As “tradis” mais difíceis do Espírito Santo

Já deu para ver que por aqui a quarentena segue firme né? Nada de escalada em rocha por recomendação das autoridades. Então, o jeito é ficar planejando a volta, treinando ou estudando que também é muito importante.

Esses dias participei de uma live e surgiu uma pergunta sobre as tradicionais mais difíceis do Espírito Santo. Na hora, só soube responder que a via mais difícil é a “A Resistência” na Pedra da Fortaleza em Nova Venécia. E as outras? Então resolvi fazer uma pesquisa no meu banco de dados para saber das outras vias.

Antes de mais nada, o termo “difícil” é bem relativo, pois uma via tradicional envolve muitas variáveis que por vezes são imensuráveis. Tentei fazer uma filtragem matemática, excluindo variáveis adimensionais (por exemplo, o que eu acho que é difícil.). Basicamente peguei o banco de dados que contém 294 vias e apliquei um filtro na seguinte ordem: Grau específico, grau geral, grau de exposição e duração. E os resultados estão aí!

É claro que essa classificação tem alguns problemas: Primeiro, se refere a via “liberada”. Por exemplo, a via “A Resistência” tem o grau em livre sugerido em 10a, mas a via não foi liberada na íntegra. A segunda questão se refere a trechos em artificial que também não foi computado porque é difícil comparar grau livre com artificial. O que é mais difícil? Um 7a ou um A2? E isso acabou causando algumas distorções, como, por exemplo, a via “No Gargalo” na Pedra do Garrafão que acabou ficando fora. Por isso, recomendo ver o ranking com as devidas ressalvas.

A lista das vias tradicionais em livre ficaria assim:

1- A resistência – Pedra da Fortaleza, Nova Venécia

10a, E3, D5, 725m – Via conquistada por escaladores paranaenses (Edemilson Padilha, Valdesir Machado, Willian Lacerda e Thomás Kampf, Murilo Vargas e Luiz Maurício Leite) em agosto de 2019. Essa via não teve repetição e algumas enfiadas não foram liberadas. Grau sugerido. Leia mais aqui sobre a conquista.

2- Obrigado Amigos – Pedra da Cara, Pancas

6o, IXa, D4, 630m – Via conquistada por escaladores Tchecos (David Michovsky, Filip Martinek, Josef Ficek, Loka´s Kozlik e Ondra Benes) em 2014. Essa via também não deve repetição. Após a conquista, os conquistadores tentaram realizar uma ascensão para liberar todas as enfiadas, mas tiveram que desistir no final devido à chuva, mas a enfiada de 9a foi liberada.

3- No fio da navalha – Pedra do Fio, Castelo

6o, VIIIc, A1, D4, 700m – Outra conquista do trio de escaladores paranaenses (Ed, Val e Willian). Via sem repetição. Em 2018, uma dupla de escaladores do Paraná tentou realizar a primeira repetição em um único dia, mas tiveram que descer na última enfiada. Importante ressaltar que essa via não é totalmente em livre.

4- O Voo da águia – Três Pontões, Afonso Cláudio

6o, VIIIc, E3, D4, 420m – Conquista pelo mesmo trio da Pedra do Fio, porém no ano anterior. Via sem repetição, mas segundo relato de conquista, todas as enfiadas foram liberadas durante a conquista.

5- Espírito dos Gerais – Pedra da Lavra, Água Doce do Norte

VI, 8a, E3, D4, 630m – Mais uma conquista paranaense, dessa vez formada pelos escaladores (Edemilson Padilha, Valdesir Machado, Ian Da Rocha Padilha, Alexandre Haiduke e Edson Vandeira). Via sem repetição. Sem informações sobre liberação.

6- Infinita Highway – Calogi, Serra

6o, 8a, E2, D1, 160m – Via clássica do Calogi com cinco enfiadas conquistada em 2014. Via com algumas repetições e totalmente liberada. Veja o croqui aqui!

7- Frontal do Totem – Apeninos, Castelo

V, 8a, E2, D1, 150m – Outra via relativamente curta, porém bastante vertical. Via com duas repetições, sendo uma formada por uma cordada independente (sem participação de algum conquistador). Via liberada. Leia mais aqui!

8- Vento dos Romais – Pedra da Gaveta, Pancas

6o, VIIc, A2, E4, D4, 700m – Via sem repetição. Via conquistada pelos escaladores Gustavo Silvano, Marco Terranova, Matheus Tavares, Robson Dantas, Sílvio Arnaut em 2016.

9- Bafo de Onça – Pedra da Onça, Castelo

6o, VIIc, E3, D2, 260m – Via conquistada pelos escaladores Caio Afeto e Roney Dunada no totem da Pedra da Onça. Via sem repetição.

10- Inconsciente Coletivo – Totem de Santa Joana, Itaguaçu

6o, VIIc, E1, D1, 70m – Via relativamente curta e toda em móvel. Apenas a 1a enfiada foi liberada. A segunda enfiada não foi liberada (?).

Outras vias

Algumas vias ficaram de fora pelo critério “matemático”, mas que deveriam estar na lista considerando outros aspectos além da dificuldade em livre por envolver maior comprometimento e complexidade logística:

No Gargalo – Pedra do Garrafão, Barra de São Francisco

6o, VIIb, A3, E4, D5, 550m – Via do “Ed” Padilha, “Ralf” (MG), Fernanda Rocha, Javier Franco e Valdesir conquistada em 2005 que transcorre pela face frontal da pedra. Não tenho certeza, mas acho que teve uma repetição por escaladores do Paraná.

Face Nordeste – Pico do Itabira, Cachoeiro de Itapemirim

6o, VI, A2+, E3, D6, 320m. Via de 1999 conquistada por escaladores cariocas. Teve apenas uma repetição.

Filhote da Foca – Cinco Pontões, Itaguaçu

Via da Foca (5o, VI, A2+, E3, D4, 160m) – Via conquistada em 1973 por escaladores do CEC. A saída original parece que nunca mais foi repetida. As repetições posteriores começaram a escalada pela variante Fiapo de Lambique.

A conquista – Três Pontões, Mimoso do Sul

5o, VI SUP, A2+/A3, E3, D6, 350m – Mais uma via conquistada por uma equipe carioca em 2005. Via sem repetição.

Para quem quiser dar uma olhada no banco de dados, segue a lista das vias.

E ai? Já fez o whislist para próxima temporada?

Lista das vias tradicionais do ES