Postagem editada: banco de dados atualizado. Após a publicação, algumas pessoas enviaram dados complementares e novos dados. Os gráficos da postagem também foram atualizados com os novos dados.
Sempre me perguntei quantas vias de escalada existem atualmente no Rio Grande do Sul — e nunca consegui chegar a um número definitivo.
Recentemente, respondi essa mesma pergunta para o Espírito Santo e cheguei a um número cabalístico: 1.136 vias, entre esportivas e tradicionais.
Mas e no Rio Grande do Sul? Temos mais de mil vias? Já passamos das duas mil?
Quando saí do estado em 2006, a impressão que eu tinha era de que havia menos de 500 vias, com base nas minhas anotações.
E hoje, quase 20 anos depois, quanto a escalada gaúcha cresceu?
Mantenho uma pequena croquiteca neste site, mas ela contempla apenas as principais áreas de escalada do RS.
E o restante? Qual é o tamanho desse “resto”?
Pensando nisso, alguns anos atrás comecei a fazer essa contagem.
Organizar um banco de dados dá trabalho e exige dedicação, mas com o advento da inteligência artificial, esse tipo de tarefa ficou bem mais “fácil”. Então resolvi explorar os recursos da IA para atualizar o banco de dados das vias do Rio Grande do Sul.
Comecei o trabalho usando o catálogo de vias que eu já tinha. Depois fui pegando croquis de sites e convertendo tudo para uma planilha, com a ajuda da IA. Busquei também muitas informações na rede — no site da Associação Caxiense de Escalada, no Escalada Gaúcha, em blogs e sites pessoais.
No fim, cheguei a um número “mágico”: 2.002 vias 2415 vias. Mas tenho certeza de que esse número ainda está aquém do real, pois não consegui informações sobre alguns picos importantes, como Morro das Cabras, Marcone, Master of Stone e possivelmente outros setores que ainda desconheço.
Tentei extrair o máximo de informação de cada via, mas ainda há muitos dados em branco — como o ano de conquista, nomes dos conquistadores e outros detalhes. Portanto, os resultados que apresento abaixo devem ser vistos como uma aproximação, sujeita a erros.
Outro ponto importante é que esse banco de dados foi construído com o auxílio de IA. Filtrei o máximo possível os dados espúrios e nomes duplicados, mas ainda assim podem existir inconsistências. A inteligência artificial tem suas limitações — e, às vezes, dá trabalho fazê-la entender o que queremos.
Apesar disso, considero o banco de dados razoavelmente completo, oferecendo uma boa visão geral da escalada gaúcha. Acredito que os números não estejam muito distantes da realidade.
Recomendo que vejam a tabela num computador em modo tela cheia para uma melhor experiência. Essas informações são constantemente atualizadas, sem aviso prévio.
Quem tiver informações adicionais que não estejam incluídas, sinta-se à vontade para enviá-las.
Dados gerais
Atualmente, há 40 46 cidades com vias de escalada no Rio Grande do Sul.
Considerando que o estado possui 497 municípios, isso representa um pouco menos de 10%.
As cidades com maior número de vias são: Caxias do Sul, Caçapava do Sul, Santa Maria e Bagé, respectivamente.
No gráfico, Santa Maria aparece em quarto lugar, mas se considerarmos as vias do Master, que ainda não entraram na contagem, ela ultrapassa Bagé.
Em termos de áreas de escalada, foram contabilizadas 94 107 áreas (pedras, morros, paredes etc.). Caçapava do Sul lidera com 22 áreas, seguida de Caxias do Sul, com 16.

Evolução histórica
A distribuição temporal das vias reflete bem as gerações da escalada gaúcha. A história começa com a conquista do Pico do Itacolomi, em 1952. Até o início da década de 1990, havia pouquíssimas vias no estado. Foi justamente no começo dos anos 90 que ocorreu a primeira grande onda, encabeçada pela segunda geração de escaladores, atingindo seu auge por volta dos anos 2000.
Lembro que, nessa época, a escalada entrou em um período de estagnação. Após anos de conquistas, parecia que a nossa geração estava cansada, e a nova ainda não havia engrenado. Sem dúvida, foi uma fase de “vacas magras” na escalada gaúcha.
Felizmente, a partir de 2010, o esporte ganhou novo fôlego, com a abertura de novas vias e o surgimento de novas áreas — atingindo o auge no período da pandemia. Essa nova onda, impulsionada por uma geração mais jovem e apoiada pela experiência da anterior, se beneficiou tanto dos erros e acertos do passado quanto de uma conjuntura econômica mais favorável.
O mesmo fenômeno foi observado em outros estados, como o Espírito Santo.

