Relato de Ricardo Menescal sobre a conquista da via Normal de 1958
Os pontões de Afonso Cláudio, pelo isolamento da região, tornaram-se um objetivo meio misterioso e cercado de dúvidas. Alguns lhes haviam visto em fotografias de muito longe e tudo mais carecia de informações. Em março do ano passado, quando de passagem por Vitória, ocorreu-me conhecer a montanha, vista de avião. Um amigo, instrutor do aeroclube local, Rômulo Finamoro Filho, apresentou-se a colaborar comigo, proporcionando-me uma minuciosa exploração aérea durante a qual foram batidas diversas chapas. Somente agora surgiu a oportunidade de juntarmos um grupo que, contando com a presença de Drahomir Vrbas (Jimmy), Hamilton Maciel e Orlando Lacorte, assegurava, de antemão, o pleno êxito esperado. O último teve um impedimento, sendo substituído à altura por Patrick White. Na ocasião, em Alegre, o clube excursionista local festejava o seu terceiro aniversário, o que, juntamente com a comemoração do Jubileu de Prata da primeira escalada ao Pico da Bandeira por uma entidade esportiva, propiciou a organização de vários festejos. O grupo, acrescido de Olga Menescal e Astrid Ullup, desviou-se do seu itinerário para levar ao Centro Excursionista Pico da Bandeira e ao guia de 25 anos atrás, Hugo Bluze, o cordial abraço do Clube Excursionista Carioca, dedicando-lhes a conquista que seria tentada. Passando de Alegre para Afonso Cláudio, dia 13 ali chegamos já à noite, após uma viagem por “caminhos carroçáveis” em que foi posta à prova a bravura de nossa caminhoneta. Na cidade avistamo-nos com o Prefeito, Dr. João Eutrópio, que juntamente com sua senhora nos proporcionou inúmeras amabilidades, mui especialmente às nossas companheiras que ficaram na cidade. No dia seguinte, ainda cedo, partimos, acompanhados de um cicerone local, para uma fazendola na base da montanha (550 m). Seu proprietário solicitamente levou-nos até um local que achamos ideal para o acampamento base (950 m), transportando num animal todo o equipamento. Nesse mesmo dia fizemos nosso primeiro contacto com a montanha atingindo o paredão inicial conquistando o primeiro lance. Voltamos à base para buscar um tronco de árvore que seria de imensa utilidade. No dia seguinte, ainda cedo, atingimos o lance preparado na véspera e continuamos galgando paredões e chaminés até atingirmos a altura em que a montanha se divide em quatro pontões e não três, como julgam os moradores locais. Ali ficamos, Jimmy e eu, encarregados de levar montanha acima o tronco, enquanto Pat e Hamilton seguiam em exploração, penetrando o colo formado pelo pontão maior e o menor (Diabinho, o mais difícil) em busca de um acesso pelo outro lado. Algum tempo depois ouvimos nos chamarem de outra garganta, entre o mais alto e o segundo, Pat e Hamilton, após diversos lances, haviam atingido a base de uma chaminé que corta o pontão maior de lado a lado. Seria essa a única via de acesso possível ao cume. Seguimos todos para essa base “guindando” o tronco pesado e incômodo em certas posições perigosas.
