Pôr-do-sol no Vale dos Lanceiros com a Pedra da Abelha à esquerda e a Pedra do Segredo à direita.
Se alguém estiver procurando um point de escalada que melhor representa o Rio Grande do Sul para conhecer, esse lugar se chama Caçapava do Sul. Não que a Gruta e o Salto Ventoso não sejam referência, muito pelo contrário, ambos são excelentes e fortes áreas de escalada, mas Caçapava do Sul tem um espírito especial que remete às nossas origens.
As primeiras conquistas naquela região aconteceram na década de 70 quando o pioneiro da escalada gaúcha, o Sr Edgar Kittelmann (1933-2010) se aventurou pela região conquistando várias pedras. A Normal da Pedra da Abelha, por exemplo, é um verdadeiro mergulho à história da escalada gaúcha. Ainda hoje é possível de encontrar os grampos de aço usados na conquista da via.
Já na década de 80 e 90, uma nova safra de escaladores, desta vez encabeçado pelo renomado escalador gaúcho João Giacchin, andaram por aquelas bandas conquistando inúmeras vias clássicas que ainda hoje desafiam o físico e a mente da geração mais nova. Vias como a Sem Medo de Ser Feliz (Pedra do Segredo), considerada por muito tempo como a maior via do estado (160m), e a Absolutamente Absorto (Pedra da Abelha) com o famoso esticão final são verdadeiras obras-de-arte da escalada gaúcha.
E na virada do século, a terceira geração de escaladores iniciou o desenvolvimento das vias esportivas na região. A conquista e a primeira ascensão e repetição da via Octagon (9c) pelos escaladores, Guilherme Zavaschi e Thiago Balen, respectivamente, marcou o início de uma nova era na região. Desde então, inúmeras vias estão sendo abertas na região, graças aos esforços dos escaladores locais como o Bin Laden, Omar e vários colaboradores externos. Também é importante ressaltar a participação do Sr Manuel, proprietário do Camping Galpão de Pedra, no desenvolvimento do esporte na região, principalmente no entorno da Pedra do Leão. Muito visionário e incentivador, Sr Manuel sempre patrocinou as novas conquistas, arcando com todo o material de conquista.
A primeira vez que fui a Caçapava do Sul foi durante o feriadão de Carnaval de 1996, numa excursão organizada pela AMES (Associação de Montanhismo de Esteio). Naquela ocasião tive a oportunidade de entrar em praticamente todas as vias clássicas da região, sob um sol castigante e ataque dos marimbondos tunados!
Desde então, sempre que posso, volto para lá para matar a saudade. E depois de um jejum de quase 4 anos finalmente consegui dar um pulinho em Caçapava para provar um pouco as vias roleta-russa, provar um bom churrasco de ovelha e reencontrar os velhos amigos.
Amanhecer em algum lugar da BR-290 entre Porto Alegre e Caçapava do Sul…
Pedra da Abelha. A famosa via Octagon (9c) começa na platô das palmeiras e transcorre pelo negativo laranja até o cume.
Voltando da Pedra da Baleia. Calor insuportável, sem água mas sempre com bom humor! Grande parceria, Cicerone e Humberto.
Ameaçou mas não choveu… Ufa!
No dia seguinte, tudo certo! Let’s go climbing a rock!
Humberto na Cavalo de Tróia (7b), Setor Vallecito. Detalhe para a roleta-russa (conglomerado em geologuês!)
Cícero trabalhando a via Paranóia (8a), Pedra da Baleia.
Treininho de laço no final do dia!
Depois do aquecimento, treininho no modo dinâmico! Seu Manuel e o seu filho Leonardo.
Cartão-postal de Caçapava do Sul, a Pedra do Segredo.
Então aqui fica a dica para quem quiser dar um pulinho no Rio Grande e quiser conhecer melhor a nossa cultura! Caçapava do Sul é trilegal!
2 respostas em “O bom filho à casa torna”
Querido Naoki Arima, parabéns pela tua iniciativa, pelo teu empenho e pelo teu Site. O teu artigo “O bom filho à casa torna”, definitivamente me emocionou. Desda parte que me corresponde, te agradeço infinitamente; o teu detalhe e a tua sensibilidade ao escrever sobre minha etapa no montanhismo do Rio Grande do Sul, me transmitiu afeto e saudades. Ter sido felismente o pioneiro de conquistas de escaladas em solitário, desde sempre, me transmitiu bem estar e serenidade. Fazer parte do pioneirismo de Conquistas em Solitário e da história da Escalada em Rocha nos anos 80, até hoje me transmite bem estar (a semente que eu plantei em solitário nos anos 80, germinou saudavelmente e se proliferou fantasticamente). O Rio Grande do Sul é uma terra especial, “onde tudo que se planta cresce” (como já dizía o meu tio Leonardo), e voltar a casa e ver que o meu esporte preferido se multiplicou, será um prazer! Lendo o teu artigo e vendo tuas fotos, a Escalada em Rocha segue me emocionando! Um abraço desde Londres! João Giacchin
Giacchin!!!!
Muito feliz em saber que tu andou pelo meu site. Infelizmente quando comecei a escalar, tu já tinha ido morar fora do país, mas o teu legado e as tuas vias tive o prazer de conhece-las pessoalmente. Um grande abraço!