Tecnologia e materiais
Os avanços tecnológicos também tiveram papel fundamental nesse crescimento. As furadeiras elétricas trouxeram agilidade e eficiência para as conquistas. Se na década de 90 as vias eram abertas “no punho”, com uma conquista por dia (ou por semana), em meados de 2010 passou a ser comum abrir três a quatro vias por dia, com a furadeira operando em várias frentes de trabalho.
Além disso, houve uma democratização dos materiais de conquista.
Abandonamos os antigos e arcaicos grampos em “P”, substituídos por chapeletas e, mais recentemente, por grampos químicos, que trouxeram mais praticidade e segurança.
Vale lembrar que cerca de metade das vias cadastradas ainda não têm informação sobre o ano da conquista.

Grau e estilo
Em termos de graduação, o grau médio das vias gaúchas está em torno do sétimo grau brasileiro. Usei a graduação brasileira oficial, agrupando os 6a e 6b como VI, e o 6c como VI SUP. O mesmo foi feito com o quinto grau. Para vias acima do sétimo, mantive as subdivisões com letras (a, b, c), mas usei algarismos arábicos, não romanos.

A tabela contempla tanto vias esportivas quanto tradicionais.
Essa distinção, porém, não ficou bem definida, pois não consegui aplicar um filtro satisfatório. Ficou de tema de casa. Mas, aproximadamente 6% das vias são classificadas como tradicionais — aqui entendidas como vias de múltiplas enfiadas, sem necessariamente exigir o uso de proteção móvel.
Já as vias em móvel/mistas representam menos de 15%. Esse número deve ser ainda menor, pois o banco de dados não está completo (500 amostras selecionadas de cerca de 2.000).
Em termos de grau máximo, a via mais difícil registrada é Mistérios do Inconsciente (11b), na Pedra da Abelha, em Caçapava do Sul.
Ainda na casa do “onzimo” constam as vias Sombra e Escuridão, Karma, , Disciplina não ter Jedi nunca será, Retorno de Jedi, Nada é por acaso e Mistérios do Inconsciente, todas 11a.
Conquistadores e curiosidades
Outro dado interessante é a lista de conquistadores e equipadores. Embora incompleta, ela reúne 513 nomes e permite identificar quem mais contribuiu para o desenvolvimento da escalada no estado.

Há também uma curiosidade: a repetição de nomes de vias. Pelo estado, há diversas vias com nomes idênticos, às vezes até em áreas próximas.
Os nomes mais comuns são: Diedro, Caminho do Meio e Pandemia, cada um com quatro ocorrências.
Segundo a tabela, existem 60 vias com nomes repetidos pelo menos uma vez — sinal de que anda faltando um pouco de criatividade na hora de batizar as linhas!
Tipos de rocha
Por fim, como geólogo, não poderia deixar de olhar para o tipo de rocha. O Rio Grande do Sul apresenta uma enorme diversidade geológica, e isso se reflete nas vias de escalada. De acordo com o levantamento, cerca de metade das vias está em basalto (usando o termo de forma genérica), seguido por arenito, conglomerado e granito.

O levantamento evidencia que a escalada no Rio Grande do Sul evoluiu muito nas últimas décadas — tanto em número de vias quanto em diversidade de estilos, materiais e locais. O que começou com poucas conquistas isoladas nas décadas de 1950 e 1960 transformou-se em uma comunidade vibrante, espalhada por dezenas de cidades e com mais de duas mil linhas registradas.

Ainda há muito a ser feito. Há setores pouco documentados, vias sem registro e áreas novas surgindo a cada ano. Mas o importante é perceber que a escalada no estado nunca esteve tão ativa.
O banco de dados é somente um retrato parcial — mas já suficiente para mostrar que a escalada gaúcha está em plena forma, crescendo em qualidade, diversidade e história.