A chaminé grande nos surpreendeu: em toda a nossa vasta experiência excursionista, acumulada durante longos anos de prática do esporte, nunca havíamos deparado com uma chaminé tão extensa, vazada de ambos os lados, sem nenhum descanso intermediário. Avaliamo-la em 45 metros, ou seja, a altura de um edifício de quinze andares. A maior do gênero (lance livre) que conhecíamos até então era a da Agulha do Diabo, com 18 metros. O adiantado da hora e o cansaço não nos animavam. Começou o inevitável “Jogo de Empurra”: – Ninguém se anima? Após algum descanso, Pat iniciou os primeiros quinze metros de rala-costas, no fim dos quais começou a preparar o orifício para colocação de um grampo. Decorrido algum tempo Jimmy subiu para substituí-lo, terminando a cravação do primeiro “grampo de expansão” (13:00 hs). Jimmy, até então na retaguarda, mostrou ser o escalador de fibra e resistência de que sempre ouvíramos falar. Prosseguindo à frente, ainda colocou mais dois grampos (13:30 e 15:50), sendo o último a um espaço de mais de vinte metros do primeiro. Só a falta de um quarto grampo obrigou-o a voltar. Retornamos exaustos ao acampamento. Dia 16 – Tempo nublado e ameaçador. Apreensivos, subimos à base da chaminé auxiliados por noventa metros de cordas fixas, estendidas nos paredões iniciais. Às 10:00 h atingimos a chaminé. Novamente Jimmy atirou-se à luta como “cão raivoso”. Hamilton seguia-lhe pouco atrás para manobrar a corda de segurança. Após meia hora de ansiedade ouvimos a notícia da colocação de mais um grampo e, pouco depois, Hamilton, pondo fim a um suspense enervante, nos gritou que Jimmy vencera a chaminé: num movimento de audácia, pulara da posição de uma perna de cada lado da chaminé para cima do platô, idêntico à unha da Agulha do Diabo. Hamilton, Pat, o tronco e finalmente eu, chegamos a esse platô. A derradeira etapa em direção à meta final foi a colocação do tronco da unha para o pontão, por sobre a chaminé, destarte servindo de ponte por onde Pat atravessou o vazio de aproximadamente 3 metros da chaminé, galgando o cume do maior dos três pontões de Afonso Cláudio. Eram exatamente 12:00 horas do dia 16 de julho de 1958. De baixo, ouvimos vários tiros dos colonos que já nos acompanhavam com vivo interesse. Por feliz coincidência, vinha chegando à base o Prefeito trazendo em seu carro Olga e Astrid que confessaram grande emoção ao avistarem, de longe, uma bandeirinha tremulando e, logo abaixo, quatro vultos que tinham aos seus pés uma das mais belas montanhas do nosso país.
Fonte:http://www.carioca.org.br/blog/posts/tres-pontoes-de-afonso-claudio
1958
Ricardo Menescal, Drahomir Verbas, Patrick White e Hamilton Maciel
Via original da conquista dos Três Pontões de 1958 pelos escaladores Ricardo Menescal, Drahomir Verbas, Patrick White e Hamilton Maciel, todos do Clube Excursionista Carioca – CEC.. A saída da via não é muito clara (vide figura). O fato é que começa numa das grotas que leva ao pé do dedinho e depois segue contornando a pedra (escalaminhando) até entrar num corredor (chaminé) estreito que leva a um platô. Este trecho pode ser feito sem estar encordado. A partir dali sobe por uma chaminé em tesoura até encontrar um grampo (podre) que está a uns 25-30m do chão. Depois segue pela chaminé que vai estreitando até atingir a parada (dupla) do ante-cume do Pontão Maior. Dali para o cume é preciso laçar um grampo velho com a corda e se puxar nela para chegar no cume.
Alternativamente, uma vez que o grampo da chaminé está inutilizado pela ferrugem, na chaminé final, há a possibilidade de usar a variante da conquista de 1970 e atingir o cume pela chaminé da direita que separa o Pontão Maior do Tubarão. Esse trecho começa pela face protegendo em 2 grampos até chegar na base de uma chaminé larga e segue até um pequeno platô onde é possível montar uma parada móvel (Camalot #4). Dali para cima segue pela fenda que separa o Pontão Maior do Tubarão até atingir um colo para então seguir pelo costão que leva ao ante-cume.
Para descer do cume, há a possibilidade de voltar pela mesma via ou descer pela via Garganta Profunda + Garganta Seca pela face sul (2 cordas de 50m). O início do rapel está marcado com uma seta de pedra que leva a parada que fica um pouco abaixo do cume.
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1970
Carlos Braga, Jean Pierre, José Silva, Luiz Branca, Rodolfo Chermont.
