Lage das Pedras, Guarapari.
Aqui, na capital Vitória, tem um bairro bem conhecido que se chama Jardim da Penha. É um bairro residencial e universitário totalmente “planejado” que surgiu na década de 50. Digo planejado, porque o engenheiro ou arquiteto que planejou o bairro, inspirado no planejamento urbanístico de Belo Horizonte, desenhou largas avenidas diagonais formando 13 quadras principais ligadas por ruas menores. Em em cada cruzamento, entre as diagonais principais, há uma rotatória com SETE saídas (entra por uma rua e tem sete saídas = oito). Agora, imaginem o desespero de alguém que não conhece o bairro quando se depara com uma rotatória dessas! E para explicar? E quando se perde? E quem disse que tem placas? Aquilo é um labirinto sem saída! E não é à toa que algumas pessoas chamam carinhosamente o bairro de Jardim Labirinto!
Toda essa aula de geografia e história foi só para falar do nosso Jardim Labirinto do final de semana. Uma conquista que começamos no Lage das Pedras em Guarapari.
A pedra já conta com duas vias. Uma em móvel que ninguém sabe onde fica e a via “Lígio Alvarenga” em homenagem ao proprietário das terras. Essa via, embora seja fácil, possui grampeação espaçada (E4) e proteções mal batidas, por isso não é muito popular na comunidade (clique aqui para ler um relato no blog do Baldin ).
A linha que começamos fica à esquerda da Lígio Alvarenga e busca o cume mais alto da pedra pela maior face, passando por vários colos até o cume da pedra propriamente dita. A Lígio Alvarenga termina num dos 3 cumes que compõem a pedra.
Para uma indiada desse naipe, nada como convidar o mestre das roubadas, o DuNada. O Afeto, que também é bom de roubada, arrumou uma desculpa de última hora foi fazer stand up yoga! Pode isso Arnaldo?
O plano era chegar cedo, 6h30, escalar o mais rápido possível e bater no cume da pedra maior pela face frontal.
Chegar cedo chegamos, 6h30, mas não esperávamos que tivesse chovido de madrugada. Olhamos para a pedra desolados ao ver ela chorando. Ficamos ali esperando e pensando no que fazer, enquanto pedíamos permissão ao Sr. Lígio para tentar escalar a pedra molhada. Pedir autorização às 6h30 de um domingo sempre é constrangedor.
O DuNada queria ir embora, e eu falava que já já ia secar a pedra. Ficamos mais meia-hora e partimos para a pedra. Em 1h fez tanto sol e calor que quando chegamos na base da via a pedra estava praticamente seca.
Passando um protetor no pescoço… O sol vai pegar!
A ideia inicial era subir por um costão à esquerda para ganhar logo o primeiro lance, mas ao chegarmos na base da via, o costão era costão demais e logo deslumbramos uma linha mais interessante (menos costão). Maldita hora que tomamos essa decisão! No granito, linha bonita é igual a linha difícil. Conquistamos a primeira enfiada de uns 30m de II grau e batemos a parada. Comecei a 2a enfiada e na 2a chapa já estava arrependido da escolha! Escalar uma linha bonita é uma coisa, mas conquistar… Dá muito trabalho!!!
Tirando que o granito era liso e sem agarras, a enfiada ficou irada! 35m de muita escalada técnica, um pouco de braile e muita criatividade.
DuNada começando a conquista. Aderência fácil, mas a pedra esfarela…
Limpando a 2a enfiada. Enfiada dura que exige muito trabalho de pé e “acreditar”.
Em meio a empolgação de ter concluído a enfiada, o tempo virou e começou a chover de leve. Tranquilo, é só botar o anorak e esperar. Mas cadê o anorak? É claro que ficou em casa…
Na mesma velocidade que começou a chuva, ela foi embora e continuamos com a conquista da 3a enfiada. Uma enfiada tranquila em diagonal até o primeiro platô.
Dali, mais uma caminhada até a base de um diedro super-tranquilo (4a enfiada), mas foi só entrar nela que ele mostrou a cara e mostrou que não era tão fácil assim (6o grau).
Batemos num outro platô de mato, dessa vez maior e mais fechado. Chegamos exaustos nesse ponto por causa do sol e por causa da chuva que em vez de nos refrescar, só serviu para aumentar a sensação de bafo. Estava me sentido como a batata doce que o DuNada trouxe….
Olhem só a sacanagem do DuNada! Levar batata doce e ovo cozido para escalar! Sobrou pra mim.
Varremos o platô de um lado ao outro na mata fechada procurando uma janela de pedra escalável, e nada. A parede era vertical e sem agarras. Até que finalmente achamos um pequeno colo que nos pareceu interessante.
De fato, a linha era muito boa, mas com muita travessia e pouco progresso na vertical. Fechamos a 5a enfiada num platô após uma mega travessia de uns 20m. Mais um lance tranquilo de 6o grau, costão e P6.
Se chegamos na P3 exaustos, na P6 estávamos em frangalhos. E para pior, parecia que tínhamos chegado num beco sem saída. Uma muralha de granito vertical de uns 30m nos separava de um outro platô. Confesso que nesse momento estava totalmente cansado e desmotivado. Após tanta luta para vir sempre em livre ter que fazer furos de cliffs parecia algo muito desonroso. Ficamos ali um tempo, descansando e pensando no que fazer. Até que o DuNada viu um veio de cristal bem à direita que parecia ser uma boa. De início fiquei meio assim, porque não queria mais uma travessia. Já estávamos andando em diagonal a um bom tempo e sabíamos que depois iríamos cair obrigatoriamente para esquerda. Mas como não tínhamos escolha, fomos para o veio.
Escalada com vista para o mar. Ajuda a refrescar a mente!
Batemos mais duas chapas na travessia, vimos uma janela para subir e, aliviados, resolvemos descer dali, pois estava escurecendo e sem chapas para continuar.
Croqui parcial da via Jardim Labirinto.
Segundo a nossa estimativa deve ter mais uns 40m até um outro platô e uma última enfiada mais dura até batermos no cume, mas isso é história para o próximo capítulo.
Boa semana a todos!
ATENÇÃO!
Ao entrar nas terras do Sr Lídio, é mandatório pedir passagem tanto com o proprietário quanto com o caseiro, Marcelo, que mora numa casa antes da casa do Sr. Lídio.