No mês passado, Iury e eu estivemos em Pancas rodando pela região da Lajinha a procura de novas pedras naquela região ainda pouco explorada.
A semana retrasada conquistamos a via “Medalha da Honra”, fruto dessa exploração. E agora, no último final de semana dos Dias dos Pais, voltamos novamente à região para conquistar outra pedra que havíamos visto.
Originalmente tínhamos descartado essa pedra por ser muito inclinada, mas após um sobrevoo de drone conseguimos identificar um belo sistema de fendas que seguia 2/3 da parede. Nesse mesmo dia, gastamos um bom tempo conversando com os proprietários das terras para solicitar o acesso à pedra.
Como já é meio de praxe, no domingo de Dias dos Pais, tenho escalado com o Chuck. Por isso, ele também entrou na investida e assim o trio estava formado.
Saímos às 4h30 de Vitória e em Colatina encontramos o Iury e partimos para região da Lajinha.
Como já havíamos conversado com os donos, passamos rapidamente para anunciar o nosso retorno e logo partimos para fazer a aproximação.
A caminhada foi bem agradável. Por causa da chuva da última semana, os pés de cafés estavam floridos e muito aromáticos. Já a caminhada na mata se mostrou bem tranquila e agradável. Além disso, por conta da frente fria que estava passando pelo estado, o dia estava bem confortável. Esse foi um fator preponderante nessa investida, pois a parede fica com a face volta para norte, com sol o dia inteiro.
Por volta das 8h30 iniciamos a conquista. Equipei me com tudo e quando fui dar o primeiro passo na pedra, pisei numa folha seca que escorregou e fui de cara no chão. Por puro instinto coloquei a mão na frente e consegui proteger o rosto, mas foi por pouco.
Não é a melhor forma de começar a conquista. Depois disso, acho que nunca protegi tanto um trecho de trepa mato, pois estava bem cabreiro com as folhas secas.
Estabeleci a P1 num platô bem confortável e chamei os dois. O Iury subiu limpando e o Chuck pela corda fixa.
A próxima enfiada parecia ser a cereja do bolo da via. Tínhamos duas opções: subir pelo diedro ou seguir pelo sistema de fissura de dedo. Nesses diedros, é bem comum encontrar essas fissuras no dorso dos diedros.
O diedro parecia mais fácil, mas também mais sujo, então acabamos optando pela fissura dedo que é uma espécie de iguaria por aqui.
A enfiada se mostrou estrelar. A escalada segue por três fissuras paralelas onde é preciso ir passando de uma para outra conforme a leitura.
Estiquei 40m de corda e estabeleci a parada numa grande árvore visível de longe.
A próxima enfiada era uma incógnita, pois no drone não ficou claro do que se trava, mas logo descobrimos que era um grande diedro com trechos de fenda larga.
Escalar nesse tipo de diedro demanda muito esforço, pois temos que ir alternando técnicas de oposição, entalamento e progressão em fenda de meio corpo.
Pelo menos o diedro se mostrou bem amigável em termos de proteção e a escalada fluiu bem.
Estiquei uns 40m de corda e estabeleci uma parada fixa no final da fenda.
Dali para cima sabíamos que a situação iria complicar. Tínhamos a opção de seguir reto para cima buscando outro diedro, mas o trecho de face me pareceu muito duro. A parede se mostrou muito mais inclinada do que o esperado e subir por ali não me pareceu uma solução sensata.
A outra opção seria tocar uma travessia à esquerda, pois sabíamos de ante-mão que havia umas fendas para lá.
Estiquei uma enfiada de 30m em travessia buscando uma saída para cima. Essa enfiada ficou praticamente uma horizontal com vários lances delicados em agarrência e protegida com chapas e móveis. Sem dúvida, ficou a enfiada mais dura da via e também a mais fotogênica.
Por outro lado, a enfiada ficou ruim também para o segundo, no caso o Iury, que teve que subir limpando a enfiada.
Dali para cima, a parede parecia querer dar uma trégua. A essa altura eu já estava sentido o peso da idade e os meus neurônios estavam cansados da fritação constante.
A quarta enfiada ficou uma enfiada bem eclética, um misto de vários estilos de escalada.
Nas conquistas recentes, tenho escalando em estilo “conquistar e liberar” ao mesmo tempo. Assim, quando bato uma chapa, não dou aquela sentada na proteção para descansar ou dar uma olhada na linha. Com isso, por via de regra, libero a enfiada durante a conquista. É um estilo bem mais cansativo, principalmente para os pés, pois é muito desconfortável ficar tanto tempo com os pés nas agarrinhas, mas é uma escalada bem divertida e desafiante.
Estabeleci a P5 numa árvore e chamei os dois. Agora sim, parecia que a pedra havia cedido aos nossos esforços e a escalada ficou mais tranquila. Agora, o nosso desafio era o tempo, pois estava ficando tarde e não queríamos descer no escuro. Além disso, os dois deixaram a lanterna na base…
Toquei a sexta enfiada em modo expresso e estabeleci a P6 num grande platô de mato, onde fizemos um breve descanso para beber um pouco de água e comer algumas castanhas.
A próxima enfiada parecia fácil. O Iury pegou a ponta da corda e sumiu pedra acima. De repente ouvimos “corda fixa”!
Pronto, estava no cume!
Subimos até o cume para cumprir o protocolo e logo iniciamos a descida.
Devido à travessia da quarta enfiada, resolvemos abrir uma linha de rapel pela direita para evitar esse trecho na descida. Tínhamos algumas dúvidas em relação à posição dessa linha de rapel, mas no fim deu tudo certo e conseguimos chegar na P3 e dali seguir descendo sem problemas até o chão.
Chegamos no chão às 17h40, ainda com luz, mas acabamos pegando a trilha já no escuro.
A volta para Vitória foi bem cansativa, mas às 9h30 já estava em casa para um merecido banho e uma boa noite de sono.
Valeu demais Chuck e Iury! Essa foi puxada!
2 respostas em “Diabo veste branco”
Obrigado japa por me convidar e ao Chuck pelos betas e ajuda, essa deu trabalho, mas ficou linda.
O dia q a conquista não for puxada, vc nem sai de casa!
Boa Japa!!