Carna climb

Durante o feriado prolongado de Carnaval rolaram algumas escaladas interessantes pelo Espírito Santo:

Polese

No domingo de Carnaval tentei repetir em solitária a via “Montanha Russa” (5o, VI, E2, D1, 180m) no Vale Polese em João Neiva.

Faz quase um ano que não escalo em solitária. A última vez foi em março do ano passado, quando abri a variante “Teoria das Cordas”. Então resolvi dar uma desenferrujada e aproveitar para colocar em práticas algumas técnicas novas que andei estudando.

Parede Polese.

Por aqui, o calor anda acima da média, com os termômetros passando facilmente a casa dos 30 graus Celsius logo pela manhã. Por isso, resolvi entrar na via no início da manhã para escalar ao máximo na sombra.

Sai de casa às 4h15 e às 6h já estava olhando para parede com certo receio. Receio de que a via estivesse molhada na parte final. Como antes da onda de calor andou chovendo muito, nem todas as paredes secaram ao longo da semana. Com binóculos em mãos, tentei descobrir se a linha da via estava molhada, mas não consegui ver os grampos finais da 2a enfiada. Aparentemente a via passava à direita do trecho molhado, então resolvi entrá-la. Até porque eu não tinha muita opção.

A 1a enfiada foi de boa. A segunda deve ser o crux com uma bela diagonal à esquerda bem protegida no final que me levou diretamente para o trecho molhado. Ainda na travessia crux já peguei uns trechos molhados, mas a última enfiada estava totalmente na água. Cogitei dar um balão pela esquerda, mas teria que pular pelo menos 3 proteções. Como estava sozinho, achei melhor não arriscar e deixar a última enfiada para uma ocasião mais oportuna.

Estudando a 2a enfiada.
Saída da 2a enfiada.

Quebra Coco

Na terça-feira de Carnaval fiz mais uma investida solitária usando a mesma estratégia de domingo, saindo cedo para escalar no frescor da manhã.

Dessa vez resolvi entrar na via “Quebra Coco” (3o, V, D1, E3, 160m) no Calogi. Por incrível que pareça essa é uma via que teoricamente não completei até hoje, pois na única investida (2011) fui somente até a P3 para fazer umas fotos e não tocamos a 4a enfiada.

Mais uma vez sai às 4h de casa e às 5h estava estacionando o carro na parte baixa. Como o trecho final tem 5 porteiras para abrir, resolvi deixar o carro na casa azul para fazer um aeróbico e não ter que ficar abrindo as porteiras sozinho.

Amanhecer .

Em 20 minutos cheguei na base da via, ainda no escuro. E por volta das 5h45 iniciei a escalada. Depois fui ver que entrei meio atravessado na via, pulando o primeiro grampo e indo direto no segundo grampo. Nesse trecho, cometi um erro de gerenciamento de corda e minha “dead rope” prendeu num mosquetão e tive que desescalar até o chão. A escalada solitária tem uns detalhes que são cruciais e como estava sem prática acabei cometendo esse erro primário.

Conceito de “Dead rope”.
Montando o sistema.
Iniciando a escalada antes do amanhecer.

Resolvido o problema, segui tocando. Passei o crux da primeira enfiada e uns 3m acima do último grampo, o “dead rope” prendeu novamente. Eu não estava acreditando… Tentei de todas as formas soltar a corda sem sucesso. No fim, tive que desescalar o crux e voltar até o chão para resolver o problema. Na escalada solitária, um bom gerenciamento de corda é fundamental para evitar esse tipo de problema. Acho que foi uma boa lição aprendida para ficar mais esperto. Dessa vez só tive que desescalar um III (IV seria mais justo), então até que saiu barato.

Limpando a 3a enfiada.

Dali para cima, apenas tratei de imprimir ritmo na escalada e toquei até a P4 sem grandes problemas. Bati na P4 às 7h30, após 1h45 de escalada.

Na descida ainda encontrei a galera chegando no Calogi enquanto eu tomava o rumo de casa.

Cume! Ou final da via.

Segue o croqui atualizado!

Soído

Já na 4a feira, Alekinho e eu voltamos novamente à Parede de Soído para conquistar mais algumas vias.

Eu queria escalar a via “Exército de um homem só” que eu tinha conquistado na primeira investida e abrir uma variante à esquerda. Já o Alekinho tinha como meta abrir outra via à esquerda do projeto que tinha aberto.

Carga pesada!

De cara, tentei fazer o FA da “Exército”, mas sucumbi no “flash pumping” e cai no crux. Ai deixei a via bonitinha para o Alekinho fazer o FA em flash da via. Sobre o grau, ele sugeriu um 8b sólido.

Saída da via Exército de um homem só.
Alekinho fazendo o FA da via.

Depois, cada um voltou aos seus projetos e passei a manhã conquistando uma variante à esquerda que termina um pouco acima da “Exército”. Aparentemente ficou mais fácil que a “Exército” e também usa mais peças em móvel, incluindo um #5. Bati duas chapas mais uma parada. Batizei a via de “300”, do filme aquele…

Separando os equipos para conquista.

Não vou negar que me inspirei muito no estilo de escalada de Piraí para conquistar essas vias, onde o uso de material móvel é levado à risca e colocando chapas restritamente onde é necessário. É claro que o nosso granito não é um arenito fraturando, então tive que fazer algumas adaptações à realidade capixaba. Inclusive, nenhuma das proteções móveis são em fendas de verdade, na verdade são buracos ou calhas no veio da rocha, mas elas ficam “bomber”.

À tarde conquistei mais uma via, dessa vez partindo de uma saída independente e juntando na parada da “300”. Essa via já tem mais chapas, 8 no total, mas ainda assim requer um #3.

Seção final da “Ronin”.

Eu sei que ninguém vai ler isso e muito menos ir para lá, mas essa via, batizada de Ronin, precisa receber reforço de Sika em algumas agarras do crux, pois sem elas inviabiliza a escalada. Por isso, não entrem!

Já o Alekinho passou o dia equipando a nova linha, ainda sem nome, mas segundo ele, deve ser um nono. Depois gastou um bom tempo reforçando as agarras chaves da via. Infelizmente o canto onde ele está trabalhando é mais quebradiço e requer um trabalho extra.

Alekinho trabalhando seu projeto.
Croqui do setor

No final do dia, o jovem Alekinho ainda quis ir para Gruta de Soído para dar um pega no projeto dele. Eu não estava nem conseguindo caminhar direito, mas ele estava bem motivado e convicto, então fui me arrastando até a Gruta. Mas a vida é sincera, como diz uns amigos e o projeto segue em pé.

A Parede de Soído está longe de ser um pico popular, mas tem seus encantos. Até mesmo conquistar lá não é fácil, as linhas não são óbvias e há muito problema de conexão entre as linhas. É um quebra-cabeça onde você precisa passar muito tempo tentando ler a pedra. Por outro lado, eu acho que já vale a visita por causa da via “Exército de um homem só”. Para mim, é sem dúvida, um dos melhores 8b do estado!

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