Boca de Urna

Imaginem o meu arrependimento quando o cara que marcou a escalada comigo no final de semana manda esta mensagem pelo Whatt.

Mano, prepara a sua pior roupa para domingo, foi lá que nasceu o primeiro arbusto de arranha gato.

O cara em questão era o André “Tesourinho”, uma figura quase que folclórica da escalada capixaba. Escalador do “interior” com um senso de humor acima da média. Escalar com ele é certeza de que vai passar o dia rindo, mesmo estando no meio dos arranha gatos.

Para dividir essa empreitada, ainda convidamos o Zé Márcio e o Eric para dividir o bullying do Tesourinho e os arranha gatos.

Já a via em questão era a “Boca de Urna” na Pedra de Itapina, quase as margens do Rio Doce na cidade de Baixo Guandu. Essa via foi conquistada no dia da votação presidencial do ano passado pelos escaladores Oswaldo Baldin, Sandro Souza e pelo próprio Tesourinho. Trata-se de uma via de 4 enfiadas que transcorre pelo grande diedro em diagonal da face leste e protegido parcialmente em móvel.

Face leste da Pedra de Itapina.
Croqui.

A escalada

Saímos de Vitória às 5h de domingo, pegamos o Tesourinho em Ibiraçu e seguimos rumo à pedra. Aos pés da montanha, deixamos o carro na propriedade, pedimos autorização e iniciamos a temida caminhada de 1h pelos arranha gatos.

Preparando os equipos para aproximação.

Às 8h30 iniciamos a aproximação, mas logo descobrimos que os arranha gatos estavam bem tranquilos e a caminhada de 1h se mostrou bem menor. Em meia hora estávamos na base da via praticamente sem os arranhões. Dava para ter ido de camiseta…

Aproximação pelos arranha gatos.
Costão inicial para aquecer as canelas.

Iniciamos a escalada Eric e eu numa cordada e o Zé com Tesourinho formando outra dupla. Carreguei o rack com 2 jogos de friends até o #6 e subi pesado esperando o pior. Toquei 3 chapas na agarrência inicial, entrei no diedro para descobrir que não tinha como escalar em oposição e fui tocando sem proteger, pois a última proteção era uma chapa. Quando a última proteção é em chapeleta de inox, nos enchemos de coragem… Coloquei um friend médio no início do trecho mais inclinado por uma chaminé cheia de blocos instáveis e logo descobri que tocar naquele castelo de pedra solta seria muito perigoso. Proteger nele, nem pensar. Fui tocando pela chaminé até encontrar uma rocha mais segura acima e consegui colocar um segundo Camalot (#5). Depois a chaminé ficou obstruída e sai pela face até a P1. Cheguei na parada com o rack praticamente intacto e fiquei com aquela cara de tacho por ter levado tanta peça…

Abrindo os trabalhos. Foto: Tesourinho.
Zé na 1a enfiada da via.

O Eric pegou a próxima enfiada seguindo a fenda no mesmo estilo até uma outra obstrução e depois tocou pela face até a P3. Dali para cima a pedra perdia muita inclinação e toquei sem maiores dificuldades a 3a enfiada. A essa altura nós já estávamos safos e deixamos para trás quase todos os móveis e escalamos com apenas meio jogo.

Eric preparando o rack para 2a enfiada.
Início da 2a enfiada.

A última enfiada era mais fácil ainda e tocamos à francesa (de tênis) e chegamos no cume por volta do meio-dia. Ficamos um tempo esperando a segunda dupla chegar enquanto descobríamos que o livro de cume fora usurpado.

Banho de Sol enquanto espera a 2a dupla. Ao fundo o Rio Doce. Foto: Eric.
Procurando a próxima investida.
Cume!
A única sombra do cume.

A escalada em si é bem tranquila com todas as paradas equipadas e os trechos de agarrência bem protegidos. Infelizmente devido ao tamanho das fenda, praticamente se escala a via inteira sem utilizar nenhuma técnica de entalamento. Na última enfiada, onde a fenda fica perfeita para isso, a pedra perde tanta inclinação que fica inviável se entalar. Talvez por essa característica, essa seja uma boa via para quem está aprendendo a escalar com material móvel e a dar os primeiros passos nas chaminés.

Para saber mais sobre a via, clique aqui!

As margens do Rio Doce.

Comentários

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.