A montanha sempre será a mesma, o que a faz diferente são os Homens que escalam.
Esse pensamento invadiu a minha mente enquanto dava segurança na última parada da via “Xixi Molhado” na Parede dos Sonhos em Itarana com a Jana e o Lissandro.
Um dia, a Jana me pediu para que a levasse na Parede dos Sonhos com aquela motivação e entusiasmo de sempre. Ela começou a escalar a pouco menos de 3 anos, mas desde o início se mostrou muito fanática em todas as modalidades. Para ela, o importante é “comer pedra”, seja um bloco de 5m ou uma parede de 500m.
Já o Lissandro parece que foi picado pelo “mosquitinho da tradicional”. Depois da conquista da via “Sorte de Principiante” ele foi com a Gleide para Pancas e “passou o rodo” com o Brunoro na última semana.
Com gente motivada assim, ficou fácil fechar a escalada, juntou a fome com a vontade de comer e lá estávamos nós no último domingo na Parede dos Sonhos.
A Parede dos Sonhos foi descoberta em meados de 2014 e desde então vem recebendo inúmeras conquistas. Ainda lembro da primeira vez que olhei para aquela parede peculiar e mentalmente fiquei imaginando linhas e mais linhas de vias. E hoje, sempre que olho para aquele parede, fico emocionado ao ver que todas as linhas imaginárias se tornaram vias.
Escalada
Como a cordada era bem heterogênea escolhi a via “Xixi Molhado” por abranger bem as particularidades de cada um. Assim, passei as enfiadas em móvel para Jana que está começando a guiar “colocando os amigos”; as enfiadas em proteção fixa para o Lissandro que está iniciando nas “tradis”; e eu ficaria com a “sobra”.
Às 9h iniciei a escalada tocando a 1a enfiada em móvel. Depois a Jana tocou a 2a em móvel por uma oposição bem didática. A 3a enfiada em ficou com o Lissandro que, além de pegar a enfiada crux, ficou com a enfiada mais venenosa da via. Em 30m ele aprendeu a escalar com corda dupla; que tufo de mato pode ser agarra; que pular chapeleta não é mentalmente saudável; e que navegação em via pode ser difícil, principalmente quando não souber onde fica a parada dupla.
Dali fizemos uma pequena transição para o grande platô e eu toquei a mega fenda de 60m da 5a enfiada até a base do arco. A essa altura do dia, o tempo estava virando rapidamente. Definitivamente o inverno deste ano será chuvoso, assim como em 2014. O grande problema da Parede dos Sonhos é que a chuva sempre vem por trás da montanha. Assim não vemos o tempo virar. Quando damos por conta, a chuva já está sob nós. Mesmo com uma leve garoa, consegui escalar tranquilamente, graças ao enorme teto que fica sob a via.
A 6a enfiada, em móvel, ficou com a Jana novamente que dessa vez suou um pouco com a vegetação e o atrito. Coisas que a gente vai aprendendo a gerenciar com o tempo.
Como a 7a enfiada é em chapa, ficou novamente com o Lissandro que depois do veneno que passou lá embaixo, tirou essa de letra.
Para não falarem que eu não fiz nada, fiquei com a última enfiada, um runout estranho onde os crux´s são as passagens da rocha para terra solta. Já estou considerando saudável bater pelo menos uma proteção fixa num lance…
Chegamos no cume por volta das 15h com o tempo bem carregado. O céu estava tão carregado que parecia final do dia, mas o céu dramático foi o toque final para mais uma escalada clássica nessa pedra que a considero uma das melhores do Estado.
Já os “aprendizes” estão de parabéns. Acho que a grande essência da escalada tradicional é o bom humor e o pensamento positivo, o resto a gente aprende com um pouco de prática e experiência. Da minha parte, achei que fosse apenas uma repetição normal, mas ao longo da escalada fui descobrindo que não existe repetição, mas sim novas experiências.
2 respostas em “Sonhos”
Ficou muito bacana essas fotos da pra dar uma viajada na via e nessa parede, um dia chego ai vlw por compartilhar japa.
Sem dúvida essa parede é uma das mais incríveis que escalei. Espero voltar em breve e conhecer as outras vias. Valeu Japonês!