Indian Creek & Castle Valley

Atualizado em: 05/11/2021

Índice

Via Láctea.

Este é um pequeno guia de escalada pela região de Moab (UT) nos Estados Unidos com foco na região de Indian Creek e Castle Valley. As informações são baseadas em uma trip realizada em outubro de 2017 que pode ser lida aqui!

Melhor época

Basicamente as melhores épocas são durante a primavera e o outono.

Vale lembrar que o clima da região é desértico com temperaturas elevadas durante o dia e frio a noite. Durante o outono, é comum fazer de dia 15-20 graus, podendo ventar um pouco e a noite fazer temperaturas na casa de um dígito. Vale lembrar também que outono é a época mais chuvosa do ano. Vez ou outra passa uma frente fria que poderá trazer chuva ou neve, a depender da altitude e temperatura. Há uma recomendação para que não escale no dia posterior à chuva, pois como a pedra absorve água, ela fica mais frágil e susceptível à erosão.

Durante o verão é comum ocorrer tempestades elétricas na região e o Castleton Tower (Castle Tower) é um dos melhores para-raios naturais da área. Por isso, fique ligado às possíveis viradas de tempo se estiver escalando a torre.

Os setores de escalada, em geral, ficam voltados para o sol. Por isso, no auge do verão é praticamente impossível de escalar.

Como chegar

Do Brasil, há três opções de chegada nos Estados Unidos: Salt Lake City (UT), Denver (CO) e Las Vegas (NV). A melhor opção é chegando por Salt Lake por ser a cidade mais próxima de Moab. Além disso, ainda há a opção de chegar em Grand Junction ou em Moab de avião, mas neste caso o valor da passagem poderá aumentar significativamente.

De qualquer um desses aeroportos é preciso alugar um carro para ir até Moab. Para alugar um carro nos Estados Unidos basta ter um passaporte e um cartão de crédito. As locadoras não costumam pedir a carteira internacional (PID).

Saindo de qualquer uma dessas cidades, siga em direção a cidade de Moab, em UT:

Salt Lake City – Moab = 250 milhas – 4h

Denver – Moab = 350 milhas – 6h.

Las Vegas – Moab = 460 milhas – 7h.

*1 milha = 1,6km

Moab é uma pequena cidade turística às margens do Rio Colorado com uma boa infraestrutura (supermercado, farmácia, loja de escalada…) e serve de base de apoio para escalar na região.

 

Indian Creek

De Moab para Indian Creek são mais 60 milhas (1h) em direção ao sul pela rodovia 191 que corta a cidade na transversal. Quarenta milhas depois é preciso tomar uma saída pouco visível à direita pela rodovia 211 em direção ao Parque Nacional Canyonlands. Nesta rodovia, a certa altura, irá entrar num vale (cuidados com as curvas) onde fica a área de escalada de Indian Creek.

Onde ficar

Na área de Indian Creek há quatro opções de camping, todas com infraestrutura mínima, ou seja, apenas banheiro químico e mesas, quando muito. Não há água corrente nem potável.

Creek Pasture Campground – Essa é a área de camping mais distante das 4 que os escaladores usam com frequência. Fica na parte norte do canyon, em direção ao Canyonlands National Park (12 milhas do estacionamento do setor Super Crack). A área fica às margens do rio homônimo e possui uma infra básica com banheiro químico e mesa. Todas as áreas de camping são demarcadas e devido a facilidade de acesso são bastante disputadas. Nenhuma das áreas de camping funciona por reserva prévia, todas são no sistema “first come, first serve” e é cobrado uma taxa de uso. Você preenche o formulário e deposita o valor na urna.

Superbowl BLM campground – Na mesma estrada, um pouco antes do Creek Pasture Campground está o Superbowl, uma área de camping com a mesma estrutura e formato de Creek Pasture. Esta área fica a 11 milhas do Super Crack. A desvantagem dessa área é o pó que levanta com o vento e a passagem dos carros por ficar numa área arenosa e pouco protegida, mas mesmo assim é um dos locais mais procurados pelos escaladores.

Bridger Jack campground – Aos pés da formação Bridger Jack Mesa, numa posição geograficamente mais elevada, fica esta área de camping. Ao contrário das outras duas, essa área não oferece mesa nem banheiro. Há apenas áreas demarcadas para campig e também não é cobrado diária. Além disso, essa área fica num local de acesso difícil para veículos mais baixos ou sem tração. Por isso, o local é mais tranquilo e menos frequentado.

