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Conquista na Pedra do Camelo

Em 2018, quando estive em Pancas escalando em solitária, vislumbrei uma possível linha na face leste da Pedra do Camelo, passando por um sistema de fendas que levasse ao contraforte da pedra. Na época, pensei que já tivesse algum projeto iniciado por lá, já a que linha era bem óbvia e estava à vista de todos, mas após uma consulta rápida ao Fabinho, dono do Camping Cantinho do Céu, descobri que ninguém andou por lá “batendo grampo na base”.

O tempo passou e sempre que passava lá ficava namorando a linha, até que no último domingo, Eric e eu finalmente demos uma conferida na pedra.

O primeiro crux dessa via foi a caminhada, que também deve ser sido um dos motivos pelas quais a linha ficou intocada por tanto tempo. Conversando novamente com o Fabinho, ele me deu duas alternativas para chegar à base: pelo asfalto, cruzando o Rio Pancas e subindo a mata, semelhante aos Tchecos que acessaram uma parede ali perto; ou ir costeando o Morro do Camelo por trás até a base. Acabamos optando pela segunda alternativa pelo fato de a caminhada ser “na mesma cota”, embora o GPS tenha mostrando um ganho de 100m, mas ainda assim era bem menos do que vir do asfalto.

Preparando o material.

No fim, a caminhada foi de apenas 25 minutos por uma agradável mata original preservada.

De longe, já estava claro que o início da via seria por uma fenda larga com um trecho em chaminé estreita, mas quando chegamos mais perto, na parte que ficava escondida pelas árvores, vimos que a fenda era uma chaminé média! É claro que toda memória da Chaminé Brasília veio à tona! Mas dessa eu tinha uma vantagem! Eu estava na ponta da corda, tinha uma furadeira e poderia colocar chapa onde quisesse. Se aquela chaminé fosse na “Chaminé Brasília”, teria provavelmente um ou dois grampos no máximo! Coloquei quatro! E ainda não ficou bem protegida. Só para terem noção de como os escaladores das antigas eram “three balls”!

Iniciando a escalada.
Limpando a 1a enfiada.

A primeira enfiada foi toda em chaminé e ficou com uns 40m. Estabeleci a parada num platô de bloco empilhando e chamei o Eric.
Quando visto de longe, apelidamos esse ponto de “Y”, porque a fenda formava uma bifurcação, onde tínhamos duas opções: seguir pelo sistema principal ou sair à esquerda e ganhar um grande platô.

O Eric acabou optando pela saída da esquerda e após um lance em artificial móvel, dominou o platô e montou a P2 numa grande árvore. Logo descobrimos que o platô era habitado por mais gente, um urubu fez um ninho atrás de um grande bloco. Achei aquilo muito legal porque nunca vi ovo de urubu. Logo, batizamos o platô de “Platô do Urubu”.

Eric no início da 2a enfiada.
Chaminé da 2a enfiada.

Assim que o Eric chegou nesse platô ele gritou:

– Japonês seu rabudo! Te deixei na cara do gol! Vai conquistar a melhor fenda da tua vida!

De longe eu já sabia que por ali passava uma fenda frontal, o que ainda não sabia era a qualidade da fenda, mas pelos gritos de empolgação do Eric parecia que tinha achado a “Serenity Crack” de Pancas!

Quando cheguei ao platô fedido com o haulbag nas costas e vi para fenda, não fiquei tão animado quanto Eric porque a fenda parecia bem dura e vertical, principalmente num trecho de travessia à esquerda.

Juntei algumas peças que achei importante e fui tocando. De fato, a qualidade da rocha era ímpar até chegar no crux da travessia. Acredito que o boulder da travessia deve ser um V4 protegido num Camalot #.4 colocado estrategicamente num buraco. O lance exige uma buscada longe numa fenda invertida seguido de um flag “de ver estrelas” para juntar as mãos e seguir por uma fenda de #.75 até ganhar num platô onde, num erro de leitura, acabei caindo num #.75 que coloquei precariamente, mas que segurou a queda.
A P3 acabou ficando nesse platô porque à frente, a fenda seguia em diagonal à direita, exigindo reposição de peças pequenas para dar continuidade à conquista.

Eric no trecho do #.75.

Novamente o Eric assumiu a ponta da corda e iniciou a conquista. A partir desse ponto, a fissura começou a perder qualidade e as colocações começaram a ficar bem precárias. O Eric precisou suar muito a camisa para ganhar cada lance de artificial e ir progredindo gradualmente.

No fim, essa enfiada ficou com 20m e colocamos 4 chapeletas mais a parada, dessa forma a enfiada ficou “menos ruim” para passar em livre. Mesmo com o horário avançado, entrei de segundo para liberar a enfiada e ainda colocamos uma chapa extra, a quarta, num lance que consideramos muito exposto devido à qualidade das proteções.

A P4 ficou no cume de uma pequena agulha que se forma no meio de outros cumes. A nossa ideia era ir para esquerda buscar uma grande oposição que nos levaria ao cume da Pedra do Camelo, mas já vimos que essa travessia não será muito banal.

Linha da via.

Por hora, resolvemos apenas comemorar esse cume surpresa e descer para esfriar um pouco a cabeça e reestabelecer uma nova estratégia para passar aquele trecho.

Cume falso!

A volta na mata, a luz de lanterna, não foi fácil. Mesmo deixando a trilha marcada e gravada em GPS, tivemos que nos concentrar para ir achando os rastros e sair no ponto exato onde deixamos o carro. No fim acabamos conseguindo sair sem grandes problemas e por volta das 19h, após 12h de trabalho, estávamos no camping do Fabinho para uma seção de hidratação.

Entardecer em Pancas.

Comentários

4 respostas em “Conquista na Pedra do Camelo”

Buenissima japa!
Caramba, que sofrimento aquela quarta enfiada, as piores proteções que coloquei na vida!
Porque não conseguimos encontrar uma fenda regular? Kkk
O diedrao te aguarda! Hahaha

Eu não achei… Fui com a corda de cima e tudo tranquilo para mim, hahahaahahhahaha! Bora voltar!

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