Cinco Pontões

17 de Julho

Em 17 de Julho de 1970, há exatos 55 anos, os escaladores cariocas Carlos Braga, Luiz Penna Franca, Jean Pierre von der Weid, José Carlos Almeira e Rodolfo Chermont chegavam ao cume do Pico 17 de Julho, no complexo dos Cincos Pontões em Laranja da Terra.

Cinco Pontões, Itaguaçu.

O relato desta conquista consta no livro Horizontes Verticais (2006), escrito pelo Jean Pierre.

Pico 17 de Julho.

O grupo montou uma excursão e chegou à cidade de Afonso Cláudio. Naquela época, essa região pertencia ao município de Afonso Cláudio.

A muralha!

“(…) Contatamos o prefeito, à procura de algum auxílio. Recebidos com pompas num lugar ermo e desconhecido, fomos alojados na casa do vice-prefeito e posteriormente levados num jipe da Prefeitura à localidade de Cinco Pontões, ou patrimônio dos Cinco Pontões, como era conhecida. Começava aí minha grande aventura nos cumes virgens do Espírito Santo”.

Porko escalando a 2a enfiada da via.

Uma vez na região:

“Instalamo-nos numa casinha de sopapo, oferecida por um fazendeiro da região, e organizamo-nos para melhor aproveitar o nosso tempo. Apesar de vazia há tempos, a casa era assoalhada e estava em bom estado. Maravilhosa a vista da janela bem diante dos pontões.”

Após uma exploração pela região onde subiram o Pontão Grande e Rachado, resolveram começar os trabalhos conquistando uma pequena agulha inclinada que se projeta para o vazio.

Para isso, resolveram fazer a aproximação pelo Pontão Rachado, realizando uma longa travessia por um terreno bastante técnico.

“Escolhemos iniciar pelo Pontão Rachado e dali seguir um longo costão que nos levaria ao pé da agulha principal. No dia seguinte, ao atacarmos o projeto, descobrimos que uma chaminé imensa interrompia o percurso, cortando a montanha de ponta a ponta. Era necessário um salto de quase dois metros por cima daquela goela aberta e sem fundo. Foi somente no momento desse salto por cima do vácuo que nos encordamos para garantir o pulo, sem as surpresas intermináveis de uma queda naquelas alturas. A segurança foi dada de ombro mesmo. Numa sequência de lances em aderência, passamos para uma canaleta, disputando espaço com os gravatás que a ocupavam, até uma chaminé que terminava no cume. Aquela chaminé foi escalada por todos ao mesmo tempo, vencendo simultaneamente nosso primeiro cume virgem.

É claro que a conquista era de todos, mas desse jeito cada um teria a sensação de pisar primeiro na pedra virgem. A ela demos o nome de Pontão 17 de Julho, data em que pela primeira vez saboreávamos o prazer de desvendar os mistérios do inacessível. No cume minúsculo e vertiginoso, debruçados sobre quase trezentos metros de vazio, gritamos nossa alegria e soltamos fogos de artifício, respondidos aos gritos e tiros por toda a região à nossa volta. Numa urna feita com uma marmita de alumínio, deixamos a nossa flâmula e um livro com nossas impressões e assinaturas. Apenas uma cunha de madeira foi usada como peça de segurança na descida. Fiquei por último, com uma estranha sensação de responsabilidade. A cunha era precária e fiquei garantindo a descida dos outros. Por fim, um pouco receoso de que a cunha não resistisse, pedi que fixassem a ponta da corda e lancei-me na descida, que transcorreu sem problemas.”

Atualmente, essa aproximação não é mais utilizada. A maioria das repetições acessa pelo Pontão Grande por uma série de rapéis até o anfiteatro das agulhas satélites.

Grampo original da conquista.

Até hoje, mesmo fazendo a aproximação pelo Pontão Grande é um longo dia na montanha devido aos rapéis. Além disso, a 1a enfiada da via impõe bastante comprometimento pela dificuldade técnica (V), qualidade duvidosa da rocha e exposição (E3), mostrando o quanto os conquistadores estavam à frente do seu tempo naquela época.

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