Grampo original da conquista.
Via conquistada em 1970 pela chaminé da face norte dos Três Pontões (vide o Timeline) pelos escaladores Carlos Braga, Jean Pierre, José Silva, Luiz Branca, Rodolfo Chermont (CEC). A via segue a linha natural da chaminé norte até atingir o colo para depois seguir pelo corredor (em chaminé) até a base da chaminé em tesoura da conquista original. Neste ponto, em vez de seguir pela chaminé original, os conquistadores seguiram pela chaminé estreita da direita, vencendo um lance em aderência até chegar na base da chaminé. Após a chaminé, chega-se a um pequeno platô onde é possível de montar uma parada (Camalot #4). Dali para cima, segue pela chaminé até o colo, para seguir pela aresta até a parada da conquista de 1958.
1996
Gilberto Azevedo e Roberto Tristão
Duas cordas de 60m; 17 costuras, sendo algumas longas; Estribo caso entre em artificial; Ascensores e Camalot #.5-#2.
Grampo original da conquista com grampos de inox em algumas paradas.
A via “Inferno na Torre” é uma das vias do livro “50 vias clássicas do Brasil” de Flávio e Cíntia Daflon, por isso ela vem sendo bastante frequentada nos últimos tempos, principalmente durante o inverno. Mas isso não quer dizer que encontrará fila, muito pelo contrário, por aqui, assim como em grande parte do Espírito Santo, o mais comum é passar o dia sozinho na montanha.
Essa via foi conquistada em 1996 por uma dupla de escaladores locais que após inúmeras incursões conquistaram a imponente agulha.
1a ascensão – Dante (14/03/2017)
1a repetição – Fabrício Amaral (05/2017)
2a repetição – Naoki Arima (07/2018)
3a repetição – Rodrigo Guizzardi (09/2018)
4a repetição – Caio Afeto
5a repetição: Alex Mendes (2022)
2004
Nello Aum e Pedro Trindade
Via conquista em 2004 pelos escaladores mineiros Nello Aum e Pedro Trindade.
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Duas cordas de 60m; Dois jogos de Camalot (grandes).
Parada dupla com chapeleta galvanizada no cume.
Chaminé conquistada pelo escalador Roberto Tristão. Essa chaminé de aproximadamente 20m dá acesso ao segundo pontão que forma os Três Pontões de Afonso Cláudio.
Para acessar a base da chaminé, a melhor forma subir pela Vândalos Inocentes até a base do Dedinho e depois seguir escalaminhando pela via original de 1958 até a base da grande chaminé. Em vez de subir pela chaminé de 1958, sobe-se pela chaminé de 1970 até o platô. Dali, faz uma pequena travessia à direita até encontrar a chaminé que leva ao cume.
Requer muito material móvel grande (Camalot #4, #5 e #6).
Para descer, há uma parada dupla no cume.
25/01/2015
Robinho, Emerson, Caio Afeto, Naoki Arima e Roney DuNada
2 cordas de 60m; 2 jogos de friends, sendo 1 Camalot #6; 8 costuras;
Grampos até a P5 e chapeleta galvanizada com chumbador 3/8 no resto.
1a enfiada: A via começa bem no colo da face leste dos Três Pontões. Neste ponto, saem duas vias: a Vândalos Inocentes à esquerda e a Boca da Serpente à direita. A primeira enfiada tem uns 20m e começa em diagonal à direita com um crux de 6o na saída (não obrigatório). A parada fica na segunda parada, num grande buraco.
2a enfiada: outra enfiada curta de uns 25m em travessia à direita. O crux fica bem na virada de um teto em chaminé. Não há palavras no mundo que consiga explicar essa movimentação, mas é um lance acrobático de 6o grau. A parada fica logo em seguida à direita.
