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Maratona de Páscoa

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A foto que esperei um ano e meio para fazer! Nascer do sol no cume da Pedra São Cristóvão (Castelo) com o Pico do Forno Grande (2039m) ao lado.

Por aqui, o feriadão de Páscoa foi uma grande maratona de escalada pelo interior do Espírito Santo. A largada foi dada na sexta-feira, às 5h da madrugada em Vitória! Partimos eu e o Afeto rumo a Castelo (150km) para buscar os retardados, ou melhor, os retardatários, DuNada, Taffarel (vai que é suuuuaaaa) e Eduardo.

Após uma pequena pausa na padoca decidimos, assim “du Nada”, que iríamos para o Vale da Lembrança para conquistar duas vias tradicionais. Estivemos naquela região em 2013, quando repetimos a normal da Agulha Juliana com o Zé, DuNada e Taffarel. Na ocasião, enquanto escalávamos a via, com o canto do olho fiquei de olho em uma grande fenda contínua no outro lado do vale, ao lado de uma bela queda d´água, que parecia ser bem promissora.

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Pedra sem nome no Vale da Lembrança, Castelo. A via, batizada de “Rumo à Nascente”, transcorre pela fenda da esquerda que vai em direção ao topo da cachoeira.

O tempo passou e nunca mais voltamos lá, mas agora tinha chegado a hora. Chegando lá, nos dividimos em dois grupos, eu e o Afeto partimos para a conquista da fenda, enquanto que o trio foi para um costão no outro lado da cachoeira.

A fenda parecia bem tranquila, chutamos uns 120m de via e entramos bem leve na via. Só de desencargo levamos 1L d´água para nós dois… Vai que dá sede… A fenda fluiu muito bem, mesmo com a chuva que caiu pela madrugada que deixou alguns trechos um pouco úmido.

Estiquei 40m até a P1 em móvel, depois o Afeto tocou mais 40m até a P2 e assim fomos até a P4. completando uns 160m de via até a fenda sumir de vez. Olhamos para cima e vimos que tínhamos um bom trecho até o “cume”. Olhamos para o nosso rack e vimos que tínhamos apenas 3 chapas que seriam essenciais para a descida, ou seja, teríamos que tocar o resto sem bater nenhuma proteção fixa. Fizemos aquela reunião básica e chegamos a bela conclusão de que deveríamos tocar para cima! Toquei mais 30m num misto de aderência com trepa-mato, depois o Afeto mandou mais 30m em aderência e assim fomos revezando mais uns 60m em um terreno relativamente fácil até batermos no “cume” da pedra, bem ao lado da cachoeira, totalizando aproximadamente 280m de via. Erramos só por 160m…

Para a nossa sorte, mesmo com a seca, a cachoeira tinha uma filete de água. Aproveitamos para recarregar a garrafinha (1L de água para 280m foi pouco né?) e tratamos descer logo da montanha antes do anoitecer, afinal de conta, tínhamos 3 chapas para descer 280m…

A descida foi bem tranquila e conseguimos chegar na base antes do anoitecer.

Já o trio acabou desistindo da conquista porque a pedra estava úmida (????) e acabaram conquistando várias vias esportivas em uma das centenas de blocos que estão espalhados no vale.

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Afeto no início da 2a enfiada. Na verdade, a fenda não beeem uma fenda, mas sim uma calha estreita.

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Vale da Lembrança, com o Cristo Redentor (????).


 

Croqui

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1a enfiada – 40m – Enfiada bem tranquila toda em móvel. Um bom lugar para montar a parada fica logo depois de uma bromélia, um pouco antes do 1o teto, onde cabem alguns Camalots #3.

2a enfiada – 40m – A linha segue pela fenda passando pelo tetinho até esticar mais uns 40m até chegar uma parte mais inclinada da parede. A parada é em móvel e cabem alguns Camalots #2 (tricky).

3a enfiada – 40m – A enfiada começa num lance mais vertical (4o) – crux – e depois toca um esticão onde não é possível de proteger (fenda cega) até encontrar a 1a chapeleta da via. Há uma sequência de 3 chapas até chegar na base do 2o teto e a parada fixa fica depois dessa virada.

4a enfiada – 30m – Segue pela fenda até a fenda sumir e depois segue em aderência até o 3o teto, onde fica a parada fixa.

5a enfiada – 30m – Segue em travessia em direção à 2a linha de vegetação que sobe por um diedro. O ideal é fazer uma parada dentro desse diedro em algumas árvores para diminuir o atrito.

6a enfiada – 30m – Segue pelo diedro até o final. Nesse trecho é possível de ir pela aresta, evitando a vegetação. A parada fica no final do diedro em um 2 árvores pequenas.

7a enfiada – 30m – Esticão fácil em costão até uma árvore visível que fica acima à esquerda. Parada natural.

8a enfiada – Enfiada em travessia à direita indo em direção ao topo da cachoeira. Parada natural em árvore.

