Em uma escalada guiada, há três opções de corda: corda simples, a mais difundida e conhecida de todos; corda dupla, muito utilizada em tradicionais na Inglaterra e nos Alpes; e corda gêmea, utilizada normalmente em gelo.
A corda dupla, tema esse post, consiste em utilizar duas cordas de diâmetro inferior, em vez de uma corda simples, onde o guia escala usando ambas cordas, passando a corda alternadamente nas proteções.
A principal vantagem desse sistema é a capacidade de diminuir o atrito da corda em enfiadas longas. Imaginem uma enfiada de 60m com proteções em zigue-zague. Quando você estivar quase chegando no final da via, com certeza o arrasto será tão grande que terá dificuldade para continuar a escalada, mesmo usando fitas longas para tentar diminuir o arrasto. Na corda dupla, esse problema é minimizado para não dizer, por vezes, eliminado, pois o fato de você ir costurando alternadamente diminui o ângulo da corda entre as proteções.
Caio Afeto limpando uma enfiada em zigue-zague com um crux de 8a no final. Tudo tranquilo com corda dupla!
Normalmente quando uso corda dupla, nem me preocupo em usar fitas longas para diminuir o atrito. Posso ir escalando com costuras simples sem me preocupar em gerenciar o atrito. A minha única preocupação é ir costurando alternadamente. O único problema é que, às vezes, esqueço qual corda passar na próxima proteção… Coisas da idade…
Outra vantagem da corda dupla em relação à simples é a capacidade de dividir a carga em uma eventual queda entre as proteções. Isso é muito útil quando se está escalando em móvel com colocações marginais. Por isso é muito apreciado pelos escaladores de via tradicional na Inglaterra (hard grid). Mas posso garantir, por experiência própria, que a sensação de cair em uma corda de 8.6 mm não é nada legal. Parece que aquele barbante colorido não vai aguentar a queda. Sem contar que a elasticidade dessas cordas finas é bem maior que uma simples.
E as vantagens não acabam por ai! Com uma corda dupla, aquela costurada tensa onde cair puxando corda pode ser perigosa é totalmente eliminada, pois enquanto puxa uma das cordas para passar na proteção chave, a outra corda fica tencionada, sem folga, na proteção de baixo.
Além do guia, os escaladores que seguem uma “cordada em três”, também se beneficiam com a corda dupla, pois por norma o segundo e o terceiro escalador podem subir simultaneamente em cada corda com a corda de cima (cordada em A). Isso dá muito ganho de tempo em vias longas, pois assim que o guia chega na parada os outros dois podem escalar praticamente em simultâneo.
DuNada e Pedro Pires em uma cordada em A.
A corda dupla também é muito útil na hora do rapel. Em vias longas onde é preciso descer rapelando, é comum ter que levar uma segunda corda para poder descer, carregando assim um peso extra. Na corda dupla, não há esse problema, pois você já sobe com duas cordas, e o melhor, mais leve.
Ok, mas nem tudo são só flores no mundo da escalada em corda dupla. Há alguns pontos negativos que precisam ser colocados na balança antes de partir para esse tipo de escalada.
O primeiro ponto negativo está no bolso. Como são duas cordas, o preço da corda aumenta substancialmente. Você precisa comprar “duas” cordas de uma só vez. Além disso, por ser uma corda mais fina, tende a não aguentar muito, principalmente se a corda tomar muitas quedas, diminuindo assim a vida útil.
Há um outro ponto que não chega a ser negativo, mas quando se escala com corda dupla, não tem como dar segurança de Gri-gri, só com placa. Além disso, no início vai ter um pouco de dificuldade para gerenciar o trabalho de corda. Por isso, é altamente recomendável dar uma treinada em terreno fácil antes de se meter em uma escalada mais comprometedora. Falando em gerenciar, um outro problema é ter que gerencial o dobro de corda numa parada. Se você não tiver cuidado, corre o risco de fazer um bolo de corda na parada e passar um pouco de raiva. Por isso, o segredo para esse tipo de escalada está na organização!
Um bom gerenciamento de corda é o segredo para o sucesso. Neste caso, um exemplo de como não fazer…
Uma dica final importante é se você começar uma enfiada costurando alternadamente, tem que continuar alternando sempre, nuca no meio da escalada volte a clipar as duas cordas num mesmo mosquetão. Quando o medo pega, dá vontade de fazer isso. Se tiver que fazer isso, use duas costuras numa mesma proteção. Isso porque em caso de queda, as cordas vão correr independentemente no mesmo mosquetão e poderá queimar a corda.
Para saber mais sobre corda dupla, visite:
http://www.ukclimbing.com/articles/page.php?id=2737
http://bealplanet.com/sport/anglais/typecorde.php
2 respostas em “Corda dupla, uma dupla perfeita”
[…] Corda dupla, uma dupla perfeita – 237 […]
Muito bom o texto, muito explicativo, me foi muito útil! Obrigado Naoki .