Acampamento em Bridger Jack.

A última opção de camping fica na área sul, num braço secundário do canyon, próximo ao setor Rambo Way. Assim como a área de Bridger Jack é uma área de camping ermo sem estrutura e cobrança. Para acessar esse local é preciso cruzar uma pequena drenagem que a depender das condições pode ser um fator limitador.

Nas áreas de camping sem banheiro é altamente recomendado não evacuar ao ar livre, usando sempre que possível os banheiros químicos que tem na região. Caso o “chamado” seja inevitável, a recomendação é que evacue longe dos rios (leitos secos) e cave um buraco de no mínimo 20cm de profundidade. Além disso é desejado que o papel higiênico não seja enterrado junto.

Fora destas áreas é restritamente proibido acampar ou pernoitar dentro do carro. Lembrando que várias áreas de escalada e estradas ficam dentro de uma propriedade particular.

Água/comida

Na região de Indian Creek a água é escassa para não dizer ausente. Toda água consumida precisa ser levada da cidade (Moab ou Monticielo) em galões.

Em Moab, na loja de equipamentos, Gearheads, há uma torneira com água potável grátis para qualquer pessoa. Basta levar um recipiente e enche-lo.

A cidade de Moab, embora seja bem honesta, tem tudo que você precisará para passar alguns dias no deserto. Na cidade há pelo menos dois supermercados grandes, um ao lado da Gearheads (City Market) e outro na saída da cidade (Village Market). Além disso, na 39 E 100 N, perto dos correios, há um mercado natural chamado Moonflower que tem bastante coisa legal.

Banho

Na área de Indian Creek, como não há água, o banho também fica restrito. Para isso é preciso se deslocar até a cidade para tomar uma ducha. No hostel Lazy Lizard que fica na entrada da cidade (1213 US-191, Moab, UT 84532, EUA) é possível pagar à parte para tomar um banho quente por U$ 3,00 (2017).

Lavanderia

Na cidade de Moab, no mesmo centro comercial onde fica a loja Gearheads, há uma lavanderia 24h que funciona o sistema self-service.

Guia de escalada

Há apenas um guia de escalada dedicado a Indian Creek, chamado Indian Creek: A Climbing Guide (Camalot Edition), escrito por David Bloom e pode ser facilmente encontrado nas lojas de escalada. No site da Amazon tem a versão digital à venda também, mas a qualidade gráfica não é lá grandes coisas. Além disso, o site Mountain Project é um bom lugar para pegar betas complementares já que o guia é meio velhinho.

Para área de Castle Valley, há pelo menos dois guias que são bem úteis: Moab Climbs: High on Moab de Karl Kelley e Desert Towers Select Climbs da editora Super Topo. Além disso, há boas dicas no site do Mountain Project.

Equipos

Indian Creek tem fama de ter fendas perfeitamente paralelas de até 50m que requerem muitas peças repetidas (9-12). De fato, há algumas vias com estas características, mas não é a regra. Para um viajante mediano, uns 5 -6 jogos é mais do que suficiente para maioria das vias.

Separando os equipos.

Vale lembrar que o grau das vias de Indian Creek é diretamente relacionado à largura da fenda. Vias fáceis, 5.9 a 5.10 são, em geral, em fendas de punho, onde cabem Camalot´s #2 e #3. As melhores! Vias um pouco mais duras, 5.10+ a 5.11 são protegidas essencialmente com Camalot um pouco menores (#.75-#1).  Já as vias mais duras, 5.11+ a 5.12 são protegidas com peças menores ainda (#.3-#.5). Em geral, um escalador começa escalando fendas de punho e depois que estiver aclimatado parte para fendas de mão. E mais raramente parte para fendas de dedo. Por isso, os Camalot #1-#3 são os mais usados.

Exceção à regra são para os diedros que normalmente são protegidos com peças pequenas (#.3-#.75) e escalados em oposição. Para tal, são necessários muitas peças pequenas. Já para as oposições em fenda de mão, a dica é não escalar em oposição, mas sim entalando as mãos. Isso poupa uma energia…

Como a rocha, um arenito poroso, é bastante friável, é recomendado que proteja bem as vias, principalmente as fendas de dedo, pois em caso de queda há a chance de sacar peça.

Os nuts não são muito usados em Indian Creek, mas é sempre interessante ter um jogo, pois vez ou outra há boas colocações.

