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Sol na Caveira!

No mês passado, enquanto Afeto, DuNada, Amaral e eu estávamos repetindo a Chaminé UNICERJ na Pedra da Andorinha, no outro lado do vale, o trio de escaladores Zé Márcio, Sandro e Brunoro estava conquistando uma nova via na face norte da Pedra da Caveira, em Atílio Vivácqua.

Os dias passaram e na semana passada, os conquistadores compartilharam o croqui da nova via, batizada de “Du Cacá”, na croquiteca da ACE. E para minha surpresa, a nova via de 300m, estava graduada em 5o grau com crux de VI SUP. Essa graduação é incomum em terras capixabas, em geral, as vias ficam na casa do 4o grau com crux de V e mais raramente vemos vias mais duras na casa do 6o ou 7o grau.

Logo, aquilo chamou a minha atenção e fiquei bem curioso para repeti-la. E olhando pelo croqui, a 3a enfiada me pareceu bem interessante, uma longa seção de 60m protegida com 12 proteções fixas e graduada em VI era no mínimo bem convidativo.

Como estava devendo uma escalada mais light com os meninos (DuNada e Afeto), pensei em me redimir propondo essa escalada. Acho que este ano, quando nós nos reuníamos era sempre para fazer alguma roubada. E acho que de vez em quando é legal se reunir para fazer uma escalada mais agradável.

Um pouco ressabiados, os dois aceitaram o convite e às 4h30 de sábado estava botando o pé na estrada rumo ao sul do estado para um “programa Nutella” de sábado.

À caminho da Pedra da Caveira, uma foto da Frade e a Freira ao amanhecer.

Às sete horas da manhã já estávamos na base da montanha procurando os donos das terras para pedir autorização. Usei a palavra-chave “amigo do Brunoro” para conseguir todas regalias e ainda de quebra, consegui uma descrição detalhada da aproximação com o moço que ajudou a abrir a trilha durante a conquista.

Esperamos o DuNada chegar e às 8h começamos a longa aproximação até a base da via. A essa altura, já estava claro que o dia seria bem quente. Aquele frio da manhã que nos assustou um pouco passou assim que o sol mostrou a sua cara e logo fomos tratando de agilizar a escalada.

Como a trilha estava bem aberta e marcada com muitos totens, foi bem fácil achar a base da via, exceto no final, onde não vimos o último totem e acabamos chegando direto na P1 da via após quase 1h de caminhada.

É melhor levar bastante água…
Aproximação com a Pedra do Moitão ao fundo.

Nos equipamos e decidimos que iriamos escalar em bloco para ganhar tempo. Assim, cada um guiaria 2 enfiadas na sequência. Quando se está escalando em trio com corda dupla essa técnica ajuda a ganhar um bom tempo. #ficaadica!

Toquei as duas primeiras enfiadas (2a e a 3a) e logo descobrimos que a graduação das enfiadas estava um pouco superestimada, mas independente da escalada, a via estava muito agradável, com boas sequências de agarras, coisa rara em granito capixaba.

Iniciando os trabalhos sob o olhar da Lua. Foto: Caio Afeto.
Afeto na 2a enfiada da via.
No início da 3a enfiada. Foto: Caio Afeto.
DuNada na 3a enfiada da via. Foto: Caio Afeto.
Afeto no início da 4a enfiada.

A medida que as horas iam passando, o sol ia nos castigando devagarzinho e nada de ver uma única nuvem no céu para trazer um pouco de esperança.

Tratamos de agilizar ao máximo a escalada para sair logo daquele sol e por volta do meio-dia, após 2h30 de escalada, estávamos entrando na famosa caverna que fica no meio da parede e onde a via acaba.

Croqui com as graduações propostas.

Segundo os historiadores, no início do século, o dono das terras mandou 4 empregados índios enterrarem seu tesouro na mata da região e depois ordenou aos seus capatazes o matassem. Uma vez consumado, o mesmo dono, mandou matar os 3 capatazes e colocou os sete corpos no interior desta caverna. E assim nasceu a alcunha “Pedra da Caveira”. Embora o local, de fato, tenha uma energia estranha, a paisagem do entorno é magnífica, tirando as pixações, é claro… Dá para ver desde o inconfundível Forno Grande à Pedra Azul no horizonte, passando pelo Frade e a Freira, Monte Angá até o mar mais à leste.

A caverna da Pedra da Caveira.
Sacaram a sequência no teto?

Já que estávamos subindo um montanha, resolvemos seguir até o cume para coroar a escalada com chave de ouro. Bom para quem levou o tênis para cima, como Afeto e eu, ruim para o DuNada que subiu só de sapatilha… Amadorismo total! Pelo menos ele deve ter sido a primeira pessoa a subir a Pedra da Caveira de pé no chão!

Uma rápida escalaminhada de uns 20 minutos nos levou até o cume da montanha (545m), onde a vista é de perder o fôlego e o calor também… Esperamos o DuNada se recompor da subida “estilo raiz” e logo em seguida iniciamos a longa, mas bota longa, descida até o carro. No meio da descida, as nossas águas acabaram, eu levei 1L para via, mais 1L que deixei na base da via, e descemos com um pensamento fixo em mente: uma Coca Cola gelada!

No cume da pedra!
Vai ter volta…
Sol pegando na descida.

No meio da descida o celular toca! Era um número desconhecido de Cachoeiro, atendi e era o Brunoro!

Ele estava na sede do sítio, pois ele e os amigos de longa data estavam reunidos para um churrasco de confraternização! Oi, como assim?

– Japa, onde vocês estão?

– Fala amigo Brunoro do coração! Já estamos na trilha e descendo!

– Legal, depois aparece aqui na sede do sítio que está rolando um churrasco!

Tem gente que sonha em ganhar na loteria, eu sonho em ter amigos assim que te ligam quando se está na podre para oferecer churrasco!!! Que isso!!!

Nos enchemos de ânimo novamente e descemos o resto daquela trilha como uns cavalos loucos e fomos direto para o sítio.

Difícil foi chegar lá sem aquela cara de desesperados do tipo: passamos o dia só com 1L de água e umas barras de cereal. Mantivemos a compostura, embora a nossa vontade fosse pular dentro da churrasqueira e conversamos com todos os convidados para depois atracar com força na carne. Nos posicionamos estrategicamente ao lado da churrasqueira e ali ficamos…

Só baixando…
Brunoro, eu, Afeto e DuNada! E teve volta! Toma!

Nossos agradecimentos ao Sr. Fernando, dono do sítio, por nos autorizar a escalada e ao Brunoro que nos passou os preciosos betas e ainda de quebra nos chamou para o churrasco!

O Espírito Santo e suas potencialidades.

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