Primeira escalada (tradicional) do ano

^ Roney “Dunada” na 2a enfiada da via “Planeta Vermelho”.

Se no último final de semana foi a primeira escalada do ano, nesse final de semana teria que ser? A primeira “tradi” do ano, com certeza!

Já reclamei, em outras postagens, sobre o calor escaldante no Espírito Santo, principalmente durante o verão. De praxe, a regra é não fazer parede no verão e deixar isso mais para o inverno, quando a temperatura estiver mais amena (ou menos quente). Mas se a fome for muito grande, o jeito é adotar a estratégia “fast and light” para tentar sofrer menos.

E assim fizemos no último domingo, quando eu, Afeto, DuNada, Dudu e Taffarel fizemos a primeira repetição da via “Planeta Vermelho” (4o, IV, D2, E2, 440m) na região de Estrela do Norte em Castelo. Essa via foi conquistada pelo trio de escaladores locais, DuNada, Dudu e Taffarel durante o inverno de 2015, após três investidas. Para ler mais sobre a conquista da via, clique aqui!

Fast and light

Eu e o Afeto saímos de Vitória às 4h30 da manhã de domingo rumo à região de Estrela do Norte, distante a 200km da capital. Após três horas de muitas curvas e poucas retas finalmente chegamos à padaria de Estrela do Norte, nosso ponto de encontro.

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Imponente e sempre onipresente Pedra do Fio.

Encontramos ali o DuNada, Dudu e Taffarel e partimos para pedra. Após uma aproximação ridícula de 1 minuto, estávamos na base da via. E por volta das 8h da manhã entramos na via tentando aproveitar ao máximo o “frescor” da manhã. Para ganhar tempo, eu e o Afeto fizemos a 1a e parte da 2a enfiada à francesa para liberar logo a via para segunda cordada.

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“DuNada” mostrando para os amigos (Dudu), a foto dele na Revista  Rock and Ice. Presente do Afeto que trouxe a revista diretamente de Yosemite para ele! Leia mais aqui sobre essa foto.

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Região de Estrela do Norte, Castelo. A via “Planeta Vermelho” transcorre pela aresta da pedra da esquerda (primeiro plano).

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Face da via “Planeta Vermelho. A via começa na direita da pedra e segue sempre em diagonal à esquerda até o “cume”.

Como a face da pedra fica na sombra pela manhã conseguimos escalar com certo conforto. Além disso, por sorte, ventou bem nesse dia, o que ajudou a deixar a escalada bem agradável. Nem parecia verão… Mas sabíamos que o sol estava à caminho, então resolvemos escalar em modo non-stop até o cume.

Às dez horas da manhã batemos no cume da pedra, antes do sol chegar na via. E ali ficamos esperando a segunda cordada, pois escalamos com apenas um corda (para subir mais leve) e dependíamos da segunda corda para os rapeis.

Por volta das 13h, já com sol fritando a chapa, a segunda cordada bateu no cume. Jogamos uma conversa fora, assinamos o livro e tratamos de descer logo dali.

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Dudu na oitava e última enfiada da via! Sentiram o sol?

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Assinando calmamente o livro de cume enquanto esperávamos a outra acordada. Acho que precisamos fazer caligrafia…

Rapelar oito enfiadas às 13h não foi nada legal… Ainda mais em cinco pessoas com apenas 2 cordas. Para piorar, no terceiro rapel, ao jogar a corda, ela acabou caindo em cima de uma colmeia. Sem saber disso, fui descendo na frente e de repente eu estava totalmente envolvido pelas abelhas. De início achei que fosse um mato que tinha caído e que aquilo eram pedaços de folha voando. Depois vi que as folhas faziam barulho. Levei uns 5 segundo para ver que aquilo eram abelhas! Subi pela corda fixa como um foguete até sair da nuvem e ali fiquei. Na hora, lembrei da história do Davi Marski. Em todos esses 9 anos de escalada tradicional no ES, essa foi a primeira vez que eu vi abelhas na parede. Talvez por isso levei muito tempo para entender que aquilo não eram folhas, mas sim abelhas.

Esperamos as abelhas se acalmarem e seguimos a descida sem maiores problemas. E às 15h estávamos todos reunidos num bar em Estrela do Norte contando vantagem enquanto nos hidratávamos!

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Hora de descer! Rapelar a uma hora da tarde não foi uma boa ideia…

Valeu demais galera! Sempre é muito bom juntar esse quinteto imprestável. A gente sofre, mas se diverte!

Sobre a via, recomendo demais a todos os escaladores! É uma linha muito agradável e bem protegida. Boa pedida para quem está começando a encarar parede e busca vias de boa qualidade. Parabéns aos conquistadores!

Dicas para repetição da via:

Além das dicas do DuNada que você encontra no blog, aqui vão as minhas dicas:

  • No verão, a parede fica na sombra pela manhã, com o sol chegando por volta das 10h30;
  • A aproximação é muito tranquila, menos de um minuto de caminhada pelo cafezal;
  • Embora o grau original da via seja 5o geral com crux de Vo, nós concluímos que a via deve ser um 4o com IVo;
  • O crux da via está na 4a e/ou 5a enfiada, num lance obrigatório em aderência;
  • O tempo médio para repetição é entre 2h e 4h, a depender do ritmo;
  • Há uma colmeia à esquerda da P5, uns 10m, num pequeno platô. Se não fizer barulho ou jogar a corda neles, tudo tranquilo;
  • Atenção ao rapelar da P5 com duas cordas de 60m! O rapel é na medida!

Croqui

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À caminho de casa, paradinha obrigatória para apreciar uma das vistas mais incríveis do Espírito Santo, o complexo granítico de Forno Grande.

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