Como a maioria das vias são bem retas, exaustivas e verticais é comum passar a corda diretamente nas peças sem usar extensão ou costura. O uso de costuras está restrito às paradas que são normalmente fixas.

Para grande maioria das vias, uma corda de 70m atende a demanda, mas em outras, faz se necessário levar uma segunda corda para o rapel. Os escaladores locais costumam usar uma retinida de 7mm x 70m para este fim.

Em termos de sapatilha de escalada, a regra é usar a sapatilha mais folgada que tiver. Os modelos 5.10 Moccasyn e La Sportiva Mithos fazem bastante sucesso entre os locais. Alguns escaladores também usam a La Sportiva TC Pro para vias de fenda larga. A única coisa que não serve lá são as sapatilhas apertadas que estamos acostumados.

Outro item obrigatório são as famosas luvas de esparadrapo para proteger o dorso das mãos. O uso de esparadrapo é quase que mandatório para as vias de mão e punho. Por isso, o recomendado é que se leve bastante da cidade. Um rolo de esparadrapo Metolius dá para uns 3 pares de luva.

Setores de escalada

Filtrar por

Supercrack – Setor obrigatório! É o mais famoso e badalado de Indian Creek, por isso é também o mais lotado. Além disso tem uma das aproximações mais fáceis da região. Via obrigatória: Supercrack (5.10)

Donnelly Canyon – Setor que fica no lado oposto ao Supercrack. Tem fama de ter vias mais fáceis e ser um bom lugar para começar a desvendar as fendas de Indian Creek, ou seja, vai estar cheio! Via recomendada: Generic Crack (5.10), mas precisa de 9-12 Camalot #2!!!

Scarface – Setor famoso pela via que empresta nome ao setor. Além dessa via, há algumas outras vias interessantes, mas nada demais. Via recomendada: Scarface (5.11-).

Reservoir Wall – Um dos poucos setores que ficam na sombra durante o outono. Vias boas e de qualidade. Bom lugar para começar se o Donnelly estiver muito cheio.

Cat Wall – Setor gigante com muitas vias de 5.11. Ótimo lugar para ir depois de aclimatar bem pela região.

Bridger Jack – Setor das torres de arenito. Ideal para variar um pouco e escalar algumas torres.

Pistol Whipped – Setor um pouco distante, logo menos frequentado. Ideal para fugir um pouco da muvuca. Via recomendada: Coyne Crack Simulator (5.11).

Castle Valley

Castleton Tower visto do acampamento.

A região de Castle Valley está localizada na porção leste da cidade de Moab, distante a aproximadamente 23 milhas. O acesso se dá pela rodovia UT-128 que margeia o Rio Colorado até o acesso ao circuito Lasal Loop Road (18 milhas de Moab). A área de camping e início da caminhada ficam juntos a esta rodovia, a 4,5 milhas do entroncamento com a UT-128. Não há sinalização desta área de camping, por isso é preciso zerar o odômetro e ficar de olho numa área de camping à esquerda da rodovia, praticamente em frente ao Castleton Tower.

Camping

A área de camping mais próxima fica no início da trilha de acesso a área de escalada de Castleton Tower. Essa é uma área de camping selvagem com apenas um banheiro químico e alguns pits para montar a barraca. É cobrado uma taxa de U$5,00 por pernoite (não-obrigatória) que pode ser pago usando o formulário que fica disponível na entrada. Assim como as outras áreas de camping da região, funciona no sistema “fisrt come first serve”. Por isso a dica é chegar cedo no dia anterior para garantir uma vaga no camping e fazer a escalada no dia seguinte.

A região de Castleton Tower possui vários setores de escalada, assim como uma boa gana de cumes, mas o mais famoso e mais escalado é o Castleton Tower pela via Kor-Ingalls ou pela Chaminé Norte. Essa escalada é considera como uma das 50 melhores vias de 5o grau dos Estados Unidos. Por isso, e por ser uma via relativamente fácil, é comum ter bastante tráfego.

Aproximação

A trilha começa no camping e segue para dentro de um pequeno canyon por dentro de um leito de rio seco. Após sair do canyon a trilha levará para o alto onde uma estrada de chão irá cruzar a trilha. Pegue a estrada para esquerda descendo o terreno até encontrar outra trilha à direita. Siga sempre por esta trilha que levará diretamente à base da torre. A caminhada dura em média 60 minutos com um ganho de terreno de aproximadamente 500m.

