Últimas semanas

Após voltarmos de Bagé, ainda levei os “guris” para conhecer o Behne antes deles retornarem para o Espírito Santo. O desafio do dia foi bem simples: mandar oito vias ou voltar para casa correndo! Independente do desafio, foi um dia bem legal. Apliquei várias vias e repeti outras. No fim, sobrou para o Pedro “queimar as canelas…”

Afeto no Crux da via “Ilusão fatal” (7b). Behne.
Graveto no Crux da via “Caçador de vampiros” (7b).

Depois que os guris retornaram na 4a feira, passei o resto da semana descansando em Ivoti, pois estava me sentindo bem cansado da viagem. Na semana final, fizemos Caçapava e Bagé tocando seis dias de escalada, sem descanso.

No final de semana voltei à Gruta para tentar o projeto da viagem, Valhala (10a) mas fui pior do que no início da trip. O meu corpo ainda não tinha se recuperado. Pelo menos serviu para pegar novos betas essenciais com o Jeferson.

Guilherme trabalhando a via “Redes Neurais” (10b), Gruta.

No dia seguinte, voltei para o Grutão, dessa vez com o Leco e o Dioni, escaladores locais “ao pé da letra”. Tentei escalar no Grutão com o Afeto no início da trip, mas não conseguimos, então estava bem ansioso para voltar lá. E o Leco foi o cara que conquistou todas as vias do point, então estava bem acompanhado.

Entrei num 7a para “calientar” e achei dura a via. Depois, tentei um 8a e sofri para tirar as passadas. Definitivamente eu ainda não estava recuperado. Aliado a isso, o dia estava insanamente abafado e quente. Tanto é que no meio da tarde, o mundo caiu, mas por sorte nem todas as vias molharam com a chuva e pudemos seguir escalando. Para não dizer que o dia foi perdido, pelo menos consegui mandar a Lobo Solitário (8c) em flash como prêmio de consolação.

Dioni trabalhando a via “Lobo Solitário” (8c), Grutão dos Índios.
Croqui.

Passei a semana do Natal descansando em Porto Alegre com a Paula. Precisava ficar mais uns dias parado, sem fazer nada! Só comendo!

Entardecer às margens do Rio Guaíba, Porto Alegre.

No sábado pós-Natal voltei ao Grutão com sede de vingança, dessa vez com “a velha guarda”. Senti me tão bem ao descobrir que, nesse dia, eu não era o escalador mais velho do grupo. Nas rodas de conversa, entre outros assuntos, falamos de fisio, antagonistas, acupuntura, lesões… Só não falamos, graças a Deus, de remédio!

Nesse dia, o porteira estava escancarada e todos nós passamos juntos. O Zico mandou um antigo projeto (Lambari, 8c/9a) e “passou a régua no setor”; o Tiagão e o Caio mandaram a Lobo Solitário (8c); e eu mandei as duas pendências da semana passada (Teto preto, 8a e Ingovernáveis, 9a). E de quebra, ainda mandei a clássica “Campo dos Bugres” (8c) que dá nome ao setor de 2nd go e Ponto de vista (8c), flash.

Caio no Crux da via “Lobo Solitário” (8c).
Tiago na tentativa a flash.
Na via “Ponto de vista” (8c) com os betas do Zico. Foto: Tiago Mohr.

O basalto, ou riodacito em bom geologuês, é uma rocha bem variada que proporciona vários estilos de escalada. O estilo de escalada do Grutão é bem diferente da Gruta, que é diferente de Noel e Marin. No Grutão, as vias não passam de 15m de extensão e prevalece um estilo mais técnico, em placa, com crux sempre bem definido. Graças ao trabalho bem caprichado do Leco, todas as vias estão bem protegidas com chapeletas e parada dupla com argola. Com certeza é um lugar bem agradável para passar o dia trabalhando os projetos. De quebra, o local está dentro do Ecoparque Grutão, uma área de lazer familiar que oferece toda infraestrutura necessária com mesas, banheiros, bar e estacionamento. “Tri” Nutella!

Principal atração da Gruta dos Índios.

No domingo era para eu não escalar, mas a “fomiagem” foi maior e acabei voltando para Noel. O plano era tentar um 9a à vista. Essa era uma das metas desta viagem, além de mandar um 10a. Naturalmente não consegui nenhum dos dois. Em geral, as vias “estilo gaúcho” são muito “boulderísticas” e difíceis de “a vistar”. Nas vias de nono, em geral, você faz uma “burocracia” e logo em seguida vem um boulder de 2 a 3 movimentos. Na maioria das vezes, esses boulders são bem específicos e eu ainda não tenho a manha de fazer a leitura rapidamente para sequenciar corretamente. Além disso, nem sempre estão bem marcadas de magnésio para facilitar a leitura, principalmente nessa época do ano que chove todos os dias. Mas paciência, essas coisas a gente só melhora com treino e prática.

Nesse dia tentei avistar a via “Movimento Sádico”, mas no fim, nem consegui isolar o crux, então o jeito foi curtir o dia escalando coisas mais fáceis.

Destaque para as “tradis” que têm em Noel. Não é o cargo-chefe da casa, mas tem algumas linhas interessantes (vide croqui no final da postagem. São as vias em azul). Como o Caio e o Ismael estavam com as “peças”, pude provar a via “A cria” (VI). Embora a via estivesse um pouco suja pela falta de frequência, foi uma escalada bem legal. É como se estivesse escalando uma via qualquer em Noel só que em vez de chapas, tem que colocar umas peças. Com certeza é uma opção bem interessante para quem curte esse estilo de escalada.

Ismael puxando um #5 na via “Lama no senado” (7b).
Abrindo os trabalhos na via Wachuma (7a), uma das melhores do setor. Foto: Vinicius.
Croqui atualizado.

No momento que esboço este post, devo estar a uns 8000m de altitude à caminho de Vitória, após passar exato um mês em terras gaúchas realizando um antigo sonho de vagabundear uns dias pelo Rio Grande do Sul de um point para o outro só escalando. Engraçado que quando moramos num lugar dificilmente conseguimos fazer isso, no máximo uns dias, pois os compromissos do dia-a-dia não permitem. Essa imersão pelo Rio Grande do Sul foi muito inspirador e motivador. Com certeza volto para o Espírito Santo com uma outra cabeça, muitos planos e a certeza de que em breve estarei de volta. “Se começar, termine!” Não é assim?

Por fim, gostaria de agradecer a todas as pessoas que compartilharam “a ponta de corda” comigo nesses dias. Foi muito legal mostrar a escalada gaúcha aos capixabas, assim como reencontrar a velha guarda e conhecer mais uma turma da nova geração!

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