3a enfiada: A enfiada começa com uma dominada bem estranha até chegar num lance sem agarra. Ali, é preciso fazer um lance em A0 para ganhar um balcão e seguir a escalada (à direita). A enfiada transcorre de um buraco ao outro, indo para direita para depois voltar à esquerda. Nessa enfiada é preciso gerenciar muito bem a corda para minimizar o arrasto. A parada fica num buraco (é óbvio!!). 20m. 5o SUP com A0
4a enfiada: A enfiada segue para cima com um crux logo na saída (não obrigatório). Depois há outro crux em um lance negativo que exige uma certa confiança nos cristais. A P4 foi duplicada para garantir maior segurança (grampo + chapeleta). 25m. 6o SUP.
5a enfiada: Logo na saída há uma movimentação bem estranha que foi passado em A0. Na saída do artificial há uma agarra muito suspeita que fica bem na linha do segurança. Atenção redobrada e levitação máxima para virar o lance. O crux da enfiada fica logo acima num lance de 6o (não obrigatório). Depois a linha segue até a grande caverna. A parada dessa enfiada também foi duplicada (grampo + chapeleta). 30m. 6o grau com A0.
6a enfiada: Da caverna para cima, a via muda totalmente de estilo. Saem os grampos e entram os móveis. A saída da enfiada é bem óbvia, começa atrás de um grande bloco, seguindo uma chaminé, até bifurcar em 2 oposições após um bloco entalado. A linha transcorre pela oposição da esquerda até uma parada que fica logo na virada. Também há outra parada logo acima, num platô mais confortável. Essa enfiada foi apenas isolada, mas deve ser um 6o grau em móvel. 30m.
7a enfiada: No platô há uma fenda frontal bem óbvia e outra fenda em oposição à direita. A linha segue por essa oposição em negativo até a virada. A parada fica no final da fenda antes do negativo. Essa enfiada também foi apenas isolada. Sugerimos um 6o grau em móvel para ela. 25m.
8a enfiada: Enfiada mista com possibilidade de passar em livre. Começa nuns buracos até chegar num grande bloco entalado (!!!). Depois da virada, segue pela fenda até chegar na base de um grande teto à esquerda. Essa enfiada é protegida com chapas e peças. 30m. Lance de 6o grau obrigatório.
9a enfiada: A via segue à direita passando por muitos blocos. Depois desse lance há duas canaletas. A via transcorre pela canaleta da direita, onde há uma chapa no início (escondida) e outra na metade. Depois segue pela canaleta até o colo que separa o Tubarão do Pontão Maior. A parada fica no lado do Pontão Maior após um esticão (fácil) em agarrência.
10a enfiada: Enfiada comum a Chaminé Norte. O lance final que dá acesso ao cume foi originalmente conquistado usando uma escada de ferro que não existe mais. Atualmente o lance é vencido laçando o grampo do cume. 8m.
Descida: A melhor forma de descer é pela face sul, usando a parada da P9. Substituir as fitas! A descida por esse lado exige desescalada em chaminé, mais 3 rapeis em grampo simples (130m). Essa descida é bem complicada para quem não conhece a linha. Caso chegue no cume a noite, e não conheça bem a descida, o ideal é bivacar na área do Dedinho para continuar a descida com luz do dia.
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2015
Naoki Arima e Gillan e Naoki Arima, Robinho e Felipe Sertã.
Duas cordas de 60m; 10 costuras, sendo algumas longas; e 2 jogos de friends.
Chapeleta galvanizada de 3/8. Exceto na P2 da Garganta Seca que é de inox.
2015
Ed Padilha, Val e Willian Lacerda
Duas cordas de 60m; 30 costuras, sendo algumas longas; 2 jogos de Camalot completo.
O Bloco do Arrependido é uma pequena área de escalada esportiva localizada na base dos Três Pontões e conta com nove vias e dois projetos.
Em geral, todas as vias são bastante exigentes e atléticas, com exceção das três vias que estão no pequeno bloco ao lado.
Em 2010 foi reportado que várias chapeletas foram removidas por alguma pessoa. Não se sabe a situação atual das vias.
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