Equipo de escalada

Para escalar qualquer uma das vias do Castleton Tower é preciso de 1-2 jogos de friends, um jogo de nut e uma corda de 70m. Algumas duplas optam por usar 2 cordas de 60m para o rapel, mas é possível descer com 1 corda de 70m (tem que ser 70m redondo) pela via Webster Variation.

Filtrar por

Água

Caso opte por escalar pela face norte é preciso levar um pouco mais de água pelo fato de a face ficar voltada para o sol e pela possibilidade de encontrar muito trânsito na via.

Estratégia

A melhor estratégia para escalar a torre é chegar no dia anterior,  acampar no início da trilha e no dia seguinte bem cedo fazer a aproximação para tentar fugir do crownd. Vale lembrar que pelo valor histórico e facilidade da via, o pico é frequentando por todo tipo de gente, por isso é importante levar em consideração possíveis atrasos.

Alternativamente, se estiver escalando confortavelmente, pode optar por uma via um pouco mais dura e consequentemente menos frequentada, como a Webster Variation.

Webster Variation (5.11a)

1a enfiada – O início da via fica no alto da bancada. Por isso é preciso fazer uma pequena escalada solo até a base. O início da via é caracterizada por uma extensa oposição que por vezes se fecha formando um diedro apertado. A escalada é longa e extensa com um crux bem definido na parte final. Levar pelo menos 6 Camalot #3. Parada fixa.

2a enfiada – A escalada segue por uma fissura de dedo até ganhar um pequeno “platô” e depois segue em diagonal à esquerda por um trecho aéreo, onde fica o crux da enfiada. Parada fixa

3a enfiada – A via segue pela direita, buscando um sistema de fenda de meio corpo que mais acima vira uma chaminé. O crux está na entrada da chaminé de meio corpo. Parada móvel no cume.

Descida – Do cume descer por uma parada com corrente até a P3 (2 cordas) e seguir até o chão de parada em parada.Como essa linha é usada para o rapel é comum pegar muito tráfego e cordas voando.

The Rectory

Outra opção de escalada bastante conhecida é a via Fine Jade no The Rectory que fica em frente ao Castleton Tower. A via é considerada como uma das melhores da região e tem uma visão privilegiada do Castleton Tower. A aproximação é basicamente a mesma e a escalada um pouco mais curta. A via possui dois lances exigentes nas duas primeiras enfiadas, além de um crux de face na última. A descida pode ser feita com apenas uma corda de 70m.

Fine Jade (5.11a)

1a enfiada e 2a enfiada – A via começa com um trepa pedra de uns 5m até chegar no topo do platô onde a via começa de verdade. Logo na saída, na virada de um negativo/teto em oposição, fica o primeiro crux da via. É um lance de força e entalamento que costuma derrubar muita gente. Depois a via segue pela fenda que vai aos pouco estreitando. Há uma parada opcional logo acima (P1). Caso esteja bem e tenha peça sobrando pode tocar direto até a P2.

3a enfiada – Enfiada crux da via. Começa em lance delicado com proteções marginais até chegar numa virada em fenda de dedo. O crux em si é bem protegido. Depois a via segue constante. Não pode baixar a guarda. Parada fixa.

4a enfiada – Trecho fácil, mas com pedra bastante decomposta e difícil de proteger em alguns trechos. No guia diz que o lance é 5.10, mas é bem menos.

5a enfiada – Aqui a via sai da linha original (pela esquerda) e a maioria usa uma variante pela face toda protegida em chapeletas. Embora seja “apenas” 5.11a, exige boa leitura e técnica.

Descida – Para descer, se tiver duas cordas de 60m, tem como descer do cume até a base em 2 rapéis. Caso contrário é possível descer de parada em parada com apenas uma corda de 70m.

Equipos

  • Uma corda de 70m ou 2x 60m;
  • 5 costuras;
  • 3 jogos de Camalot do #.3-#3;
  • 1 jogo de nut;
  • Fitas longas.

Outras áreas de escalada na região

No guia de escalada de Moab há diversas opções de escalada na região, com destaque para o setor “Wall Street” que fica a menos de 20 minutos da cidade.

Dia de descanso

Na região de Moab há pelo menos três parques que merecem visita: Arches Nacional ParkCanyonlands Nacional Park e o Dead Horse Point.