^ Face norte da Pedra Paulista em Itaguaçu.
Em junho de 2014, DuNada, Graveto e eu fizemos a repetição da via “Nada é o que parece ser” na Pedra Paulista em Itaguaçu. Naquela ocasião, durante a descida, vislumbrei algo que lembrava um grande totem na face norte da pedra, mas como já estava escuro não consegui ver direito se de fato era um totem ou apenas uma imaginação da minha mente cansada.
Guardei aquilo na cabeça e deixei lá por alguns anos. Afinal de contas, eu não tinha certeza do totem e também sabia que a face norte era uma face vertical com mais de 600m de extensão, ou seja, seria roubada na certa.
Na semana passada, a minha mente devaneou por aqueles lados e fez ressurgir a visão do totem. Tentei em vão buscar alguma foto que pudesse sugerir algo mais claro na internet. Então, só havia uma possibilidade para elucidar o mistério: ir lá! E para um programa de índio daquele porte, sabia que só o Cosme aceitaria.
Convidar o Cosme é fácil, basta falar que tem escalada e ele topa, nem pergunta os detalhes. Ele só pergunta onde e que horas. Ao longo da semana, ainda convidei o Eric para entrar na barca, parecia que ele estava procurando sarna para se coçar.
Assim, no domingo cedo rumamos para face norte da Pedra Paulista de Itaguaçu por uma estrada alternativa que eu tinha visto no mapa. De fato, por essa rota o caminho fica uns 20km mais curto e evita uma serra muito chata entre Santa Teresa – Itarana – Itaguaçu.
Pegamos o Cosme no caminho, em Santo Antônio de Canaã, e às 8h da manhã (saímos de Vitória às 5h) estávamos estacionando o carro no início da aproximação.
Com a luz do dia, finalmente consegui ver melhor o tal totem que tinha vista a dois anos atrás e ficou claro que aquele vulto era na verdade um “semi-totem suspenso”. Talvez se eu voltasse lá daqui a uns dez mil anos aquilo viraria um belo de um totem.
De longe ficou claro que a face do totem poderia ser dividida em três partes. Uma seção basal de uns 200m até atingir o totem que fica no meio da parede; Mais uns 200m de totem e mais uns 300m de terreno fácil (?) até chegar no cume da montanha, totalizando uns 700m de escalada, ou não.
Traçamos um estratégia, não muito detalhada, e fomos em direção à base da montanha.
Ao contrário das escaladas anteriores, essa aproximação foi muito de boa, caminhada curta por uma drenagem seca e em menos de 10 minutos já estávamos na base da face norte.
Quase que por um capricho da natureza, encontramos uma única saída perfeita que apontava para o base do semi-totem que estava lá na “casa do chapéu”. E o mais incrível de tudo, com fendas em uma parede vertical.
Comecei os trabalhos entalando as mão e protegendo em móvel até eu entrar dentro do entalamento. Quando a fenda virou uma chaminé, bati mais 2 chapas e depois sai pela face da pedra até fechar a primeira enfiada com uns 55m de extensão.
Como a primeira enfiada acabou saindo um pouco de plumo, começamos a segunda enfiada em diagonal à esquerda para tentar buscar novamente a base do grande semi-totem. O Cosme assumiu a ponta da corda e foi tocando até acabar a bateria (dele) após conquistar uns 30m de agarrência bastante trabalhosa. O Eric assumiu a ponta e seguiu a conquista, desta vez em travessia à esquerda, lutando contra as agarras minúsculas e o trauma de ter decolado durante a última conquista na Parede dos Sonhos em Itarana.
Quase no final da travessia, o Eric encontrou o Elvis e teve que descer para parar de dançar. Restou a mim terminar a 2a enfiada, mas ai foi fácil porque o pior já tinha passado.
Cosme conquistando a 2a enfiada.
Quando chegamos na P2, o tempo começou a virar e o céu azul começou a alternar com algumas nuvens escuras. Achamos isso bom porque o sol estava castigando o nosso melão.
Mais uma vez, o Cosme começou os trabalhos conquistando a terceira enfiada. Dessa vez estávamos bem alinhados com a base do totem e se tudo desse certo, na próxima enfiada chegaríamos no semi-totem. Mas nem tudo deu certo… No meio da conquista, o céu azul deu lugar às nuvens negras e logo em seguida começamos a ver cortinas de chuva em nossa volta. Seguimos a conquista na esperança de sair ileso, mas infelizmente quando Cosme montou a P3, a chuva nos pegou e tivemos que bater em retirada da pedra.
A chuva em si não foi forte, mas o suficiente para deixar a parede molhada e reativar as canaletas d´água. Assim que descemos, a chuva cessou e deu lugar a um belo espetáculo das nuvens, mas para nós a brincadeira já tinha acabado e só nos restou pegar a estrada de volta a Vitória.
Conquistamos três enfiadas, sendo duas bem duras, não chegamos na base do semi-totem e quando vimos de longe o que tínhamos escalado e o que ainda estava faltando, caímos na real de onde estávamos nos metendo… Mas a nossa empolgação era maior do que a montanha e saímos de lá amarradões, fazendo mil e um planos para voltar lá e continuar a conquista.
Sobre o nome da via, batizamos de “Despedida de Solteiro”, sugestão do Eric! Nome sugestivo que, com certeza, vai render boas confusões em casa do tipo:
– Amor, onde você vai amanhã?
– Vou na Despedida de Solteiro com o Eric!
-Como assim?
Croqui
Lembrando que essa via está sendo conquistada com chapa e bolt inox, utilizando o material de conquista da Associação Capixaba de Escalada que subsidia e incentiva esse tipo de trabalho.
Boa semana à todos!
2 respostas em “Despedida de Solteiro na Pedra Paulista”
[…] na P3 por volta das 14h. Essa enfiada foi conquistada pelo Cosme na primeira investida até a chuva nos expulsar da parede. Por isso, a parada ficou num lugar muito desconfortável, […]
Muito shooow!! Vai ser uma via maneiríssima! Olhando pro semi-totem parece ter até arvore ali, é isso mesmo? Vou treinar aqui no totem da Santa, em Macaé para poder repetir ai quando a via estiver pronta!Vcs vão precisar se apressar em continuar a conquista para fazer valer o nome!!Só escalador mesmo pra festejar assim! hehehe Sucesso ai!