FFA da via Avalanche

No dia 31 de maio, a escaladora Janaina Bastos realizou a primeira ascensão feminina (FFA) e a 6a repetição da via “Avalanche” (9c), Calogi – ES.

Vale lembrar que em 2021 ela fez o FFA da via “Batida Macabra” (9a), também em Calogi e se tornou a primeira escaladora a mandar um 9a no Espírito Santo.

Desde então, ela despachou rapidamente os outros nonos do setor e começou a trabalhar a via Avalanche. Nos últimos tempos, ela aumentou o foco na via e a tão desejada cadena finalmente aconteceu no último dia de maio.

Acompanhando todo processo e vendo seu potencial, para mim estava claro que era uma questão timing, pois nos treinos demonstrava claramente que tinha a condição física necessária para mandar, mas faltava um alinhamento mental que, às vezes, é mais difícil do que o condicionamento físico. Também acho que o clima nos últimos meses não ajudou muito nesse processo. A Avalanche é uma via de agarras pequenas que exige escalar eficientemente, sem perder muito tempo passando magnésio.

Na seção crux da via.

Por hora, a lista dos repetidores está assim:

2011 – Naoki Arima

2012 – Caio Afeto

2013 – Felipe Alves

2020 – Alex Mendes

2023 – Eric Telles

2024 – Janaina Bastos

Digo por hora, porque a fila de gente trabalhando a via está grande. Deve ser a via mais frequentada nos últimos tempos em Calogi. Logo logo teremos mais repetições.

No crux final da via.

Segue uma pequena entrevista que fiz com a Jana depois da cadena, onde ela conta um pouco mais sobre a via, processo e desafios.

1- Jana, de onde e como surgiu a ideia de “projetar” a Avalanche?

Já tinha feito todos os nonos do primeiro andar, inclusive a Contra-avalanche que é um 9b. Todas saíram bem rápido. Daí surgiu a ideia de entrar na Avalanche. De cara, já percebi que ia ser bem dura e que o processo não seria tão rápido quanto foi com as outras vias. Agora, o fator que mais contou para eu projetar a Avalanche foi a minha idade. Comecei a escalar com 34 anos e se eu quisesse mandar alguma coisa difícil teria que ser por agora porque depois dos 40 tudo fica mais difícil, né?
Tenho total consciência que eu deveria escalar um volume maior de 9a e 9b antes de entrar num 9c. Mas, aqui não temos muitas opções. Então, devido a esse fator, mais o fator idade, resolvi encarar o desafio.

2- Você fez alguma preparação específica para via? Existe alguma característica específica que a via exige?

Venho treinando desde comecei a escalar. Gosto muito da rotina de treino. Para a Avalanche comecei a treinar mais resistência de força. Teve um momento que tive que pegar mais leve nos treinos por conta de uma epicondilite e quando voltei a escalar a via, percebi que estava com os dedos um poucos fracos e que seria interessante treinar força de dedos em agarras pequenas. Comecei a treinar finger em casa só na agarra de 10 mm e com lastro. Isso me ajudou muito, porque já não achava as agarras da via ruins e conseguia bater meu braço em vários trechos. Também treinei algumas remadas e nesse ponto o Moonboard deu aquele power.
Pra mim, a via exigiu muita resistência de força porque grande parte dos moves são bem dinâmicos para mim. Outro ponto é aceitar os descansos.

3- Fale um pouco sobre a sua rotina de treinamento.

Por mim eu treinava todo dia rsrs. Mas, descanso também é treino, né?
Costumo treinar mais de leve na segunda e quarta. Geralmente faço uma corridinha pra manter o cardio em dia, faço umas séries de finger e, de vez em quando faço uns abdominais. Terça e quinta é sagrado ir pra ACE fazer um treino completo. Daí costumo aquecer, fazer um fortalecimento e depois vou para o muro. Nesse ponto do treino, Felipe me ajuda muito montando algumas vias pra mim. Sexta é descanso absoluto e fim de semana é rocha. Nessas últimas semanas, fiz treinos mais leves para chegar descansada na Avalanche.

3- Ao longo do processo, você pensou em desistir?

Cheguei a pensar, mas logo desisti de desistir porque minha personalidade não me permite desistir de nada. Ainda mais quando é algo que quero muito e que sei que tenho condições de conseguir e que só depende de mim.

4- Imagino que o momento mais gratificante desse processo foi costurar a parada, e a momento mais difícil?

Foi bom demais costurar aquela parada. Chorei de emoção. Momento difícil, foram vários. Foi quando tive que dar um tempo da via por causa de uma epicondilite. Não conseguia nem pentear o cabelo. Foi o período mais difícil. Depois, foi encarar a frustração todo final de semana que eu não mandava a via sabendo que dava para ter mandado.

5- E agora? A temporada nem começou e já está sem projeto. Já projetou alguma coisa para 2024?

Vixe, tem várias vias que quero: Transmanchuriana, 4×4, todas as vias do Arapuca… Mas, queria muito experimentar a Transatlântico para aproveitar o embalo.

6- Vejo que a escalada feminina está crescendo no estado, o que o você diria para quem está ingressando nesse mundo?

Diria para treinar duro, ser persistente e não esquecer nunca de se divertir, afinal de contas é pra isso que a gente escala.

Comentários

5 respostas em “FFA da via Avalanche”

Janaina é uma inspiração. Sua dedicação é impecável e nos mostra na prática que “quem planta colhe”. Parabéns!

Obrigada Japa, pelas fotos 🙂 e pela oportunidade de dar a entrevista para o Blog. Espero que possa inspirar outras escaladoras capixabas. Borá mulherada, somos fortes!

A reportagem ficou linda 🙂 desistir de desistir define muito a cadena da Jana pq a querencia foi muito bem trabalhada em cada move! Parabéns pela entrevista!

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