Descida – Da P8 até a P6 (65m); P6 até a P4; P4 – P3 em um rapel mais curto (40m); P3 até uma parada fora da via (60m); Depois mais um rapel de 60m até uma chapa simples e mais 40m até a base.

Equipos para repetição – 2 cordas de 60m; 2 jogos de Camalot (#.3 até #3), um jogo de nut (muito útil), 4 costuras, fitas longas e fita para abandono (2).

Importante: A via é tecnicamente fácil, mas as proteções são, por vezes, manhosas porque a fenda é em offset em vários trechos. Em outros trechos há muita pedra solta. Tentamos eliminar os mais perigosos, mas ainda assim requer atenção.


Já no dia seguinte, após uma boa noite de sono na altitude de Apeninos, começamos o dia fazendo um pequeno aquecimento na falésia de Apeninos para passar o tempo. Por volta do meio-dia, toda a trupe de reuniu novamente para o objetivo do dia: fazer a FFA da Batata Quente e bivacar no cume.

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Pedra São Cristóvão e o Forno Grande ao fundo visto de Apeninos.

Chegamos na base da via por volta das 14h após uma aproximação, digamos, no mínimo puxada… Eu e o Afeto entramos na via bem leves revezando as enfiadas enquanto o DuNada, Taffarel e Dudu ficaram com o trabalho pesado de içar o haulbag com todas as tralhas para o bivaque.

Conseguimos escalar a via em 2h30 liberando todas as enfiadas em uma única puxada. Chegamos no cume por volta das 17h para curtir o pôr do sol que não aconteceu e ficamos olhando para o céu receosos com as nuvens pesadas que pairavam sob a nossa cabeça.

Por sorte, a chuva se resumiu a uma meia dúzia de respingos e depois fomos abençoados pela lua cheia que iluminou toda a região.

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Afeto no crux da saída da 3a enfiada, ao fundo as nuvens negras.

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Na travessia da 4a enfiada! Foto: Afeto!

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No cume!

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Esperando o pôr-do-sol que não rolou…

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Janta a luz da lua. Difícil foi dormir com essa claridade!

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Pedra Pontuda iluminada pela luz da lua. Detalhe para a sombra.

No domingo, acordamos um pouco antes do sol nascer para curtir o nascer do sol. Esse projeto estava nos meus planos desde o dia que abrimos a via em setembro de 2013. Desde então sempre sonhei em bivacar no cume para poder curtir o sol nascer. E de fato a natureza não nos decepcionou e nos presenteou com um belo espetáculo!

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Amanhecer no cume da pedra com o Forno Grande.

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A hora mágica! Quando o frio vai embora e chega o calor!

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Amanhecer nas montanhas capixabas.

Por volta das 8h descemos da montanha para seguir com a maratona de Páscoa e fomos novamente para o Apeninos, dessa vez com o objetivo de fazer o FFA do Frontal do Tótem de Apeninos que tínhamos abertos no ano passado. Para a nossa sorte, os astros estavam a nosso favor e conseguimos liberar todas as cinco enfiadas da via em single push em pouco mais de 3h de escalada.

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Rapelando às 8h da madrugada…

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Ainda bem que a trilha era bem aberta e o carro estava logo ali, depois do mato…

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Dando uma respirada na Frontal do Totem de Apeninos após liberar a enfiada crux da via! Agora é só alegria até o cume! Foto: Afeto.

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Descemos sob um sol escaldante e um abafadão sinistro para a reta final da maratona de Páscoa, a via “Mimosa do 52” em Marechal Floriano. Jogamos tudo dentro do carro, rodamos 100km enquanto descansávamos um pouco até chegarmos na via.

Essa via foi conquista em 2010 pelos escaladores, Zé Márcio, Sandro e Karapeba e consiste em um grande diedro em diagonal de aproximadamente 30m toda em móvel. Em 2011, tentei liberar a enfiada sem sucesso e agora estávamos de volta para tentar liberar a via mais uma vez.

Infelizmente, ainda não foi dessa vez, a via estava muito suja e acabamos esbarrando (ou escorregando) no limo. Talvez uma boa faxina e um pouco de sol fosse uma boa para deixar a via um brinco!

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Curtindo o pôr do sol da parada da Mimosa do 52 e vendo o engarrafamento se formando… Três horas para rodar 50km…

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Equipos para repetição – 2 jogos de Camalot´s do #.3 até o #3 e mais um Camalot #5.

E assim, após um espanco final fechamos maratona de Páscoa totalizando quase 700m de escalada em 20 enfiadas, divididas em 3 dias de muita escalada!

Agradecimentos ao Afeto que por dividir as cordadas, ao DuNada, Taffarel e Eduardo pelo incrível bivaque no cume do São Cristóvão!

Comentários

Uma resposta em “Maratona de Páscoa”

Foram dias de muitas escaladas incríveis, só tenho a agradecer por mais essa trip JAPA, Eduardo, Dunada e Taffarel…Sempre muito bom está ao lado de vocês nas montanhas agora partiu “CHURIPAN” 🙂

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