Durante o 11o Encontro dos Montanhistas em Caçapava do Sul, no sábado a noite, enquanto esperava o churrasco ficar pronto, me aproximei da churrasqueira porque a noite estava bem fria. Assim que me aprocheguei, vi uma moça sentada numa cadeira fazendo o mesmo que eu. E de repente, ela me viu e perguntou:
– Tu não tem medo de ficar traumatizado do acidente?
Na noite passada, antes de começar a palestra, falei um pouco sobre o acidente que havia sofrido.
Na hora, quase a deixei um vácuo, pois fiquei sem reação. Não consegui elaborar uma resposta à altura e simplesmente falei que não. Imaginei que ela também poderia ter sofrido um trauma e estava tendo dificuldade para superar ou algo assim, e achei mais incentivador falar que eu estava bem.
Mas aquela pergunta me pegou de jeito. Eu realmente não sabia se iria ficar traumatizado. Até porque eu nem havia voltado a escalar para saber. Depois, fiquei pensando: será que perdi a minha coragem? Será que vou ficar com medo das lacas? Será que não vou me sentir à vontade nos esticões? Será?!
Para saber a resposta, só voltando para a rocha para saber como me sentiria depois de um voo épico.
Assim, no último sábado, resolvi fazer um teste em solitária na rocha para saber como estava a minha cabeça.
Durante a semana, no muro da ACE, peguei uma conversa pela metade de que o “Brejauba” iria repetir uma via no Monte Aghá, em Piúma. A via em questão se chama Sapore di Mare (4o, V, D2, E3, 350m) conquistada pelo Baldin e Ghiany no final de 2020. Aquila via parecia bem interessante para fazer o teste psicológico. Grau confortável, extensão interessante e uma boa oportunidade para conhecer o famoso Monte Aghá.

O Monte Aghá é um maciço granítico (charnoquito) de aproximadamente 350m de altura em relação do nível do mar. Até onde lembro, é um dos únicos picos de escalada, junto com o Morro do Moreno, onde se escala muito perto do mar. O Espírito Santo, embora seja um estado montanhoso, a maioria das montanhas está no interior, longe do mar.

Como o Brejauba repetiu a via na 6a feira com o Baldim e mais um escalador, peguei os betas quentinhos. No dia seguinte, ainda consegui me orientar pelas marcas de magui deles! Que por sinal, foram muito úteis, principalmente na 6a enfiada, onde o croqui que eu tinha não batia com a linha da via.
Comecei a escalada tarde, por volta das 10h30, pois eu tinha o beta de que a via ficaria na sombra à tarde. Pensei em entrar quando a via ficasse na sombra, mas achei arriscado, pois poderia ter que pegar a trilha à noite e, se acontecesse alguma coisa, eu não teria uma boa margem de segurança.

Já na primeira enfiada, tive um problema! A corda não deu para chegar na P1. Quando se escala em solitário, aquela dica de sair em simultâneo não funciona. Com isso, tive que parar uma chapa antes da parada e montar uma parada improvisada. Devido à proximidade com o mar, as chapeletas galvanizadas estão bem oxidadas, mesmo a via tendo menos de 5 anos. Então, tive que gastar um tempo para montar uma parada decente.

Como a primeira enfiada ficou capenga, a segunda também ficou faltando. Só consegui me ajeitar na 3a enfiada que é mais curta, assim consegui emendar parte da 2a enfiada com a terceira.
A essa altura, a via já estava na sombra, e um vento sul frio ajudou a melhorar a sensação térmica, mas mesmo assim, estava me sentindo um pouco cansado e sem energia. Não consegui imprimir um bom ritmo, mas não estava muito preocupado com a velocidade, pois estava ali para testar os meus medos.

Confesso que me senti bem confortável. Não tive medo de me expor e nem fiquei com medo das lacas quebradiças da via. Parece que a autoconfiança estava em dia novamente. Com isso, pude escalar a via curtindo a solitude e a chegada da primeira frente fria do ano que marca o início da temporada.




Cheguei no cume por volta das 14h45, após 4h 15min. de escalada. Encontrei três voadores no cume, esperando o vento acalmar para poder voar.

Como eu havia levado somente uma corda, não tive outra opção senão descer pela trilha. Acho que levei aproximadamente 45 minutos do cume até o campo de futebol, onde deixei o carro. A trilha é bem tranquila, mas no final, as minhas pernas estavam cansadas da escalada.
Sobre a via, posso dizer que é uma via muito cênica. Escalar vendo o mar é outro astral. Tem até um cheiro de mar no ar. A via é bem protegida, sem lances longos ou expostos e os cruxs bem tranquilos. A única coisa que poderia atrapalhar quem não está acostumado com esse tipo de escalada seriam os lances de aderência. Há alguns lances, onde é preciso ter um bom trabalho de pé para vencer os abaulados. Outro fator complicador seria achar as chapas que, com a oxidação, estão da cor da pedra.
2 respostas em “Aghá”
O samurai está de volta…parabéns japa, você é fera!
Vlw Breja pelos betas e marcas de magui!