Desce daí!

Quando chega o mês de março, a abstinência de não fazer parede começa a perturbar a mente, mas é como se fosse comer uma laranja; você sabe que precisa esperar para amadurecer mais (ficar mais frio), porque se comer verde vai estar ruim (quente), mas mesmo sabendo, acabamos comendo por não aguentar esperar (chegar o inverno).

Esse ano em particular, o verão, está sendo terrível por aqui, o termômetro não dá trégua. Janeiro e fevereiro foram meses muito quentes, com poucas chuvas. Todos os dias, o termômetro estava batendo acima dos trinta graus Celsius. Agora, em março, as chuvas voltaram, mas aí vem o bafo. São as águas de março para fechar o verão.

Durante os primeiros meses de 2025, como de costume, me dediquei mais às esportivas devido ao calor. Nesse tempo, equipei mais seis vias nos setores Totem Central e Excluídos em Calogi. Durante o verão, esses são os melhores setores por ficarem na sombra o dia inteiro.

Como o pico segue fechado, não fiz nenhuma postagem falando sobre essas vias, mas todas as atualizações estão na croquiteca. Basicamente, temos mais cinco oitavos e um sexto em móvel.

Voltando ao assunto inicial, resolvi comer uma laranja verde! E para não fazer cara feia sozinho, convidei o Iury, que convidou o Wesley “Perna”. O Iury está ficando esperto, descobriu que em três ele faz menos força do que em dois.

Como o tempo ainda segue muito quente, pensei na Parede Polese que fica na sombra pela manhã. Teoricamente, se entrássemos na parede cedinho, poderíamos descer antes do Sol nos pegar.

Parede Polese na sombra, mas com o sol já na espreita, João Neiva – ES.

Nos encontramos na base da parede às seis horas da manhã de domingo. Como me atrasei, os dois já estavam lá namorando a parede e sugeriram duas linhas. As linhas pareciam interessantes, mas estavam com uma pinta de molhadas. Logo, o senhor Polese passou por nós de carro e, entre uma conversa e outra, descobrimos que havia chovido bem no dia anterior! No sábado, eu estava no Calogi e lá o tempo estava quente como sempre, mas sem chuva! Deve ter chovido só na região.

Resolvemos tocar na pedra para saber se daria para escalar, ou não. A parede preta engana e dá a impressão de que está babada, mas assim que encostamos na pedra, constatamos que a textura estava escalável. Voltamos para o carro, leva 1 minuto para chegar na pedra, pegamos os equipos e partimos para os trabalhos.

O Iury abriu os trabalhos conquistando a primeira enfiada na segue do “Perna”. Enquanto isso, fiquei no drone para capturar algumas imagens.

Iury conquistando a 1a enfiada da nova via.
“Perna” limpando a 1a enfiada. Detalhe para onde fica estacionado o carro. O crux é atravessar o riozinho.

Assim que o Iury bateu a parada, subimos e toquei a segunda enfiada que parecia a mais inclinada da via. Nessa parte, a parede ganhou inclinação e parecia impossível de passar em livre, mas essa parede é muito abençoada de agarras que brotam do nada e quando tudo parece perdido, aparece um buraco salvador!

Estiquei 50m e chamei ambos. O Iury subiu escalando e o “Perna”, ficou com “o pano de chão”, subindo pela corda fixa com o haul bag.

A essa altura, começamos a ter problema com a quantidade de chapeletas. Levei somente 24 chapas para uma parede de 200m. E ao final da segunda enfiada, tínhamos somente mais 8 chapeletas para tocar outra metade.

Furadeira em ação!

Peguei a 3a enfiada com a missão de esticar ao máximo, usando as chapas com parcimônia, mas a parede parecia mais inclinada e com menos agarras. Também nessa parte começaram a surgir muitas lacas soltas na parede. Então, tive que subir com atenção redobrada para não pegar em agarras suspeitas e tomar um voo épico.

No início da 3a enfiada. Detalha para as lacas proibitivas.

Estiquei a corda até o talo, 60m cheio, mas não consegui chegar no topo da pedra. Bati a parada e chamei ambos novamente. A essa altura, já estávamos no meio das bromélias gigantes que caracterizam a parte superior da parede.

Procurando a melhor linha no meio de um mar de agarras.

Da P3 dava para ver os coqueiros no final da parede. A pedra também perdia mais inclinação e a vegetação começou a aumentar, um bom sinal! No entanto, tínhamos somente uma chapeleta.

Perguntei ao “Perna” se ele queria tocar a última, mas falou que estava muito adrenado. Passei para o Iury que olhou para cima, mas quando soube que tínhamos somente uma chapeleta para 50m, declinou o convite. Disse que eu já estava todo equipado e que seria mais rápido.

Verdade seja dita, a essa altura, por volta das 10h30, o sol já estava no nosso cangote, sapecando a nuca. 

Tratei de subir logo, pois sabia que no cume haveria sombra. Larguei a última chapeleta num lance onde a pedra ficou lisa devido a um desplacamento recente e toquei até os coqueiros.

Chegamos ao final da parede por volta das 10h45, após 3h e 45 minutos de conquista. Bebemos um restinho de água e uma hora depois já estávamos no chão para sair do sol quanto antes. Nesse dia, por volta do meio-dia, o termômetro do carro estava marcando 35o Celsius.

Foto no final da via!

Sobre a via, diria que ficou incrível. É uma escalada relativamente curta, 200m, e fácil. Uma excelente opção seria combinar com alguma outra via para fazer o dia render. Acho que uma boa dupla consegue fazer duas vias numa manhã sem grandes dificuldades, antes do sol chegar.

Ah, sobre o nome da via! Enquanto estávamos conquistando a via, viramos atração para uma família que mora em frente à parede. E uma das coisas que eles ficavam gritando constantemente era: Desce daí! Aí ficou fácil achar um nome para via!

Vista geral da Parede Polese com as vias.

Para saber mais sobre as outras vias do setor, clique aqui!

 

 

 

 

Comentários

4 respostas em “Desce daí!”

A cada post desse que eu vejo dá vontade de largar tudo e ir viver no interior do Espírito Santo.

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