“O que for pra ser, será!”(Repetição)

No último domingo fiz a primeira (?) repetição da via “O que for pra ser, será” (D3, 3o, V, E2, 480m) na Pedra da Tartaruga (Pancas) em estilo solitário.

Essa via, localizada logo na entrada, no lado direito do Vale de São Luis, um vale paralelo ao Vale do Palmital, foi conquistada pelos escaladores cariocas Pedro Bugim e Laura Petroni em setembro de 2020. O relato da conquista pode ser lido aqui!

Amanhecer em Pancas.

Essa via já tinha entrado no meu radar faz um bom tempo. Parecia ser uma via ideal para escalar em solitária por uma série de fatores. Além disso, já tinha escalado uma via do casal com Iury, a Cavalo Velho e gostado bastante do “serviço”. Para quem não sabe, a dupla tem várias vias conquistadas na região de Pancas. Veja o blog deles para saber mais sobre as outras vias.

Pedra da Tartaruga.

A escalada

Para escalar a via, adotei o que o meu amigo Murilo chamaria de “hero plan“. Bate volta de Vitória em dia de volta de feriado prolongado.

Sai de Vitória às 4h 30 de domingo para tirar o máximo de proveito do frescor da manhã. Às 7h já estava conversando do com o Sr. José Maria, proprietário das terras para solicitar passagem. Fiz a aproximação de uns 10 minutos pelo cafezal e rapidamente achei o início da via, marcado pela primeira chapeleta num grande rampão. A manhã estava um pouco úmida e com bastante nuvens, deixando a pedra com um aspecto liso, nada muito agradável para quem estava planejando esticar até a P4 sem auto seguro.

Pedra da Tartaruga de onde fica o carro.

Por volta das 7h30 iniciei a escalada. No início, a pedra é bem esfarelenta, mas logo acima, a pedra fica mais firme e a escalada flui bem melhor. Em 15 minutos cheguei na P4, garantindo uma boa economia de tempo que seria fundamental no final.

No início da via.

A partir dali, a via toca numa diagonal à esquerda por um grande veio de rocha. No croqui está descrito como “cristaleira”, mas, na verdade, está longe de ser uma cristaleira, muito pelo contrário, é um veio liso.

Aula de geologia: veio é uma designação genérica para chamar uma rocha de dimensão pequena que corta uma rocha mais antiga e que possui composição diferente da rocha “hospedeira”. Alguns veios podem formar cristaleiras, o que chamamos geneticamente de pegmatito. Por outro lado, alguns veios podem ser formados por rochas de textura mais fina que a hospedeira. Para esse tipo de veio, usamos o termo aplito, como na 5a enfiada.

Organizando o rack na P4.

A via segue exatamente pelo veio de aplito, ou seja, exatamente pela parte mais lisa da rocha, deixando a escalada mais interessante. Se é que vocês conseguem me entender!

Já na 6a enfiada, a via abandona o veio que tende à esquerda e puxa uma grande diagonal à direita para tentar endireitar a via. Mas a cereja do bolo é a 7a enfiada. Descrita como: um IV grau constante.

Esticando a corda na 7a enfiada.

Uma das motivações para escalar essa via foi calibrar a graduação com o pessoal do Rio. Classicamente, o grau daqui é mais soft em relação ao Rio, em geral, uma letra. O mesmo acontece para o grau de exposição. Os conquistadores deram E2 para via, mas eu facilmente daria E3, principalmente porque há potencial de queda em platô em alguns lances. O crux da via tem um fator de queda 2 em platô. Embora V seja relativamente fácil, nada impede de uma agarra quebrar.

Após escalar uns 20m entendi o que era o tal IV grau constante. É uma coisa que não é difícil, mas também não é fácil. Não tem agarras boas, nem platôs onde você pode descansar os pés. Você apenas escala e fica pensando: por que não pegaram aquelas chapas das primeiras enfiadas e colocaram aqui? Por quê?

Já a última enfiada é uma burocracia para ganhar a linha de vegetação. A via não acaba no cume da montanha, mas sim na linha de vegetação com uma vista espetacular da região. Aliás, outra motivação para repetir a via foi a vista. Lá no blog tem umas fotos da Laura escalando com vista para Pedra do Camelo que é incrível.

Esticando a última enfiada.

Cheguei no final da via às 10h20, após 3h de escalada. Aproveitei para descansar um pouco e contemplar a vista que é de tirar o fôlego!

Fim!

O rapel foi tranquilo, mas bem cansativo. O único ponto de atenção onde errei feio foi o rapel da P6 para uma parada intermediária que fica no meio da 5a enfiada. Passei pelo lado errado de uma árvore que tem no meio do rapel e tive que voltar uns 20m de prussik para direcional o rapel corretamente.

Às 11h20 bati no chão novamente e fui direto no bar pegar um refrigerante! Tem um bar onde se deixa o carro!!!

À tarde fiquei dando rolê pela região procurando sarna para coçar e ainda deu tempo para passar no Fabinho para dar um abraço e de quebra encontrar o Fred “Ibiraçu” e seus amigos de Juiz de Fora que estavam pela região aproveitando o feriado.

Macacos no Camping do Fabinho.

Já a volta foi um longo jogo de paciência… Levei mais tempo para voltar de carro do que para escalar a via…

Dronando pela região da Pedra da Agulha.

Comentários

Uma resposta em ““O que for pra ser, será!”(Repetição)”

Ninguém quer escalar contigo, seu traste… Tem que escalar em solitário mesmo!!! 😀 kkkkkkk

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