Aconteceu no último final de semana (24-25/09) a 10a edição do Encontro Capixaba de Escalada organizado pela Associação Capixaba de Escalada (ACE). Este ano, o evento aconteceu no distrito de Praça Oito em Itarana, distante a 110km capital Vitória.
O evento contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas que se reuniram no Pesque Pague Praça Oito, local sede do evento. Este ano, o encontro deve presença massiva dos escaladores da Grande Vitória e também dos escaladores do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Com a bênção do São Pedro, no sábado, os participantes foram agraciados por um belo dia de inverno. Frio, vento e tempo nublado foram os ingredientes perfeitos para escalar um das 14 vias tradicionais que a região tem a oferecer.
À noite, o evento auge foi a palestra da escaladora Kika Bradford, atual presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) que contou um pouco sobre suas escaladas e nos apresentou o panorama atual da Confederação.
Além disso, tivemos o tradicional sorteio dos brindes, bolo de aniversário, bingo e uma retrospectiva dos últimos dez encontros, que ficou a cargo do Zé Márcio.
Já o domingo, ao contrário do sábado, o dia amanheceu nublado e chuvoso. Se alguém estava na dúvida se iria escalar ou não, o São Pedro deu aquela ajudinha presenteando a galera com uma chuva leve sob a barraca. Assim, o café da manhã foi mais preguiçoso e sem pressa, perfeito para deixar a conversa em dia entre os participantes.
Assim que a chuva cessou, foi a hora de desmontar as barracas e voltar devagarzinho a Vitória para fechar o final de semana com chave de ouro.
Da minha parte, o evento foi muito proveitoso e divertido. Dizer que foi cansativo seria redundância… Sai de Vitória ainda na 6a feira com o Gillan para pegar o “pré-evento”. Após um transito clássico de 6a feira à noite, chegamos no Pesque Pague por volta das 20h, após quase 3h de viagem (normalmente leva 1h30).
Após um pequeno lanche rápido fomos fazer uma escalada noturna para “abrir o sono”. Escolhemos a via “Par ou Ímpar” que fica bem pertinho do acampamento (15 min. de caminhada). Para ganhar tempo resolvemos escalar a via à francesa, uma vez que ela era para ser “fácil”. Mas logo na saída me lembrei que uma via pode ter várias facetas a depender das condições do tempo. Uma coisa é fazer a via durante o dia, outra coisa é a noite. E se a noite for de breu total, a coisa fica mais complicada ainda.
Peguei o “sharp end” e fui tocando à luz do headlamp enquanto o Gillan ia cantando o caminho dos grampos. Achar 16 grampos em 260m não foi fácil. E mais difícil ainda foi achar a linha da via, mas com um pouco faro conseguimos fechar a via em aproximadamente 40min de escalada.
Fazia muito tempo que não fazia uma escalada noturna. Na verdade, não consigo nem lembrar quando foi a última vez, mas a escalada foi muito bacana para relembrar a época da adolescência em Ivoti, quando a gente fazia muito isso.
No sábado, compartilhei a ponta da corda com o Eric e a via escolhida foi a clássica “Eu sou a lenda”, uma via mista de aproximadamente 235m. Sou um pouco suspeito para falar dessa via, mas para mim ela é uma das melhores vias da região. Uma aproximação bacana de uns 50min, morro acima, escalada tranquila em agarra com uso constante de equipamento móvel e “escape” traquilo. Ou seja, uma escalada de desfrute total sem nenhum perregue.
Fechamos a via em menos de 2h e ao meio-dia já estávamos de volta no Pesque Pague para um almoço mais do que merecido. Como acabamos cedo a primeira escalada, à tarde resolvemos pegar mais uma via “sussa”, a via “Ascendência Térmica“, outra clássica da região.
Essa via fica aos pés da rampa de voo José Bridi, por isso, a escalada acaba bem na rampa de voo. Além disso, a escalada é puro desfrute, com direito a uma fendona de 60m na 2a enfiada.
Entramos na via por volta das 16h com o Eric assumindo a fenda clássica. Depois fui tocando as enfiadas de agarrência enquanto íamos curtindo o pôr-do-sol meio falhado. Infelizmente, não conseguimos fechar a escalada dentro do tempo estimado e a noite nos pegou na última enfiada. Então o jeito foi puxar a headlamp da mochila e fazer o trecho final à luz de lanterna. Chegamos no cume por volta das 18h30 e o bar que fica junto à rampa estava fechado e não pudemos comemorar a escalada com uma ceva gelada como de costume. Se por um lado tivemos azar na bebida, tivemos muita sorte no resgate! Fomos resgatados pelas “Capivaras Outdoors” que nos pouparam 3km de caminhada morro abaixo até o carro.
O domingo amanheceu estranho, nuvens baixas anunciavam a virada do tempo e não demorou muito para que começasse a garoar de leve, mas como sabia que essa chuva seria uma “chuva fake”, fiquei na expectativa. Nesse ínterim, o Amaral me convidou para escalar a via “Parafuso a menos” na Pedra Linda. O Amaral é um daqueles caras que não nega perrengue, adora uma escalada bruta. A última vez que fiz uma parede com ele foi nos Três Pontões de Afonso Cláudio onde ele mandou com muita maestria uma chaminé exposta para acessar o cume do Tubarão.
Assim que a chuva parou por volta das 8h da manhã deixamos a pedra secar mais um pouco e as 11h partimos para base da via. Uma das coisas que eu não gostava dessa via era a aproximação. O trauma da caminhada pelo pasto ficou na minha memória, pois foi bem sofrida, ainda mais com o haulbag carregado de material de conquista. Mas por sorte, dessa vez, achamos um beta novo e conseguimos acessar o pasto por um outro caminho, e graças a redução do jipinho conseguimos subir o pasto de carro até a base da mata. Isso nos livrou dos carrapatos que estão onipresentes em quase todos os acessos da região nessa época do ano. Além disso, a caminhada que antes era de 40 minutos virou uma caminhadinha de 10 minutos.
Chegamos amarradão na base da via por ter poupado um belo de um sofrimento. Entramos na via por volta do meio-dia e após 3h de escalada finalmente batemos no cume da montanha, realizando a 1a repetição da via após 3 anos à conquista. Para mim, voltar a essa montanha foi muito gratificante, pois na conquista chegamos à noite e não conseguimos curtir o cume com calma. Além disso, queria muito poder escalar a via, já que na conquista não pude escalar direito. Eu sempre digo que “conquistar” não é “escalar”, por isso, para mim, a relação com uma via não acaba após a conquista, mas sim, somente após escala-la.
Às 16h30 já estávamos de volta ao QG central para bater um prato de pedreiro, um banho merecido e um cochilo para encarar a estrada de volta a Vitória.
O encontro desse ano não foi um sucesso de público, mas isso não é um problema, até porque a montanha não é um lugar para isso. Tivemos uma presença honesta de escaladores comprometidos que puderam desfrutar bons momentos de integração em contato com a natureza. E com certeza, isso foi o mais importante!
Gostaria de agradecer à família Bridi, por nos receber com carinho e profissionalismo de sempre. Com certeza todos nós nos sentimos em casa e em breve estaremos de volta para escalar mais um pouco e beliscar uma isca de lambari!