tirei um “uni duni te” e fui para à esquerda na esperança de achar uma parede mais amigável. Quinze metros de travessia e outra janela em direção ao cume. O cume já estava logo alí, menos de 50m! Mas eis que surge um problema: chapeletas!
Montar a logística de uma escalada como essa é bem complicada. É preciso calcular, prever, estudar, analisar, pesquisar…. E se fizer alguma coisa errada, babau… Eu sempre considerei a logística a chave para o sucesso de qualquer escalada. Você pode ser o melhor escalador do mundo, mas se errar a logística, não há técnica no mundo que a salve.
E ontem, descobrimos do jeito mais amargo possível o preço de uma logística mal feita. Subestimamos a quantidade de chapeletas (levei 36), nos demos mal… Se tivéssemos mais 5 chapas, só mais 5, estaríamos no cume…
Descemos da pedra um pouco tristes por não ter concluído a escalada, mas por outro lado estávamos felizes porque estávamos saindo daquele calor de rachar e poderíamos tirar a sapata apertada dos pés. Ufa!
Agradecimento especial ao DuNada pela empreitada! Ele sempre jura que nunca mais vai se meter a escalar comigo, mas sempre consigo convencê-lo com uma escalada “épica”, por uma parede “incrível” e “fácil”!
Agora é descansar e tratar os calos dos dedos do pé…