Receita para aposentar:
Separe uma chapa de granito preto de uns 500m com a face voltada para norte (tipo a Pedra do Barro Preto em Itaguaçu), de tal forma que fique ao Sol durante o dia inteiro, garantindo uma fritura homogênea. Melhor ainda se for num dia atípico de inverno com o termômetro marcando 30 graus e sem vento para deixar tudo mais saboroso.
Escolha entrar nessa via em estilo solitária, para levar o dobro de peso e trabalhar em triplo.
Repita o seguinte processo nove vezes:
Guiar, rapelar e jumarear!
E para finalizar, desça tudo até a base da via.
Ah, para deixar a “pasta” mais seca, leve pouca água!
Metáforas à parte, essa foi a roubada do último domingo que quase me aposentou das paredes. A escalada em si, não foi nada difícil, mas as condições impostas deixaram a simples escalada bem complicada. A partir da P1 até a P9 o Sol foi implacável comigo e para piorar sem nenhum vento e nuvem para dar uma aliviada. Eu já sabia da fama desta pedra, mas achei que no inverno as condições fossem melhores, #sqn.
Pela primeira vez pensei em desistir por duas vezes. Na primeira vez, assim que cheguei na P5, junto ao colo (vide croqui) pensei em abortar a escalada e sair pelo colo, pois estava me sentindo muito cansado. Descansei um pouco, respirei fundo e segui. Já na segunda vez, na última enfiada, pensei em descer dali sem fazer cume. A essa altura a minha água estava na reserva, a pedra escaldante e não estava conseguindo ver a 1a chapa da enfiada. Mais uma vez, fiz um descanso maior, me concentrei e fiz a última enfiada com a atenção redobrada para não cometer nenhum erro.
Cheguei tão cansado no cume que não tive ânimo para procurar o livro de cume, nem para dar uma volta pelo topo. Tirei uma foto e já sai montando o rapel, pois, além de cansando, estava preocupado com as paradas (um grampo e uma chapa com argola fina). Quem já rapelou nesse tipo de parada sabe o tamanho do atrito…
Por volta de 13h30 cheguei de volta no colo e uma hora depois no carro, após uma longa e extenuante caminhada.
Por causa do calor acabei escalando mais devagar do que a média. Comecei a escalar às 8h da manhã e cheguei no cume às 13h, após 5h de escalada. Mas valeu o esforço!
Atualização sobre a via: no site da ACE, há um croqui desenhado pelo Zudivan com algumas informações levantadas em 2014, ano da conquista. De lá para cá algumas coisas mudaram em relação ao acesso. Agora é preciso passar na casa do Sr. Vantoil que fica depois da casa do Chicão. É uma casa azul em estilo enxaimel. É preciso falar com ele para pegar a autorização para entrar nas terras dele. O local é vigiado com câmeras e o proproietário se encontra em Vitória, por isso é importantíssimo que passe antes para falar sobre as intenções.
No que tange ao croqui da via, aparentemente na 2a enfiada a quantidade de chapas não bate com o croqui original. O croqui original fala que tem 4 chapas mais a parada, mas eu contei apenas 3. Isso é importante, pois ao final das 3 ou 4 chapas é preciso fazer uma travessia à direita. Outro ponto que me causou um pouco de confusão foi na 7a enfiada. O croqui original não deixa claro que parte da enfiada passa muito perto do grande totem que é uma referência. Como a enfiada não tem nenhuma proteção fixa, é um pouco difícil achar a parada. A última enfiada também causa um pouco de confusão no croqui original, pois a 1a chapa não é visível. A linha da via segue pela esquerda, paralelo a um diedro, por uma face vertical e não reto para cima como sugere o croqui.
2 respostas em “Tentando me aposentar”
Que isso Japa! Quanta disposição!
Parabéns pela repetição e obrigado pela honra!
Vou rever o croqui com mais calma agora e, se eu tiver alguma dúvida, você volta comigo lá? kkkk
Só volto se você levar umas chapeletas…