^ Afeto na enfiada crux da via “Infinita Highway”.
Nos últimos dias, mais precisamente desde o sábado passado, dia 4, a polícia militar do Espírito Santo entrou em greve e o estado virou o que vocês estão vendo na televisão. Na verdade, como a polícia não pode fazer greve, os familiares dos militares bloquearam a saída do quartel para que os policiais não pudessem sair para trabalhar, deixando os aquartelados.
Alguns amigos de fora do estado me procuraram perguntando se nós estávamos bem, menos a minha mãe, claro. Ela nem deve estar sabendo… Melhor assim! Anyway, só gostaria de deixar um pequeno relato de quem está no meio desse caos e dar um panorama que não seja tão midiática.
No sábado passado, quando começou o movimento tudo parecia normal, inclusive fui escalar tranquilamente com o Afeto em Calogi. Até porque normalmente não vemos presença policial no nosso cotidiano. Isso é uma das coisas que sempre me chamou a atenção desde que vim morar no estado a 10 anos atrás. Não é comum ver a polícia nas ruas fazendo patrulhamento. Inclusive quando vejo mais polícia na rua acho que está acontecendo alguma coisa… Para se ter ideia, em 10 anos fui parado apenas uma vez pela polícia… Cara de bom moço?
Na madrugada de domingo para 2a feira parece que os bandidos se deram conta e começaram os saques e as execuções. Digo execuções, porque a maioria dos assassinatos tem relação com acerto de conta. É claro que há algumas exceções, como caso de bala perdida.
Na noite de 2a também ouve uma explosão de saques e a partir daí o caos se instaurou na cidade, principalmente com a suspensão dos ônibus que pararam de circular por falta de segurança. Sem os ônibus nas ruas, as pessoas não puderam mais se deslocar para o trabalho e o comércio, além do medo dos saques, tiveram que fechar as portas e a cidade ficou deserta. A sensação de cidade vazia aliada a presença de delinquentes nas ruas, trouxe uma grande sensação de medo na população. Para piorar, começaram a rolar dezenas de vídeos nas redes sociais mostrando flagrantes de violência, o que ajudou a aumentar a sensação de insegurança.
Ao longo da semana, com a chegada do exército e da Força Nacional, as coisas começaram, paulatinamente, voltar ao normal. Na 6ª feira, já havia mais pessoas na rua. É claro que isso na região central (bairros nobres), pois nas periferias o caos se manteve e mantém até hoje.
Uma das consequências desse caos foi que muita gente correu para os supermercados para estocar comida. Durante esse período também fui fazer algumas compras e era visível a falta de muitos itens essenciais, dentre eles o que mais chamou a atenção foi a falta de cerveja nas prateleiras!!!
Já no final de semana, as coisas pareciam mais calmas, principalmente com a chegada de mais militares, menos nas periferias, onde a situação se manteve bastante tensa. Nunca vi tanto helicóptero sobrevoando a minha cabeça. Atualmente, há 3 helicópteros na região da grande Vitória. Além disso, as pessoas também não estavam mais aguentando ficar em casa e muita gente criou coragem e foi para rua, o que ajudou a criar uma sensação de segurança.
Durante a semana de caos, também não pude ir ao treino, pois o muro de escalada fica numa área periférica, então achei por bem não forçar a barra. Mentira! Minha mulher não deixou… Por um lado foi bom, pois serviu para descansar um pouco depois de fechar o primeiro meso-ciclo de treino. Serviu para sumir todas dores. Idade é um desgraça…
Calogi
Mas no domingo, o jejum de uma semana sem escalada estava comprometendo o meu humor, então arrumei mais um pilhado, o Afeto, e resolvemos voltar ao Calogi para resolver uma pendência.
Na semana retrasada, fomos ao Calogi na intenção de repetir a via Infinita Highway (8a), mas quando chegamos lá, encontramos a via bastante molhada devido à chuva da noite anterior e tivemos que ficar só nas esportivas fazendo volume…
Normalmente quando entramos nessa via, costumamos entrar o mais cedo possível para evitar o sol (sombra pela manhã), mas dessa vez, por causa da greve, saímos mais tarde de Vitória por segurança e só iniciamos a escalada às 9h.
Como o dia estava bastante nublado, prevíamos que o sol não seria problema, então escalamos sem muita pressa.
Ao contrário da última repetição com o Felipe, dessa vez peguei as enfiadas pares e o Afeto as ímpares e juntamos algumas enfiadas para ganhar tempo.
Imprimimos um bom ritmo na via até a última enfiada. Assim que o Afeto começou a tocar os últimos 35m, uma chuva passageira passou por nós e molhou a via… Ainda bem que eu não estava no sharp end, porque encarar uma enfiada inteira de aderência de sétimo grau em rocha úmida é no mínimo “encagaçante”…
Esperamos a chuva passar e mais uns minutos para rocha secar um pouco e seguimos a escalada. E após 3h e meia, finalmente chegamos no cume do Calogi.
Curtimos um pouco a vista lá de cima e iniciamos a longa sequência de rapeis até a base pela própria via e às 14h finalmente chegamos na base da via.
Nessa repetição testamos uma nova técnica para diminuir o peso. Em vez de escalar com uma corda dupla (total 6,7kg), resolvemos subir com uma corda simples de 9,4mm x 70m mais uma retinida (ou tagline) de 7mm x 70m (total 6,5kg). Assim, escalamos com a 9,4mm e na descida rapelamos com ela e a retinida. Confesso que rapelar num cordelete de 7mm é um pouco desconfortável (dá medo), mas para algumas situações, me pareceu uma boa prática.
Valeu demais Afetones! A pré-temporada está fluindo! Que venga o frio!
Uma resposta em “Crise no Espírito Santo e escalada em Calogi”
[…] eu ainda tinha os movimentos na cabeça por causa da repetição que fiz com o Afeto no início do ano, a escalada fluiu mais de boa. E assim fomos de parada em parada escalando sem muita pressa e […]